Facilidades das redes sociais aproximam pessoas. Aplicativos e sites podem promover encontros interessantes, agradáveis e eroticamente prazerosos, mas também favorecem frustrações e sofrimentos. Os tempos atuais parecem representar amplamente uma era vigorosa de cunho sexual, com toda liberdade e aproveitamento erótico dos pares. No entanto, ainda existem bloqueios e constrangimentos à demanda libidinosa.
Ao mesmo tempo em que observamos uma banalização do sexo, notamos também que o moralismo aparece de modo apelativo, bem como ainda há pendências sexistas intercalando ondas descabidas de feminismo e reações de machismo truculento e impróprio.
Tal panorama nem leva em conta as estatísticas teimosas que ratificam a força da prostituição, dos crimes sexuais e da pornografia.
Amor e sexo não precisam estar em polos opostos, nem devem se excluir. O prazer carnal não pode indicar empobrecimento sentimental nocivo nem o êxtase afetivo suscitar um desvio estatístico que bloqueasse a libido.
Os pares melhor preparados para o sexo casual são os que têm capacidade amorosa evoluída, os que dispõem de maior potencial afetivo.
À primeira vista, isso parece estranho e contraditório, pois o encontro íntimo casual não implicaria amor – seria simplesmente uma oportunidade de transar, fazer sexo sem compromisso e sem imaginar qualquer sequência, o enredo se finalizando ali mesmo.
No entanto, é sempre importante lembrar que somos seres humanos, incompletos e incompletáveis, com a cabeça cheia de dúvidas e carências. Todos nós almejamos a certeza de ser amados, queremos garantir essa segurança. Isto é extremamente difícil, complexo e, muitas vezes, enganoso. Habitualmente, cada par quer que o outro lhe forneça “provas de amor”.
As máquinas da cibernética ainda não conceberam um software capaz de avaliar e medir os níveis de amor trocado pelos pares, seja o casal bem romântico ou predominantemente erótico.
As coisas poderiam melhorar se invertêssemos o roteiro. Ou seja, se cada um se empenhasse em atuar como sujeito amoroso, exercendo o amor, funcionando como fonte afetiva.
Cada par avaliando consigo mesmo se é capaz de amar, evitando se colocar na posição de foco e se firmando como fonte, faria muita diferença. Quebraríamos a rotina de expectar pelas “provas” vindas do outro.
A arte e a ciência vivem destacando a importância pluridimensional do amor. Estudos e pesquisas recheiam os compêndios de informações e hipóteses. Romances reais e virtuais, ficções, biografias e novelas mobilizam profundamente as pessoas. As imaginações inspiram as melodias, pinturas, esculturas e artes cênicas, provocando com verdades, mentiras, mazelas e deleites.
Nos modernos “reality shows”, para grande parte dos espectadores, uma das principais motivações que sustentam as audiências é acompanhar os envolvimentos eróticos e afetivos dos personagens.
Na nossa época, portanto, mesmo que os pares se proponham a uma vivência rápida e simplista de sexo casual, existem as chances de surgir ali uma relação longa, bem como uma depressão pesada.
Não fugindo dessas possibilidades, os dois estarão mais preparados para amar casualmente, podendo se entregar à experiência de modo bem prazeroso, quanto mais protegidos, prevenidos e respeitosos.
A tecnologia digital só ajuda na aproximação.
À medida que se abrem à intimidade erótica, os pares terão que recorrer a recursos analógicos e humanos. Principalmente, não poderão se esquecer de dois preservativos: a camisinha convencional, para cobrir o genital, e a camisinha virtual, para envolver o coração…
Joaquim Zailton Motta é psiquiatra, sexólogo e escritor