É difícil encontrar algum time de expressão do futebol brasileiro que não tenha sofrido gols, assim mesmo, no plural, do lendário atacante Roberto Dinamite, que morreu no último domingo (8), aos 68 anos, vítima de um câncer no intestino, no Rio de Janeiro.
Maior ídolo do Vasco da Gama e artilheiro máximo da história do Campeonato Brasileiro, com 190 gols em 328 jogos, entre 1971 e 1992, Roberto Dinamite não poupou praticamente nenhuma vítima dentro de campo.
Potências nacionais entre os anos 70 e 80, Guarani e Ponte Preta não conseguiram escapar do poder letal do centroavante, mas foram capazes de frear o seu ímpeto e levar a melhor em momentos decisivos.
No total, sempre defendendo o Vasco, Roberto Dinamite marcou seis gols sobre o Guarani em 11 duelos entre 1976 e 1987. Contando apenas jogos disputados no Brinco de Ouro, o atacante balançou as redes quatro vezes em cinco ocasiões.
Em 1978, por exemplo, o Guarani estreou no Campeonato Brasileiro sofrendo três gols de Roberto Dinamite, na derrota por 3 a 1 para o Vasco, em duelo disputado no dia 26 de março de 1978, em pleno estádio Brinco de Ouro da Princesa, em Campinas.
Dois anos antes, no primeiro confronto da história entre as duas equipes em território campineiro, no dia 28 de novembro de 1976, o Bugre também havia perdido para o Cruzmaltino, pelo placar de 3 a 2. Na ocasião, em sua primeira visita ao Brinco de Ouro, Dinamite passou em branco, mas na segunda não perdoou e ainda tirou o atraso, em sua maior atuação na cidade.
No entanto, quando chegou o mata-mata, o jogo virou. Nas semifinais, o Guarani venceu o Vasco por 2 a 0 no Brinco e, na partida volta, conquistou novo triunfo por 2 a 1 no Maracanã, passando ileso pelo matador Roberto Dinamite e avançando para a grande decisão do Campeonato Brasileiro de 1978, sob o comando do técnico Carlos Alberto Silva.
Depois de deixar para trás o Vasco na semifinal, o Guarani se tornou o primeiro e até hoje único campeão brasileiro do interior ao superar o Palmeiras na grande decisão com duas vitórias por 1 a 0, a primeira no Morumbi e a segunda no Brinco de Ouro. O gol do histórico título de 1978 foi marcado pelo então jovem promissor atacante Careca, com apenas 17 anos, que depois jogaria ao lado de Roberto Dinamite com a camisa da Seleção Brasileira.
Alguns anos mais tarde, no início da década de 80, Careca e Roberto Dinamite foram companheiros de Seleção Brasileira, embora concorrentes de posição. Às vésperas do início da Copa do Mundo de 1982, na Itália, o atacante bugrino se lesionou em um treino, precisou ser cortado e acabou substituído pelo goleador vascaíno, convocado às pressas pelo técnico Telê Santana.
Pouco antes disso, mesmo sem poder contar com Careca, que estava a serviço da Seleção Brasileira, em reta final de preparação para o Mundial, o Guarani havia goleado o Vasco de Dinamite por 5 a 3, no dia 28 de maio de 1982, no Brinco de Ouro, pela segunda fase do antigo Torneio dos Campeões, promovido pela CBF para reunir todos os clubes campeões de competições nacionais.
Naquela oportunidade, Roberto Dinamite marcou o terceiro gol do Cruzmaltino, mas não evitou outro revés para o Bugre em Campinas, na última vez que balançou as redes nos gramados da cidade.
Em 1987, no último capítulo da história entre Guarani e Roberto Dinamite, em encontro válido pelas oitavas de final do Campeonato Brasileiro de 1986, os campineiros atrapalharam novamente as pretensões dos cariocas sem dar nenhuma chance: vitórias incontestáveis por 3 a 0 no Maracanã e 2 a 0 no Brinco de Ouro.
O Bugre caminhou até a grande final para enfrentar o São Paulo, mas desta vez provou do próprio veneno, sofrendo gols justamente do ídolo Careca, e com requintes de crueldade: no último minuto da prorrogação do segundo jogo no Brinco de Ouro, decretando empate em 3 a 3 e levando a decisão para os pênaltis, que acabou vencida pelo Tricolor Paulista.
Vasco de Dinamite versus Ponte de Dicá
Em 2016, quando já estava afastado do futebol após deixar a presidência do Vasco, clube que comandou entre 2008 e 2014, Roberto Dinamite participou do documentário biográfico “Mestre Dicá”, produzido pelos jornalistas Stephan Campineiro e André Pécora, sobre a vida e carreira do ex-meia Dicá, maior ídolo e artilheiro da Ponte Preta, com 155 gols em 581 jogos entre 1966 e 1986.
Dentro de campo, a história de Dicá se cruzou pela primeira vez com a de Dinamite no dia 11 de dezembro de 1977, quando ambos passaram em branco e ainda foram expulsos no empate em 0 a 0 entre Ponte Preta e Vasco, no estádio Moisés Lucarelli, em Campinas. O resultado garantiu a Macaca na segunda fase do Campeonato Brasileiro com uma rodada de antecedência.
Na época, a Ponte Preta possuía um verdadeiro esquadrão que dois meses antes havia sido vice-campeão paulista, mas não conseguiu ir tão longe no certame nacional. Em 1981, por outro lado, a Ponte de Dicá chegou às semifinais do Campeonato Brasileiro, após eliminar o Vasco de Dinamite com mais dois empates sem gols, o primeiro no Maracanã e o segundo no Moisés Lucarelli.
Sob o comando do técnico Jair Picerni, a Ponte Preta só não chegou a decisão do Campeonato Brasileiro, em 1981, porque sucumbiu diante do Grêmio nas semifinais, apesar da vitória por 1 a 0 no jogo de volta, marcado pelo recorde de público da história do antigo Estádio Olímpico, em Porto Alegre, com a presença de cerca de 85 mil torcedores.
O triunfo pelo placar mínimo não foi suficiente porque o Tricolor Gaúcho havia vencido a primeira partida por 3 a 2, em Campinas. Na grande decisão, o Grêmio se sagrou campeão brasileira em cima do São Paulo.
Ao todo, sempre defendendo o Vasco, Roberto Dinamite marcou três gols em cima da Ponte Preta, entre 1977 e 1981. Contando apenas jogos disputados no Moisés Lucarelli, o centroavante foi às redes apenas uma vez em três encontros.
O único gol de Roberto Dinamite no Majestoso aconteceu em um estágio anterior daquela mesma edição do Campeonato Brasileiro. No dia 7 de fevereiro de 1981, diante de mais 17 mil torcedores, ele e Dicá marcaram, de pênalti, os gols do empate em 1 a 1 entre Ponte Preta e Vasco. Parece até que um queria sempre copiar o outro.
Os outros dois gols de Dinamite sobre a Macaca, totalizando três, ocorreram anteriormente no dia 9 de abril de 1978, na vitória do Cruzmaltino por 3 a 1, em duelo disputado no Maracanã.