Uma aluna do Instituto Anelo, que promove a inclusão pela música em Campinas, representa de forma inédita o distrito de Campo Grande, na periferia da cidade, nas finais de uma competição mundial de canto chinês.
Maria Eduarda Santos Nascimento, a Duda, de 20 anos, foi campeã nacional da Copa Cubo da Água de Canto Chinês, realizada no bairro da Liberdade, em São Paulo, no dia 26 de maio, um feito que a classificou para a semifinal mundial do concurso.
Além dela, outros dois jovens talentos do Instituto Anelo foram premiados no evento, um marco histórico para o Instituto. Na disputa, os jovens cantaram em mandarim, mostrando o alto desempenho obtido nas aulas iniciadas na instituição há apenas dois meses, com a professora Jia Sun Costa.
O desafio foi estimulado pela professora e pela instituição, sendo coroado com as posições de destaque. Além da campeã Duda, moradora do Satélite Íris, Nicoly Alessandra Rosa da Silva, de 17 anos, moradora do Jardim Bassoli, foi a vice-campeã, e Rafael Oliveira Cordeiro, de 17 anos, do Satélite Íris, ficou em quarto lugar.
Eles foram premiados com R$ 1,5 mil, R$ 1 mil e R$ 300, respectivamente. Os alunos participaram da categoria disputada por brasileiros (chamada de grupo estrangeiro). Outras categorias reuniram chineses de várias idades que vivem no Brasil.
Na semana posterior ao prêmio, a campeã Duda foi informada pela organização que deveria gravar um vídeo interpretando uma música para participar da semifinal mundial de sua categoria. Os vídeos serão avaliados por chineses, e o resultado ainda não tem data divulgada para ser anunciado.
“Não estava esperando uma semifinal mundial, fiquei ao mesmo tempo assustada e animada. A notícia foi três dias antes de gravar, tive muita ansiedade. Tentei aperfeiçoar a pronúncia, trazer uma maior fluência, até porque não havia tempo para ensaiar uma nova música”, conta.
A competição é coorganizada pela Beijing Radio and Television Station, Water Cube, Beijing Artists Management Corp Ltd., China Conservatory of Music, Juventude chinesa do Brasil e Centro Cultural da Ásia em São Paulo, com o objetivo de promover o intercâmbio cultural entre a China e o Brasil e ampliar a conexão entre os dois povos.
O Anelo participou da divisão nacional do concurso, promovido ainda em outros 33 países, como a China, Inglaterra, Canadá, Indonésia, Nova Zelândia, Argentina, Japão, Itália, Nigéria, entre outros.
Duda revela que as aulas sempre foram muito animadas, com grande incentivo da professora e que o principal desafio foi a pronúncia. “A professora é perfeita, nos incentiva, nos coloca para cima, ajuda nos tons. Uma coisa que tive dificuldade, acho que todo mundo, foi a parte dos tons do chinês, que a gente não encontra no português.”
O início
Luccas Soares, fundador do Instituto Anelo, conta que conheceu a professora de canto, que é chinesa e mora em Campinas, durante uma apresentação dos alunos do Anelo, em fevereiro, no evento do Ano Novo Chinês promovido pela CPFL Energia, empresa que é patrocinadora master do Anelo, por meio do apoio do Instituto CPFL e da parceria da State Grid.
Ele gravava, à época, uma música para um projeto voltado à conscientização sobre o autismo, e pediu à professora, que se apresentava no evento, orientação para cantar uma frase curta, idealizada em mandarim, na canção. Aproveitando a oportunidade, convidou a professora para conhecer de perto o trabalho do Instituto Anelo. Jia Sun se interessou pela organização, foi conhecer as instalações, no Jardim Florence, e se apaixonou pelo trabalho, aceitando lecionar canto em mandarim no Instituto.
“Foi muito surreal tudo isso, em dois meses. E os bairros mais carentes do Campo Grande representados pelo esforço desses alunos. Poderiam fazer qualquer coisa, mas resolveram cantar em mandarim, e aprenderam muito bem”, afirma Luccas.
“A Duda (a campeã Maria Eduarda) está desde os oito anos com a gente, e enfrentou um quadro depressivo difícil no início do ano. A chamamos para ter noção do tamanho do talento dela. Foi como se a vida tivesse ganhado.”
“É o meu sonho, ser grande. O Luccas disse que tenho de ter noção do meu tamanho, não tenho essa noção, e o admiro muito. Se a vida me proporcionar mais oportunidades como essa, vou continuar, em mandarim ou outras línguas, pois também falo espanhol”, informa a aluna semifinalista mundial, que ressalta a importância do apoio de Luccas e as orientações da também professora Marisa Molchansky nos dias que antecederam a gravação enviada para a China.
Daniela Ortolani Pagotto, head do Instituto CPFL, menciona que a parceria da empresa com o Instituto Anelo começou com a frente social CPFL Jovem Geração, lançado em 2020, para apoiar projetos que utilizam a música e o esporte como ferramentas de mudança social.
“Para nós, faz muito sentido apoiar uma atividade cultural como essa, onde os alunos têm a oportunidade de conhecer outra língua, como o mandarim. Acreditamos que essa integração cultural entre os dois países, amplia os horizontes desses jovens em direção de uma cultura milenar e diversa”, explica.
O concurso
Para a vencedora da Copa Cubo da Água, as emoções começaram com o anúncio dos prêmios aos outros colegas. “E quando chamaram o meu nome, Maria, em primeiro, não esperava. É uma questão de que valeu o esforço”, diz ela, que gosta da cultura chinesa, e busca aprender o idioma pela internet.
A vice-campeã, Nicoly, também ressalta a felicidade pela conquista. “Estou muito feliz, esse prêmio não é só meu, é de todos, também dos que participaram da primeira fase”, afirma. A jovem também ressalta que participou da competição como uma forma de ampliar seus conhecimentos. “Foi excelente, saímos de nossa zona de conforto, nos superamos.”
“Participei porque queria experimentar algo novo, não sabia quase nada sobre a cultura chinesa. O processo de preparação foi divertido e um pouco complicado, com horas em vocal, pronúncia e atuação, para transmitir a emoção da música”, declara Rafael, quarto colocado, que além de cantar, ainda tocou violão.
O Instituto Anelo inscreveu seis estudantes no concurso de canto chinês, classificando três para a final. Duda, a campeã, teve um desafio extra: sem poder repetir música, teve de aprender, em mandarim, outra canção em uma semana, para a apresentação decisiva.
“São histórias que me motivam. Após 24 anos de Anelo, os alunos ainda me surpreendem e me emocionam”, avalia Luccas. As músicas interpretadas por ela foram Jiěmèi (Irmã, na tradução) e Zhan zài gāo gǎng shàng (De pé, em cima da Montanha).