Promoveram um concurso numa escola de ensino de alto padrão, para alunos de idade entre 8 e 13 anos. Escola de alto nível sócio- econômico alunos vindos de famílias com grande representatividade entre empresários, executivos de multinacionais, diplomatas, banqueiros, funcionários de destaque em órgãos públicos, políticos…
Concurso aberto para premiar a melhor redação sobre “O que você deseja ser quando crescer”, causou grande euforia entre os alunos e suas famílias. Na cerimônia da apuração do resultado, nervosa expectativa, para surpresa geral o prêmio foi para uma menina de 11 anos que escreveu que queria ter a honra de ser gari.
Ninguém poderia imaginar como que uma menina de classe rica, membro de uma família tradicional, reconhecida nas esferas das colunas sociais e nos meios políticos, revelou o seu desejo de integrar-se numa classe de trabalhadores tão marginalizada.
Convidada a subir ao palco com os seus pais para receber o prêmio, e questionada pelo diretor da sobre que razões levariam uma garota bonita e inteligente, de família bem constituída, a manifestar tão inusitado desejo.
Muito segura de si, com ar alegre e descontraído, explicou ao auditório que, andando pelas ruas e visitando muitos lugares com seus pais, ela observava o quanto de lixo havia espalhado pelos espaços públicos, e a sua preocupação e indignação era com a proliferação das doenças e o avanço das pandemias.
Também mencionou com elogios a postura de seu colégio para com essa preocupante temática, pois seus professores abordavam sempre em sala de aula essa questão da degradação e destruição do Planeta Terra: a poluição dos rios e mares, as queimadas e destruições das florestas e os biomas, o extermínio dos animais marinhos através do lixo de plásticos lançados nos rios e mares…
A crueldade na matança dos animais (muitos em extinção), dos quais arrancavam as peles, os chifres e os dentes para serem comercializados nos mercados clandestinos, atendendo uma clientela que ostentava luxo e glamour com casacos, artefatos, artigos de decoração, à custa do sacrifício da fauna indefesa…
Diante dessa cruel e desumana realidade, ela se perguntava como poderia colaborar na limpeza desse lixo da produção de detritos e desse lixo humano (os bárbaros que sacrificavam animais).
Acreditava que era possível ir limpando ou pelo menos amenizando essa sujeira à medida que todos nos empenhássemos no desafio provocativo: “Não pergunte o que uma Nação pode fazer por você. Mas o que você pode fazer para o bem da Nação”.
Sim, pensava ela, é possível se trabalhar na formação de uma consciência critica e responsável voltada para o bem da humanidade, fazendo a inclusão da vida do planeta Terra no processo da Cultura da Vida. Após sua explanação, a plateia, em pé, a aplaudiu numa calorosa demonstração de gratidão e carinho.
O ensinamento dessa menina nos faz pensar que o mundo precisa urgentemente de uma rede de garis que se empenhem ardorosamente na remoção e limpeza de outro “tipo” de detrito humano: esse lixo fétido que se encontra entre nossos políticos de mau caráter que legislam em causa própria e mantêm o “status quo” da corrupção.
Entre os empresários e comerciantes que exploram e sucateiam as forças de produção dos trabalhadores e os mercenários que roubam nossas riquezas minerais, ambientais e animais. É preciso limpar os detentores dos meios de comunicação que enganam o povo através da rede midiática com “fake news”, com programas e propagandas enganosas mantendo o povo alienado, escravizado e refém de uma economia de mercado excludente e geradora da cultura de morte.
Essa menina representa as milhares de crianças de nossos pais que clamam por justiça social e politicas públicas de inclusão que garantam a elas o direito à vida e ao progresso e crescimento físico, moral e intelectual.
Com acesso e condições de usufruir de um alto padrão de ensino e educação, amparadas por um seguro de saúde que lhes garanta qualidade de vida. Uma infância assim protegida por uma imprensa ética que valorize a vida humana.
Governos e órgãos públicos que invistam em projetos com áreas de lazer, esporte e cultura… Ousados projetos de fomento à pesquisa científica e na formação de profissionais que atuem no desenvolvimento da ciência e tecnologia… Políticas públicas que privilegiem a liberdade de expressão religiosa, no respeito às diferenças entre as pessoas sob um padrão de vida inserido na filosofia da não-violência, da solidariedade e do amor fraterno.
É o momento de voltarmos o nosso olhar para a realidade de nossas crianças e deixar que elas nos toquem com seus sorrisos, suas inocências e a pureza de seus corações. Somente assim será possível construir um novo mundo, em que as nossas crianças se tornarão protagonistas da nossa historia e continuarão a brincar e crescer em nosso meio. Felizes seremos se acreditarmos que em cada criança feliz existe uma pérola preciosa escondida na concha deste mundo.
Pe. Luiz Roberto Teixeira Di Lascio é Vigário paroquial na Basílica Nª Sª. do Carmo, Arquidiocese de Campinas, e-mail: [email protected]