Um dos filmes mais aclamados e premiados dos últimos tempos, vencedor de seis estatuetas do Oscar há seis anos, “Mad Max: Estrada da Fúria” sacudiu os cinemas do mundo inteiro quando estreou em maio de 2015, mas continua até hoje impressionando o público de forma praticamente unânime pelas deslumbrantes e estonteantes cenas de ação, difíceis de imaginar como foram gravadas até mesmo para os padrões de produções hollywoodianas.
Dirigido pelo prestigiado cineasta australiano George Miller, vencedor do Oscar de melhor animação por “Happy Feet – O Pinguim”, em 2007, na quarta de suas seis indicações individuais ao todo, o mais recente longa-metragem da saga “Mad Max” apresenta, entre outros momentos memoráveis, incríveis e complexas sequências de perseguição automotiva filmadas no deserto, prezando pelo compromisso absoluto com o realismo.
Por mais absurdo que pareça, a utilização de efeitos especiais e recursos de computação gráfica é mínima, apenas pontual, mesmo envolvendo veículos exóticos e perigosos, dotados desde espinhos até lança-chamas, em alta velocidade, com pessoas reais penduradas. Ou seja, pura adrenalina do primeiro ao último minuto de exibição, tanto para quem assiste quanto para quem está em cena.
Indicado a 10 categorias pela Academia do Oscar, em 2016, “Mad Max: Estrada da Fúria” faturou os prêmios de melhor montagem, melhor edição de som, melhor mixagem de som, melhor direção de arte, melhor figurino e melhor maquiagem e penteados.
Lançado no Brasil no dia 14 de maio de 2015, uma semana após a estreia oficial nos Estados Unidos, “Mad Max: Estrada da Fúria” arrecadou US$ 378 milhões em bilheteria no mundo inteiro. Se você ainda não assistiu, confira abaixo o trailer (legendado) e não perca tempo: o filme completo está disponível na plataforma de streaming HBO Max.
Através da tela, em uma experiência magnífica, em ritmo alucinante, o espectador é transportado a um cenário caótico e insano, que representa um hipotético mundo pós-apocalíptico do futuro, retratado com visual grandioso e fascinante. Uma verdadeira obra de arte que deixa qualquer um, cinéfilo ou não, de queixo caído.
É claro que, além da magnitude alcançada pelo filme, houve um forte componente emocional e afetivo por trás do enorme alarde em torno de “Estrada da Fúria” em 2015, já que os entusiasmados fãs esperaram nada menos do que 30 anos pelo lançamento da quarta parte e, por extensão, o renascimento da saga que começou em 1979, com o filme original “Mad Max”, estrelado pelo ator Mel Gibson, que abriu as portas do cinema australiano para o mundo.
A franquia ganhou continuação em 1981, com “Mad Max 2 – A Caça Continua”, e prosseguiu em 1985, com “Mad Max 3 – Além da Cúpula do Trovão”, todos criados e dirigidos por George Miller.
Único ator brasileiro no set de “Estrada da Fúria”
Pouca gente sabe, mas as gravações de “Mad Max: Estrada da Fúria” contaram com a participação de um ator brasileiro. O nome dele é William Rivera, atualmente com 48 anos. Nascido em São Paulo e criado em São Carlos, no interior do estado, Rivera vive há quase 20 anos na Austrália, onde gravou cenas do épico filme do diretor George Miller. Um verdadeiro sonho, mas que demandou muito empenho, com vários perrengues.
Ao todo, foram 10 semanas de trabalho entre novembro de 2013 e janeiro de 2014, na região de Sydney, capital do estado de Nova Gales do Sul, na costa leste da Austrália, onde aconteceu a parte final das gravações do filme, após meses de rodagem no deserto da Namíbia e em estúdios na Cidade do Cabo, na África do Sul, entre julho e dezembro de 2012.
À época com 39 anos, William Rivera interpretou um dos cerca de 300 papéis extras destinados aos personagens do grupo denominado “The Wretched” (“Os Miseráveis”), uma população inteira de famintos e doentes. Eles são homens, mulheres, crianças e idosos que viajam de muito longe até Cidadela em busca de suprimentos básicos para garantir a sobrevivência. No entanto, a fortaleza é governada pelo tirano imperador Immortan Joe, que controla de forma opressora o fluxo de uma fonte de água abundante no meio da secura.
“Foram oito semanas de gravação em um reservatório de água gigante e secreto em Yagoona, além de mais duas semanas no Fox Studios. Cheguei a trabalhar 19 horas em um mesmo dia”, contou William Rivera, em contato com a reportagem do Hora Campinas.
Até onde se sabe, William Rivera foi o único ator brasileiro entre centenas de estrangeiros na torre de babel do set de filmagem de “Mad Max: Estrada da Fúria”. “Eu só lembro de ter ouvido uma pessoa falando português, mas era um rapaz de Portugal e fui conversar com ele. Também havia gente da Inglaterra, da Irlanda, da Lituânia, do Japão e até um vietnamita que não tinha uma das pernas. Nós éramos em 300, mas depois viramos 300 mil com o CGI”, comenta.
Durante o período de cerca de dois meses em que trabalhou nas gravações de “Mad Max: Estrada da Fúria”, William Rivera chegou a contracenar com os dois principais astros do filme: o ator britânico Tom Hardy, que interpretou o protagonista Max Rockatansky, e a atriz sul-africana Charlize Theron, vencedora do Oscar de melhor atriz em 2004, pela atuação em “Monster – Desejo Assassino” (2003), que viveu a personagem Imperatriz Furiosa na trama de George Miller.
Como um dos integrantes do elenco de “Estrada da Fúria”, William Rivera também marcou presença na noite da première australiana do filme. O tapete vermelho ocorreu no dia 13 de maio de 2015, na famosa Ópera de Sydney, cartão postal da cidade. “Eles fecharam uma parte da ponte Harbour Bridge para os carros do filme atravessarem com atores reais pendurados, de traje e tudo, representando os personagens, inclusive aquele da guitarra que solta fogo”, conta Rivera.
“Eu gravei uma cena com o Tom Hardy, outra com a Charlize Theron e mais uma com os dois juntos. Foi muito legal e, ao mesmo tempo, muito louco trabalhar nesse filme. É uma das coisas que eu mais tive orgulho de fazer na vida”, descreve Rivera.
Além de Tom Hardy e Charlize Theron, o elenco do filme “Mad Max: Estrada da Fúria” conta com outras estrelas do cinema como a filha do cantor Lenny Kravitz, Zoë Kravitz, que vive Toast, uma das Cinco Esposas, ao lado das também atrizes e modelos Rosie Huntington-Whiteley, Riley Keough, Abbey Lee e Courtney Eaton.
Moças bonitas usadas por Immortan Joe como parideiras e escravas sexuais na história, as Cinco Esposas tentam fugir escondidas no caminhão-tanque pilotado por Furiosa, mas o Senhor da Guerra ordena uma impiedosa caça às rebeldes.
Uma das atrizes do elenco de “Mad Max: Estrada da Fúria”, Zoë Kravitz recentemente interpretou a Mulher-Gato no mais novo filme do Batman, lançado neste ano, com direção de Matt Reeves e Robert Pattinson ocupando o papel principal do famoso Homem-Morcego.
“Estrada da Fúria” também reúne os atores Nicholas Hoult e Josh Helman, que dão vida a membros do exército de War Boys. Eles são subordinados de Immortan Joe, interpretado pelo ator Hugh Keays-Byrne, que faleceu em 2020, aos 73 anos. Keays-Byrne era o mesmo que, na década de 70, havia dado rosto ao violento líder de gangue Toecutter no primeiro filme da saga “Mad Max”.
Filhos de Immortan Joe, Rictus Erectus e Corpos Colossus são interpretados, respectivamente, pelos atores australianos Nathan Jones, que também é lutador profissional, e Quentin Kenihan, que morreu em 2018, aos 43 anos. Ele era portador de osteogênese imperfeita, uma doença óssea rara.
Do rádio às telas
Paulistano, porém são-carlense de coração, William Rivera nasceu no dia 6 de janeiro de 1974 e passou grande parte da infância na frente da televisão. Ele testemunhou da sala de sua casa, no interior paulista, o nascimento e o desenrolar da saga “Mad Max”, produzida do outro lado do mundo, na Austrália.
“Foi um dos primeiros filmes que eu vi na minha vida, então posso dizer que sempre fui fã”, afirma. Mal sabia ele, naquela época, que seu destino se cruzaria décadas mais tarde com o universo criado pela cabeça de George Miller.
Bastante influenciado pelos filmes e programas que assistia quando criança, Rivera começou a se interessar pelo teatro por volta dos 13 anos de idade. “Eu estudava no Colégio Objetivo, em São Carlos, e participava de peças da escola. Eu topava qualquer coisa, cheguei até a pular da janela pendurado em um gancho e vestido de fantasma”, recorda-se.
“Uma professora de Artes dizia que eu levava jeito para a coisa e me passou o contato de uma trupe de teatro de Ribeirão Preto, que fazia viagens e se apresentava pelo estado, mas meu pai não aceitou por preconceito e preferiu me inscrever em uma escola de radionovela, embora fosse teatro do mesmo jeito, só que com microfone na frente”, compara William Rivera.
Foi assim que, no início dos anos 90, aos 16 anos, William Rivera conheceu a atriz Silvia Poggetti, à época diretora do mesmo curso de radionovela em que o pai o matriculou em São Carlos.
Ao fim daquela década, Poggetti ficaria nacionalmente conhecida pela participação em “Malhação”, tradicional seriado da Rede Globo, interpretando a empregada doméstica Maria Maravilha em duas temporadas (6 e 7), exibidas entre 1999 e 2001.
Pouco tempo depois, em 2006, Silvia Poggetti foi escolhida para integrar a equipe de artistas do Cirque du Soleil, maior companhia circense e teatral do mundo, onde viveu a personagem Cleaning Lady no espetáculo “La Nouba”.
“A Silvia [Poggetti] estava fazendo uma seleção criteriosa para a radionovela ‘O Diletante’, ouviu a minha voz lendo o texto e me escolheu para fazer o par romântico dela. Gravamos no Senac e depois fomos ao ar em três rádios diferentes em São Carlos, ela ficou muito contente. Esse foi o meu pontapé inicial e peguei gosto pelo rádio, passando a querer trabalhar na área, não importava o que eu fizesse”, salienta William Rivera.
Fisgado pelas ondas sonoras, William Rivera trabalhou na Rádio São Carlos e depois no Sistema Clube de Comunicação, tanto na Rádio Clube quanto na TV Clube, afiliada da Rede Bandeirantes, em Ribeirão Preto, enquanto cursava paralelamente Jornalismo e Artes na Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp).
Em 2000, após se formar em ambos os cursos, Rivera se mudou para a capital paulista, onde atuou como apresentador e repórter das rádios Trianon e Eldorado, a primeira por apenas três meses e a segunda durante dois anos. Apaixonado por esporte, ele cobriu partidas de futebol e corridas de Fórmula 1, mas sua maior realização na profissão foi dar o furo da notícia da morte de Mário Covas, ex-governador de São Paulo, em 2001.
Em 2003, por motivos de ordem sociopolítica, William Rivera deixou o Brasil e partiu rumo à Austrália, embarcando com visto de estudante. Quase duas décadas depois, agora com dupla cidadania, ele permanece no distante continente da Oceania, estabelecido na cidade de Sydney.
Na famosa terra dos cangurus, Rivera começou trabalhando logo de cara na SBS (Special Broadcasting Service), rede de comunicação australiana que possui canais de televisão e rádios transmitidos em vários idiomas. Depois dessa experiência, que durou até 2006, ele também colaborou com a rádio comunitária Eastside FM.
Como ator, além da participação em “Mad Max: Estrada da Fúria”, William Rivera trabalhou em outras produções locais, como nas séries “Australia: The Life Of Us”, “Pete Boone” e “House of Hancock”, estrelada pelo ator neozelandês Sam Neill, o mesmo que interpretou o paleontólogo Alan Grant em filmes da saga “Jurassic Park”. Confira abaixo o trailer da minissérie de televisão “House of Hancock”, lançada em 2015:
Deficiência física garantiu papel em “Estrada da Fúria”
Em 2013, após mudar o visto australiano para refugiado, William Rivera estava procurando emprego e se deparou certo dia com um anúncio no jornal buscando atores interessados em trabalhar em um filme de Hollywood. Detalhe: preferencialmente com algum tipo de deficiência física. O perfil se encaixava perfeitamente.
“Tenho paralisia cerebral e a metade direita do meu corpo é semiparalisada, ou seja, tanto braço quanto perna não funcionam muito bem, então eu manco quando estou andando. Todo mundo sempre duvidou da minha capacidade por causa da minha deficiência”, explica Rivera.
“Foi a entrevista de trabalho mais esquisita que eu já tive na vida”, define William Rivera.
Ele não sabia do que se tratava, mas ficou com uma pulga atrás da orelha. “O anúncio dizia que era uma produção cinematográfica americana. Eu até imaginei que seria para fazer o Corcunda de Notre Dame ou gárgula em filme de terror. Achei engraçado, mas peguei o telefone e liguei. O responsável pelo elenco atendeu a ligação, ficou animado com a minha descrição física e pediu para eu ir até o Fox Studios. Quando cheguei lá, ele estava me esperando na porta e me pediu para fazer alguns testes, como correr, pular e agachar. Não me deu nenhum detalhe sobre o filme, mas falou que voltaria a entrar em contato”, reconstitui Rivera.
“Tirei foto com plaquinha no peito e assinei um contrato de confidencialidade onde estava escrito o nome de George Miller, então suspeitei que se tratava de um novo filme ‘Mad Max’, mas não falei nada e fui embora para casa. Uma semana depois, o responsável pelo elenco me ligou para confirmar e avisar que eu estava dentro”, relembra William Rivera.
Depois da participação garantida em “Mad Max: Estrada da Fúria”, verdadeiro trunfo para o seu portfólio, William Rivera imediatamente fechou contrato com uma agência de atores e, por meio dela, não demorou a receber mais um convite irrecusável: fazer uma ponta no filme “Invencível” (2014), dirigido pela estrela Angelina Jolie, que também estava prestes a ser gravado na Austrália naquela época.
“A produção ligou para a agência porque estava procurando um deficiente físico real para fazer uma cena no começo do filme. Eles se interessaram por mim e queriam me contratar porque viram na ficha que eu falava inglês, espanhol e italiano, além de um pouco de alemão e polonês, que são as línguas do Holocausto”, associa William Rivera.
“O Invencível” é um filme que se passa durante a Segunda Guerra Mundial, com foco na incrível história de superação do prisioneiro sobrevivente Louis Zamperini, ex-corredor olímpico, filho de imigrantes italianos, que representou os Estados Unidos nos polêmicos Jogos de 1936, em Berlim, durante Alemanha nazista, com Adolf Hitler no poder. Na cinebiografia com direção de Angelina Jolie, Zamperini é interpretado pelo ator Jack O’Connell.
No entanto, o acerto para trabalhar em “Invencível” esbarrou em um impasse envolvendo a agência e, assim, William Rivera precisou optar exclusivamente pela participação em “Mad Max: Estrada da Fúria”.
“A agência não queria que eu trabalhasse em dois filmes e ela só ganhasse dinheiro de um lado. Por pura ganância, eles tentaram me convencer a não fazer ‘Mad Max’, mas eu já tinha assinado”, esclarece Rivera.
Maquiagem e próteses
Para interpretar um dos horrendos personagens do grupo de miseráveis “The Wretched”, William Rivera necessitou de muita maquiagem e até prótese no rosto. “A minha caracterização demorava três horas e meia para ser feita. Eu chegava para trabalhar às duas e meia da manhã e só saía de lá às nove e meia da noite. Dificilmente alguém conseguiria me reconhecer porque era um negócio muito desenvolvido. Eles faziam molde do meu rosto e outras coisas bem características de making of de filme de Hollywood”, destaca Rivera.
Mas nem todo mundo passava por esse mesmo exaustivo processo, pois dependia da hierarquia conquistada no dia a dia ou até da própria aparência natural dos atores figurantes. “Tinha um cara com nariz gigante e rosto todo deformado que nem precisou de muita maquiagem. É um músico de rua que canta na estação de trem para ganhar dinheiro. Ele leu o anúncio do filme e a direção de elenco gostou bastante da fisionomia dele”, relata William Rivera.
Luz, câmera, ação e… porrada
Com maquiagem pronta e próteses instaladas, só faltava entrar em cena. Para incorporar o seu personagem, que luta desesperadamente pela sobrevivência diante da falta de suprimentos no meio do deserto, William Rivera recebeu uma importante e útil dica do diretor George Miller antes de gravar uma das primeiras cenas do filme. Nela, Immortan Joe libera água do alto de sua fortaleza, mas a ação dura só alguns segundos, gerando um enorme alvoroço entre os miseráveis, que se digladiam em direção à cascata que escorre entre as pedras.
“O George Miller veio até mim e perguntou se eu estava preparado para tomar porrada porque ia ter uma cena com empurra-empurra e ele disse que gostava de realidade, então me pediu para correr e tentar chegar primeiro que todo mundo”, recorda William Rivera, que precisou mostrar coragem e determinação na cena.
“Tinha um figurante com figurino de asas nas costas que começou a me cutucar com o equipamento, mas eu estava com uma panela na mão e a usei para bater na cabeça dele. Ele tropeçou no meu pé e caiu no chão”, relembra o duelo cênico que ganhou contornos de realidade.
“Eu saí com o corpo todo roxo e cortado. Teve um dia que a maquiadora apertou o meu olho e gritei. Ela pediu desculpa porque achou que era maquiagem, mas na verdade era um ferimento real no supercílio”, conta Rivera.
Em uma das tomadas de gravação da última cena do filme, quando Max e Furiosa retornam à Cidadela e exibem o cadáver de Immortan Joe para todos saberem que ele está morto, William Rivera sofreu um corte na perna em mais uma fiel encenação de conflito entre os centenas de atores figurantes, tentando subir na plataforma elevada por correntes até o alto da fortaleza fictícia.
“Eu bati o tornozelo no ferro e começou a sangrar. Terminamos a cena e a Zoë Kravitz veio do meu lado preocupada pedindo para chamarem o atendimento médico. Eu virei para ela e falei que preferia um beijinho. Ela bagunçou meu cabelo e me dirigiu um palavrão, mas em tom de brincadeira. Depois disso, claro, eu fui socorrido”, conclui William Rivera.
Brigas e atrasos de Tom Hardy
Retratados em detalhes no recém-lançado livro “Blood, Sweat & Chrome: The Wild and True Story of Mad Max” (“Sangue, Suor & Cromo: A Selvagem e Verdadeira História de Mad Max”, em tradução livre para português), publicado em fevereiro deste ano pelo ator e escritor norte-americano Kyle Buchanan, os bastidores de “Estrada da Fúria” foram bem quentes, e não apenas pelo calor do deserto da Namíbia, mas também pelos frequentes atritos entre Charlize Theron e Tom Hardy.
As recorrentes brigas entre os dois grandes astros do filme eram causadas especialmente por monumentais atrasos do ator inglês, que descumpria os horários de gravação repetidas vezes, com muito descaso pela equipe de filmagem. Pontualidade nada britânica.
“A minha maquiagem derretia e eu tinha que voltar um monte de vezes para retocar, não adiantava nem usar capa de chuva”, lembra William Rivera, a respeito de um dos atrasos de Tom Hardy.
O ator brasileiro William Rivera, inclusive, sentiu isso na pele. “Eu fiquei pelo menos três horas do lado de fora, embaixo de chuva, esperando o Tom Hardy sair do trailer e aparecer para gravar uma cena, mas essa sem a participação da Charlize Theron. O que se comentava é que ele tinha dado piti após descobrir que estava ganhando cachê menor que a Charlize”, comenta Rivera, sobre os boatos que corriam no set.
Charlize Theron, uma estrela simpática
Foram apenas alguns minutos de atraso, quase nada perto das horas de espera por Tom Hardy, mas o ator brasileiro William Rivera também deixou Charlize Theron de braços cruzados antes do início da gravação de uma cena. Nesse caso, no entanto, a atriz se mostrou bastante compreensiva e simpática, deixando a melhor impressão possível, ao contrário de seu antagonista dentro e fora das telas.
“Eu estava fazendo a maquiagem dentro da tenda e uma mulher loira de cabelo curtinho chamada Danielle Wilson, da nossa equipe, veio perguntar quanto tempo faltava para terminar. A maquiadora respondeu cinco minutos e a Danielle passou a mensagem pelo rádio, pedindo para que a Charlize aguardasse mais um pouco. Eu estava fazendo uma atriz ganhadora do Oscar esperar pela minha chegada, dá para acreditar?”, indaga Rivera, perplexo.
Ele prossegue: “Estava chovendo e um carro veio me buscar para me levar até o local de gravação. Eu me senti uma estrela, com um rapaz segurando o guarda-chuva e abrindo a porta para mim. Quando cheguei, falei com a Charlize pela primeira vez e ela foi muito gente boa, apresentando-se e perguntando meu nome antes de começarmos a gravar a cena”.
“Furiosa” aquecendo os motores
Já existem planos para a produção do quinto filme da saga “Mad Max”, possivelmente com o subtítulo “The Wasteland”, mas certo mesmo é o spin-off prelúdio “Furiosa”, atualmente em início de produção, após alguns atrasos, com previsão de lançamento para daqui a dois anos. Já tem até data certa: 24 de maio de 2024.
Mais uma vez com direção de George Miller, como não poderia ser diferente, o filme terá a atriz Anya Taylor-Joy, da série “O Gambito da Rainha” (2020) e do recém-lançado filme “O Homem do Norte” (2022), assumindo o papel-título, o mesmo interpretado por Charlize Theron em “Estrada da Fúria”, só que agora o foco será nas origens da personagem, em uma volta ao passado, por isso a escolha por uma jovem de 26 anos para interpretá-la.
O elenco de “Furiosa” também contará com o galã australiano Chris Hemsworth, desta vez como o principal vilão da história, Dr. Dementus. O ator inglês Tom Burke é outro confirmado. Será que haverá espaço novamente para o brasileiro William Rivera?
O filme “Furiosa” será inteiramente gravado na Austrália e terá o maior orçamento da história para uma produção cinematográfica no país: cerca de US$ 230 milhões, com incentivo fiscal de US$ 175 milhões.
O roteiro será assinado por George Miller e Nico Lathouris, assim como aconteceu em “Mad Max: Estrada da Fúria”, que ainda teve Brendan McCarthy como um dos co-roteiristas. A produção de “Furiosa” caberá a Miller e Doug Mitchell, que também estava envolvido no filme anterior, formando um trio de produtores junto com P.J. Voeten.
Além disso, “Furiosa” marcará o retorno da parceria entre George Miller e o compositor holandês Tom Holkenborg, mais conhecido em Hollywood como Junkie XL, o mesmo autor da trilha sonora de “Estrada da Fúria”.
George Miller de volta a Cannes após sete anos
Às vésperas de assumir as rédeas de “Furiosa”, uma década após o fantástico trabalho à frente de “Mad Max: Estrada da Fúria”, o diretor George Miller retorna às telonas após sete anos com o filme “Three Thousand Years of Longing” (2022), estrelando Idris Elba e Tilda Swinton.
O mais novo longa-metragem do cineasta australiano de 77 anos estreou na semana passada, fora de competição, no tradicional e badalado Festival de Cannes, cuja 75ª edição foi realizada entre os últimos dias 17 e 28 de maio, na França.
George Miller não participava do evento de Cannes desde 2015, quando a 68ª edição do festival ficou marcada pela exibição de “Mad Max: Estrada da Fúria”, com direito a ovação da imprensa internacional.
Mistura de romance com fantasia, “Three Thousand Years of Longing” chega aos cinemas norte-americanos somente em 31 de agosto e ainda não há previsão de lançamento no Brasil, mas deve ser entre setembro e outubro. Confira abaixo o trailer, divulgado há 10 dias.