Diretor e roteirista consagrado na TV, Sergio Goldenberg dirigiu um belo filme chamado Bendito Fruto (2005) e, agora, revisita o cinema com a comédia romântica Um Casal Inseparável (Brasil, 2021, 90 min., 12 anos). Com roteiro assinado por ele e George Moura, o filme conta com a cumplicidade de dois bons atores como protagonistas: Nathalia Dill e Marcos Veras.
Como parte do conceito do chamado filme de gênero, a comédia romântica se caracteriza pelo diálogo: os envolvidos são separados por algum equívoco, tentam reconciliação o tempo inteiro e, ao fim, conseguem se entender.
Ninguém está entregando nada da história, até porque o título antecipa o desfecho, mas, porque o filme segue rigorosamente o padrão (e não poderia ser diferente) e todos sabemos o modo como comédias românticas terminam.
A trama é simples, como deve ser, esses encontros e desencontros que marcam o gênero.
Manuela (Nathalia Dill) dá aulas de vôlei de praia. Autoconfiante e independente, ela está sempre pronta para defender o que acredita. Logo nas primeiras cenas, um sujeito tenta enganá-la durante uma partida dizendo que a bola caiu fora do campo. Ela vai conferir, descobre que ele mentiu e o enfrenta com uma segurança que não se esperaria de uma garota, digamos, 30 anos atrás.
Quando conhece o pediatra Léo (Marcos Veras), ela deixa claro desde início que não vai tolerar um namorado que tenha tido, provavelmente, o comportamento do pai dela: machista, mulherengo, incapaz de ficar na dele caso encontre uma garota bonita disponível. Quando isso ocorre, Léo está frito nas mãos de Manuela. E vai pagar devidamente suas contas.
A comédia romântica pressupõe a presença de um artifício usado no conto de fadas. As fadas sempre estarão disponíveis e prontas para ajudar. Eles nem podem ser tidos como personagens, mas como tipos que cumprem papéis determinados.
Neste caso, são os pais de Manuela Isaías (Stepan Nercessian) e Esther (Totia Meirelles), que farão tudo para afastar a vilã Cristina (Danni Suzuki) do caminho da filha.
Há certo desleixo do roteiro na maneira apressada como Cristina se aproxima de Léo e de como ele aceita essa relação, mesmo estando apaixonado por Manuela. Mas são pequenos pecados que não interferem de modo decisivo no bom andamento do filme.
O Brasil pós-cinema digital no início dos anos 2000 aprendeu direitinho as lições de como fazer filmes capazes de concorrer com a máquina industrial de Hollywood, caso de Cidade de Deus, os dois Tropa de Elite e, mais recentemente os três exemplares de Minha Mãe é uma Peça, todos sucessos absolutos.
Um Casal Inseparável não tem a pegada nem a força de nenhum dos cinco citados, mas se enquadra perfeitamente dentro desse “saber fazer um filme” nos padrões norte-americanos de roteiro, fotografia, música, elenco, direção de arte, edição e todos os outros componentes de uma produção com competência.
Se tivesse que fazer um destaque, este seria Marcos Veras. Ele é bom ator e possui afinado tempo do riso. Sabe exatamente o que fazer para incrementar a cena porque conhece os meandros da comédia.
Por fim, é bom lembrar, o roteiro se dispõe a colocar todos os elementos necessários que componham a responsabilidade social para que o espaço das chamadas minorias seja devidamente ocupado: mulher (ironicamente nem é minoria, mas a sociedade permitiu que a submissão fosse verdade absoluta), negros, idosos, homens sensíveis e não, necessariamente, gays, entre outros.
É isso: o filme de Sergio Goldenberg se mostra competente naquilo que pretendeu realizar. E, sem ter nada excepcional, cumpre todos os quesitos para se tornar algo prazeroso de ver.
Estreia nesta quinta, dia 9, em várias cidades no País; ainda não tem data para a chegada a Campinas
No streaming, a estreia é em 19 de setembro no Telecine Premium
João Nunes é jornalista e crítico de cinema