Domingo, dia 16 de janeiro, um homem de 34 anos estuprou uma jovem de 18 anos alcoolizada à luz do dia em frente a um dos bares do bairro Cambuí. A notícia chocou a todos e foi amplamente noticiada em diversos veículos da imprensa regional e nacional. O crime – filmado por pessoas que estavam no local – chama a atenção por muitos motivos. Mas uma pergunta que precisa ser feita é, como isso foi possível em uma área de grande afluência e em local cercado por estabelecimentos comerciais?
Não faltaram testemunhas ao ocorrido. A própria filmagem do fato comprova isso. Uma das notas publicadas chamou a atenção para o fato de que as pessoas não se prontificaram a socorrer a vítima a ponto de evitar o crime. Preferiram filmar. O criminoso, cujos dados não foram revelados – sabe-se apenas que ele chegou ao local em um carro de luxo -, foi levado à delegacia, do mesmo modo que a vítima. Caso encerrado? Talvez não. Saber quem fez o quê, não explica inteiramente por que o fato foi possível, nem aponta todas as responsabilidades.
Há anos que a área em que se deu o fato tem se degradado.
A despeito de os moradores do Cambuí adorarem sua vizinhança animada cheia de restaurantes e bares interessantes que atraem pessoas de todas as áreas da cidade, é difícil não se entristecer com a maneira como esse comércio se expandiu nos últimos anos. A Polícia Militar, a Guarda Municipal, o serviço de acolhimento a reclamações da Prefeitura (telefone 156, portal do cidadão, balcão de atendimento da sede na Rua Anchieta) estão carregados de reclamações dos moradores e de seus pedidos de ajuda.
Eles se manifestam contra o pancadão dos veículos que continua e ao qual se somou o pancadão dentro dos bares que, na quase totalidade, não têm isolamento acústico ou não o têm de modo adequado, impedindo que os moradores da região possam descansar; contra a gritaria de pessoas na rua durante a madrugada; contra as frequentes brigas e agressões verbais e físicas; contra o barulho das garrafas que são lançadas a madrugada inteira dentro dos recipientes – segundo o adesivo que as sinaliza – reservados para a coleta exclusiva de lixo orgânico; contra a insegurança.
Entre outros, já foram atendidos casos de pessoas desnorteadas correndo nuas pelas ruas e ameaçando os passantes, casos de tiros no meio da madrugada e, agora, o estupro de uma vulnerável.
As dificuldades apontadas deram lugar a um alentado abaixo-assinado de moradores que foi entregue em mãos à assessoria da Secretaria de Urbanismo na presença de representante da Câmara dos Vereadores em maio de 2019. A iniciativa não teve nenhum resultado prático, sendo que o próprio abaixo-assinado acabou por ser extraviado dentro da Prefeitura.
Como já dissemos, os moradores adoram o seu bairro e apreciam a presença dos estabelecimentos mencionados que trazem entretenimento e fortalecem a sociabilidade em nossa cidade, merecendo nosso aplauso e acolhimento.
No entanto, têm sentido falta de um poder público que cumpra sua função de mediar a relação entre moradores e comerciantes, promovendo o respeito e os direitos de todos.
Infelizmente, até o momento, o que se tem visto é que os estabelecimentos não são cobrados no cumprimento dos limites normativos estabelecidos para suas atividades. Embora nos finais de semana bares e restaurantes promovam eventos com música altíssima que podem durar mais de 12 horas, a situação é dramática todas as noites das 20h às 02 horas da manhã.
Assim, os abusos têm sinalizado claramente há anos, que no bairro tudo é permitido. E esse vale-tudo tem se tornado mais expressivo, como mostra o crime acontecido no último final de semana. Este e outros acontecimentos contrários à civilidade não teriam se dado da forma como se deram se o poder público municipal atuasse no local deixando claro que os direitos de frequentadores e moradores precisam ser igualmente respeitados.
A Prefeitura, pela sua leniência, pela falta de atenção equânime a seus cidadãos, é responsável pelas desordens que têm acontecido no bairro.
Esperamos que fatos como o ocorrido neste final de semana nunca mais aconteçam, mas na atual situação, isso é muito pouco provável.
Coletivo de moradores e defensores de um Cambuí mais cidadão e amigo