A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que mais de 60% de doenças infecciosas e mais de 75% de doenças emergentes idênticas são causadas por agentes infecciosos contidos em animais silvestres ou domésticos. Conhecidas como zoonóticas, essas doenças afetam cerca de 1 bilhão de pessoas e provocam milhões de mortes, anualmente, em todo o mundo.
A OMS alerta que a ameaça pode ser grave para a África, onde um em cada três eventos de saúde publica, confirmados na última década, foi um surto de doença de origem animal.
Um estudo da agência revela um aumento de 63% destes surtos na região, nos últimos 10 anos em relação à década anterior.
O ebola e febres hemorrágicas semelhantes constituem 70% dos surtos, enquanto os restantes incluem a varíola dos macacos, dengue, antraz e peste. Só este ano, a região já notificou 203 casos confirmados deste tipo de varíola.
A varicela teve um aumento notável desde abril em comparação ao igual período de 2021. Contudo os números foram menores do que o pico de 2020, quando a região concentrou os maiores casos mensais de todos os tempos.
Habitats de vida selvagem
A diretora regional da OMS para África reconhece que a ocorrência destas infecções vem há seculos destacando que à medida que a crescente urbanização invade os habitats da vida selvagem, e aumenta a demanda por alimentos de uma população de crescimento rápido, o risco também sobe.
Para Matshidiso Moeti, a adição de melhores ligações rodoviárias, ferroviárias e aéreas, que removem a barreira natural que a infraestrutura de transporte precária fornecia, abre caminho à propagação de surtos de doenças zoonóticas de áreas remotas para áreas urbanas.
“Os surtos de ebola na África Ocidental são uma evidência do número devastador de casos e mortes que podem resultar quando doenças deste tipo chegam às nossas cidades”, afirmou.
Desde 2008 que a OMS vem fortalecendo a colaboração regional com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO, e a Organização Mundial da Saúde Animal, OIE, para apoiar os esforços de combate a esses surtos na região africana.
As três agências cooperaram juntas na resposta ao 14º surto de ébola, que terminou recentemente na República Democrática Congo, RD Congo.
OMS quer a mesma abordagem para combater a ameaça e procurar evitar um novo choque sanitário no continente.
A agência recomenda uma resposta multissetorial que englobe especialistas em saúde humana, animal e ambiental a trabalharem com as comunidades. Garante serem cruciais os mecanismos confiáveis de vigilância e as capacidades de resposta, para a detecção rápida de patógenos. A ideia é montar respostas robustas para conter qualquer potencial disseminação.
Covid-19, Marrocos e Tunísia
Entretanto, a OMS indica que o número de novos casos da Covid-19 no continente diminuíram drasticamente na semana passada, embora o quadro geral continue a ser sustentado pelo rápido disparo de casos no Norte, pela oitava semana consecutiva. A situação no Marrocos e Tunísia impulsionou o aumento, estimulado em 17% dos novos casos.
Botsuana, Namíbia e África do Sul reverteram o quadro de aumento em quatro a seis semanas, graças a capacidades aprimoradas de detecção rápida e resposta para conter a disseminação.
*De Bissau, Amatijane Candé para a ONU News