Qual a real personalidade teriam as pessoas que estão nos bastidores do teatro da vida, sem estarem elas imersas em seus papéis, em seus personagens? Em cima dos palcos, mediante a plateia, em frente à câmera do celular, mediante os internautas há ali um personagem, geralmente bem-sucedido, tido como grande referência social, porém gostaria de trazer aqui um posicionamento interessante sobre a interpretação da essência da personalidade de cada um, com base na teoria psicanalítica do médico e filósofo Wilfred Bion. Venha comigo, pro favor.
Pois muito bem, segundo Bion, nossa personalidade é formada de maneira madura e equilibrada a partir das frustrações que sofremos e enfrentamos em nossas vidas. Só por essa primeira exposição de Bion conseguimos atrelar a ela a triste comparação que a massa social se submete fazendo delas para com as pseudo-celebridades: será mesmo que esses personagens midiáticos são reais? Penso que devemos ter muita cautela e ponderação no tocante as comparações que fazemos em primeira pessoa para com esses famosos com suas vidas perfeitas; aí acabamos caindo na armadilha e nos perguntando inconformados: “por que eu não?”.
Tal pergunta de indignação passa a imagem que nos subestimamos achando que não somos bons, capazes, competentes para ter o que chamamos de sucesso em nossa vida, ter prosperidade (não necessariamente material ou reconhecimento midiático), sendo que não é nada inteligente ter a imaturidade de ser fã de alguém cuja vida que é demonstrada é supostamente perfeita e desejar ser tal como determinada pessoa tendo aquele padrão de vida.
Lembre-se do tema que tratamos aqui: a importância das frustrações e seus cuidados na primeira infância para o desenvolvimento da personalidade da criança em meio ao teatro da vida. Sendo assim não devemos desistir mediante aos obstáculos da vida, da pressão que sofremos; dos desafios, das frustrações, pois segundo o psicanalista Bion, é esse o melhor caminho, o real caminho para se atingir a sabedoria e maturidade, construindo assim uma personalidade sólida que não se submete as “modinhas midiáticas”, não se sente ameaçado, excluído ou marginalizado perante aos cancelamentos virtuais por não encenar o que a mídia e seu teatro social pedem.
Bion em sua proposta psicanalítica propõe uma relação saudável logo na primeira infância entre a mãe (ou aquela pessoa que ocupe tal papel) e a da criança, onde a mãe seria a Continente, e a criança a Contida. Para Bion, faz-se necessário que para o bom amadurecimento e construção da personalidade de uma criança ela passe por seus percalços, tropeços, choros e com esse processo todo, ela possa vir a se fortalecer.
Bion vai além dizendo que a falta de autocontinência, ou seja, a falta de enfrentar desafios, acarretá em graves conseqüências sociais e emocionais, tornando-se mais frágil e influenciável para com quem governa a massa, para os produtores que escrevem o roteiro da vida ideal, conseqüências como a insegurança em tomadas de decisões, possíveis e excessivos momentos de desespero, sentimentos de injustiça e abandono, vitimizando-se e com isso descarregando sentimentos como a raiva, o ódio e o rancor nas pessoas que se encontram a sua volta.
Isso acaba sendo ideal para quem precisa de pessoas sem personalidade e maturidade que se voluntariam a ocupar papéis de personagens sociais para serem aceitos em diversas bolhas, perdendo-se em meio a eles, sem saber quem de fato se é, podendo lá num futuro, ao envelhecer se deparar com o suposto “vazio existencial” como já escrevera o filósofo alemão Arthur Schopenhauer.
Tal psicanalista ainda ficou famoso por dar grande ênfase no atendimento clínico em grupo, para com soldados na Segunda Guerra Mundial, Bion em seu trabalho grupal percebia a falta de liderança mediante os vários soldados assustados, com medos, inseguros, perdidos, angustiados, obrigados a estarem lá servindo a nação inglesa.
Trazendo essa metodologia para os dias de hoje, podemos perceber que o que mais temos são pessoas “desreferenciadas” (neologismo, termo, conceito que inventei e descrevi em meu livro Qual app nos guia à nova era?), sem um Norte, sem saber para onde caminhar.
E é aí, nesse espaço, nessa lacuna existencial que os “produtores midiáticos, artísticos, teatrais” entram em cena manipulando os que não têm a devida maturidade, os que não tem uma personalidade firme, fisgando assim seus figurantes para bajularem e sonharem em ser protagonistas de suas vidas almejando ter o que não podem possuir e ser o que lhes impõem julgando ser a vida ideal de ser vivida (o Mundo Ideal de Platão, filósofo grego V a.C).
Thiago Pontes é Filósofo e Neurolinguísta (PNL) – Instagram @institutopontes_oficial