A Escola Estadual Professor Aníbal de Freitas, no Jardim Guanabara, em Campinas, desistiu do projeto de ensino cívico-militar. Em votação do conselho de pais, professores e diretores, nesta terça-feira (30), a maioria votou contra a adesão ao modelo proposto pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
A unidade foi uma das sete de Campinas que manifestaram interesse em atuar no modelo cívico-militar, segundo consulta da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. O edital com a relação das escolas foi publicado no Diário Oficial há uma semana.
A votação no Aníbal de Freitas, no entanto, teve 14 contrários e cinco favoráveis à adesão ao sistema. A informação foi confirmada pelo professor Hamed Bittar, ligado à Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), e que acompanhou a votação na escola.
“Nós fomos lá, conversamos com os professores para esclarecer o que os pontos desse projeto equivocado e conseguimos a derrota. Nós temos diversos problemas na educação, com escolas precárias, assédio moral, etc. E colocar um militar da reserva que, com a melhor das intenções, não vai superar a experiência que um professor tem”, pontou Bittar.
Nas redes sociais, a vereadora Paolla Miguel (PT) também gravou um vídeo em frente a unidade no Guanabara para se posicionar contrária a um “modelo que rompe com a educação cidadã, crítica e democrática para transformar o colégio em um tipo de quartel estudantil”.
“A Aníbal de Freitas não obedece nem mesmo ao critério de ser uma escola ‘problemática’, que sofreria algum tipo de intervenção para melhorar seus índices de frequência e notas”, argumentou a vereadora na publicação.
A decisão do Aníbal de Freitas acontece antes mesmo do início da consulta online, que deverá ser registrado pela comunidade escolar de outras seis escolas campineiras até o dia 15 de agosto, por meio da Secretaria Escolar Digital (SED). Podem votar mãe, pai ou responsável pelos alunos menores de 16 anos de idade; estudantes a partir de 16 anos de idade; e professores e outros profissionais da equipe escolar.
Possíveis desistências
Em reunião na tarde desta quarta-feira (31) com a comunidade escolar das unidades Reverendo Eliseu Narciso (Dic III) e Jornalista Roberto Marinho (Vila Renascença), Hamed Bittar avalia que pode haver mais duas escolas que desistirão do modelo cívico-militar.
“No Eliseu Narciso fizemos uma ampla discussão com a comunidade. Chegou a ter um princípio de discussão entre pais, mas conseguimos conscientizá-los. Já na Jornalista Roberto Marinho também fizemos um debate, no qual os pais disseram que até concordam com a polícia na frente da unidade, mas não no convívio com os alunos internamente”, disse o dirigente.
De amanhã até o último dia de votação haverá manifestação sindical com carros de sons nos bairros, na tentativa de inverter a adesão das unidades que já se manifestaram favorável ao modelo. Além das já citadas, Orosimbo Maia (Centro), Professor Messias Gonçalves Teixeira (Jd. Nova Aparecida), Profª. Maria de Lourdes Campos Freire (Paraíso de Viracopos) e Júlio Mesquita (Jardim dos Oliveiras) vão passar pelo processo de votação online.
Outras duas rodadas de consulta estão previstas para unidades que não atingirem a quantidade de votos válidos. Para esses casos, a segunda consulta será realizada pela SED entre de 20 a 22 de agosto. Caso haja a necessidade, uma terceira rodada de consulta deve ocorrer entre 27 e 29 de agosto, também pela SED.
A expectativa da Educação de SP é iniciar o projeto em 2025 com 45 unidades educacionais da rede, permitindo um acompanhamento detalhado da implantação do modelo e a avaliação da possibilidade de ampliação nos próximos anos.
São critérios seleção para integrar o programa, as escolas:
– Com baixo desempenho escolar, medido pelo Idesp (Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo)
– Localizadas em áreas consideradas vulneráveis, de acordo com o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS)
– Níveis de ensino ofertados, com prioridade para aquelas que ofertam o maior número de segmentos, por exemplo: anos iniciais, anos finais do Ensino Fundamental, Ensino Médio. Serão priorizadas, neste caso, escolas que ofertam o maior número de segmentos e atendam a alunos dos anos finais
– Escolas com maior número de alunos por turnos e com, no mínimo, 400 matrículas
– Unidades de ensino com espaço adequado para a realização de atividades no contraturno