Os estudantes que saíram na sexta-feira da escola EMEF Maria de Fátima Faria Área, localizada no Jardim das Bandeiras, em Campinas, e retornaram na segunda-feira (17) para a rotina das aulas, se surpreenderam com o colorido das paredes e as pinturas que simbolizam a essência da escola.
No último sábado (15), 150 voluntários, a maioria adolescentes e jovens, incluindo alunos da escola, se mobilizaram para participar de mais um Oásis Educar, promovido por jovens da Academia Educar.
“Nossa segunda-feira começou bem diferente. As cores fortes da pintura encantaram os olhares das crianças e despertaram grande surpresa e alegria em todos. Alguns queriam passar a mão para sentir de perto a mudança; outros, mesmo ainda não tendo leitura fluente para letra cursiva, tentavam ler a palavra ‘GENTILEZA’ que agora está estampada na parede. Os funcionários e professores também se encantaram e elogiaram muito o trabalho. Nos sentimos privilegiados por receber o Oásis Educar. Foram muitas mãos voluntárias que ajudaram a promover um ambiente mais colorido, alegre e significativo para todos que fazem parte desse espaço,” conta Luciana Castelli, orientadora pedagógica da escola.
O que mudou na EMEF Maria de Fátima Faria Área?
A escola, construída há 44 anos por meio de um mutirão comunitário, se chamava General Humberto de Souza Mello. Recentemente, teve seu nome alterado para EMEF Maria de Fátima Faria Area, em homenagem a uma professora que lecionou no local e faleceu durante a pandemia de Covid-19.
Antes de iniciar a transformação, os jovens da Academia Educar ouviram os estudantes por um mês para saber quais eram seus sonhos para a escola. Com a mudança do nome, foi criado um logo simbolizando o novo momento, desenhado a partir da perspectiva dos alunos e agora estampado no pátio para todos.
O logo da EMEF Maria de Fátima Faria Área inclui o desenho de um abacateiro, a única árvore presente na escola desde sua construção. Livros foram ilustrados para simbolizar o poder transformador da educação. Como o vôlei é uma atividade muito presente na instituição, que frequentemente conquista troféus, uma bola de vôlei também foi escolhida como símbolo. Além disso, a palavra “gentileza” foi escrita em uma das paredes, ocupando quase toda a superfície, refletindo um valor essencial promovido entre todos os alunos e a comunidade escolar.
“A escola passou a ter um novo significado. Percebemos que podemos sempre melhorar o espaço onde vivemos e convivemos. Ver tudo isso acontecendo é a realização de um sonho que se concretizou e nos dá coragem para sonhar além. Vamos levar essa experiência para a vida”, afirmou Heitor Gabriel Calixto de Jesus, 14 anos, aluno da EMEF Maria de Fátima Faria Area e participante da Academia Educar.
A gestora da Fundação Educar, Cristiane Stefanelli, também destaca a importância do Oásis Educar. “Os estudantes de escolas públicas que participam desta ação são de diferentes territórios. Quando eles saem do seu bairro e vão até outra comunidade, passam a se entender como parte de Campinas, parte da sociedade. Com isso, estamos trabalhando a cidadania. E nada melhor do que a convivência para gerar empatia, gentileza e amor. Falamos pouco de amor, mas é importante saber o quanto ele nos torna responsáveis pelo afeto que temos pelo outro e pela escola.”
A diretora educacional Edineia Marques Mendes esteve presente na ação e acredita que é preciso encorajar esses movimentos dentro das escolas.
“Estas atividades despertam nos alunos e nas famílias o senso de pertencimento à escola e à comunidade. Eles se integram, se entrosam e fomentam a criatividade. Precisamos estimular cada vez mais este tipo de ação, pois gera coletividade e todos passam a querer preservar mais um espaço que pertence a todos,” afirmou.
Mulheres negras ainda serão homenageadas nas portas das salas de aula
Em julho, haverá a finalização de parte do projeto. As portas das salas de aula receberão pinturas dos rostos de mulheres negras de destaque no mundo, escolhidas pelos alunos. Entre elas estão: a cantora Alcione, a jornalista Glória Maria, a atriz Zezé Motta, a jogadora de vôlei Fernanda Garay, a cientista Jaqueline Goes, a professora e ativista Lélia Gonzalez, a filósofa Djamila Ribeiro e a escritora Carolina Maria de Jesus. Esse processo de pintura será realizado pelo artista plástico Fábio Azevedo (AZEVÊ), fora do período de aulas, para não expor os alunos ao cheiro forte da tinta utilizada nesse tipo de pintura.
“Conseguir trazer a força da arte para dentro da escola e para a vida das crianças e adolescentes é muito gratificante. Saber que os estudantes estão construindo algo dentro da escola, no ambiente de estudo deles, e vão interagir com tudo que ajudaram a construir é muito especial,” destaca o artista plástico e muralista AZEVÊ que traçou os desenhos que foram coloridos na escola.
Oásis Educar
O Oásis Educar é um projeto da Fundação Educar, inspirado na metodologia do Instituto Elos Brasil. Todos os anos, os jovens da Academia Educar selecionam uma escola pública para transformar. Após a escolha da instituição por meio de uma votação, os jovens visitam a escola selecionada, reconhecem suas belezas e ouvem a comunidade escolar para identificar os sonhos para aquele espaço. Com os sonhos coletados, os jovens classificam o que é possível realizar e buscam recursos e doações para viabilizar a transformação. Antes de colocar a mão na massa, os jovens aprendem e discutem sobre o tema da transformação.
A tecnologia social do projeto, portanto, envolve cinco passos principais: reconhecer belezas, descobrir sonhos comuns, conhecer talentos locais, buscar recursos e colocar a mão na massa. Dessa forma, o Oásis Educar mobiliza todos para sonhar e concretizar a transformação do espaço físico da escola.
Desde 2009, o projeto já transformou mais de 100 escolas e comunidades em Campinas e Patrocínio/MG.
A iniciativa mobiliza jovens participantes da Academia Educar, alunos e equipe da escola, familiares e voluntários, promovendo cidadania e protagonismo.
No fim, todo o processo baseia-se nos princípios educacionais de aprender a ser, aprender a conviver, aprender a aprender e aprender a fazer.