As obras de Edward Hopper, artista norte-americano conhecido por suas pinturas de mulheres em momentos íntimos e de solidão, inspira e ilustra o livro Mulheres de Hopper (Editora Patuá, 82 páginas), da escritora de Campinas Katia Marchese. A primeira obra solo de poesias de Kátia retrata o universo feminino em 26 poemas ilustrados e inspirados em.
Lançada neste mês de março, a publicação está disponível no site da editora (www.editorapatua.com.br). Em Mulheres de Hopper, a poeta faz um recorte das telas do pintor em quatro divisões temáticas (Trajetos, Janelas, Quartos e Casas) e oferece um cenário que mostra o cotidiano feminino.
Kátia aponta que a solidão do universo feminino, muitas vezes, é um fio condutor de transformação. Por meio de seus versos precisos e impactantes, a escritora leva o leitor a experimentar os mais profundos sentimentos, como angústia, sonhos, resiliência e solidão, como no poema ‘Transparências’:
“Lá fora a escuridão dos vãos entre os edifícios. A luz irrompe e íntima arde tua anca que recolhe as roupas do chão. A solidão dissipa o fino tecido da cortina e da vergonha.”
“O livro é uma reflexão poética da vida cotidiana de mulheres comuns, como nós, trabalhadoras, mães, filhas, mergulhadas em sentimentos muitas vezes sufocados, que buscam contar sua história”, comenta Katia. Ela observa que o livro é lançado em um momento no qual a mulher mostra sua força diante da pandemia e do isolamento, quando todos somos obrigados a ficar no nosso próprio mundo, espaço que o sexo feminino conhece bem.
Vivência
Os poemas também remetem à própria experiência profissional da autora. Como assistente social, trabalhou com mulheres em situação de vulnerabilidade na periferia de Campinas. Assim, pôde presenciar as mais diversas expressões de interiorização, perdas, injustiças e dilemas. “A poesia é meu processo de ler e agir no mundo. Em Mulheres de Hopper, exploro essa temática e escrevo sobre os processos íntimos e alquímicos de desconstrução do imaginário feminino. Dentro de seus espaços, as mulheres sobrevivem, resistem e enfrentam a cultura machista e misógina disfarçada de mito do amor romântico”, completa.
A apresentação do livro é da poeta, atriz e diretora de teatro Luiza Romão. Em seu texto, Luiza cita que a autora, em livro de estreia, “se põe à escuta e com uma escrita porosa apresenta essas Mulheres que já não são de Hopper, mas sim de si mesmas, da rua que se entrevê ao fim da escada, da calçada que se estende só os sapatos velozes”.
O livro Mulheres de Hopper é resultado da premiação de Katia no Programa de Ação Cultural 2019 (Proac) do governo do Estado de São Paulo. A poeta foi a única vencedora da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Além do livro, com o patrocínio recebido pela premiação do Proac, a poetisa organizou neste mês oficinas gratuitas que visam discutir a situação de vulnerabilidade social da mulher.
“O objetivo das oficinas é proporcionar maneiras e formas de expressar sentimentos e desejos, muitas vezes reprimidos pelo realismo social em que essas mulheres estão inseridas”, cita a escritora, lembrando que o isolamento social provocado pela pandemia do Covid-19 torna as discussões ainda mais pertinentes, como lembra Ana Rüsche em seu prefácio: “Katia não traz nenhum verso sobre a doença, mas é como se o ‘livro todo respirasse imagens sobre o isolamento social… Um vazio pleno de medo – da doença, das inseguranças financeiras, de planos abortados…”.