Cantão, uma das maiores cidades da China e importante centro industrial, proibiu nesta segunda-feira 911) a maioria das entradas, num momento em que o país enfrenta o pior surto de Covid-19 desde o início da pandemia.
Xangai, a ‘capital’ financeira da China, registou 26.087 novos casos, nas últimas 24 horas, entre os quais apenas 914 têm sintomas. A cidade, de 26 milhões de habitantes, está sob bloqueio, com muitos moradores confinados em casa há três semanas.
Cantão ainda não anunciou um bloqueio deste tipo. A metrópole, com 18 milhões de habitantes, situada no sudeste da China, abriga algumas das principais empresas chinesas e o aeroporto mais movimentado do país.
A cidade registou 27 casos, nas últimas 24 horas. As aulas passaram já a ser realizadas de forma remota para todos os níveis de ensino. Um centro de exposições foi convertido num hospital improvisado, enquanto as autoridades realizam testes em massa em toda a cidade.
Apenas cidadãos com uma “necessidade definida” de sair de Cantão podem fazê-lo, e somente se testarem negativo para o vírus nas últimas 48 horas, disse o porta-voz da cidade Chen Bin.
A China continua a reagir a surtos de Covid-19 com medidas rigorosas, no âmbito da estratégia de ‘zero casos’, apesar dos crescentes custos econômicos e sociais.
No domingo (10), o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Zhao Lijian, disse que a China apresentou protestos junto das autoridades dos Estados Unidos, depois de o Departamento de Estado ter aconselhado cidadãos norte-americanos a reconsiderarem viagens para a China, devido à “aplicação arbitrária” das leis locais e restrições contra a Covid-19, particularmente em Hong Kong, na província de Jilin e no município de Xangai.
As autoridades dos EUA citaram o risco de “pais e filhos serem separados”. A China está “fortemente insatisfeita e opôs-se firmemente à acusação infundada feita pelos EUA contra a resposta epidêmica”, disse Zhao.
As restrições estão sendo anunciadas pelo secretário-geral do Partido Comunista Chinês (PCC), Xi Jinping, que exigiu estabilidade social, acima de tudo, na preparação para um importante Congresso do PCC, no último trimestre deste ano.
O mais importante evento na agenda política do país vai servir para conceder a Xi Jinping um terceiro mandato como líder, quebrando com a tradição das últimas décadas, que determinava um máximo de dois mandatos para os lideres do partido.
O jornal oficial em língua inglesa China Daily reconheceu que as medidas aplicadas em Xangai estão “longe de ser perfeitas” e apontou para a demissão, na semana passada, de três funcionários locais, por negligências dos seus deveres.
Mas ressalvou que isto não se deve se tornar uma “desculpa para politizar o incidente e culpar a China”. Apesar do número total de casos ascender a cerca de 200.000, nenhuma morte foi relatada em Xangai.
As autoridades da cidade também disseram garantir suprimentos diários para os moradores, na sequência de reclamações sobre entregas de alimentos e outras necessidades. Os residentes recorreram à compra coletiva de mantimentos porque não têm permissão para sair dos seus prédios, com sucesso apenas parcial na obtenção dos bens necessários.
Pequim tem relativamente poucas restrições, embora o bairro de Erjiefang, incluindo o famoso distrito de arte 798, tenham sido colocados sob isolamento e classificados como áreas de alto risco, depois de detetados oito casos, nas últimas duas semanas.
A China mantém as fronteiras encerradas desde março de 2020. Quem chega ao país tem que cumprir uma quarentena de três semanas, num hotel designado pelo governo. As autoridades exigem a apresentação do certificado negativo dos testes serológicos tipo IgG e IgM e o teste de ácido nucleico PCR.
Nesta altura, a maioria dos países, incluindo na Ásia, como Coreia do Sul, Vietname ou Singapura, estão reduzindo gradualmente as restrições e a abrir as fronteiras aos turistas.
Mas na China, a imprensa oficial apresenta a opção de coexistir com a doença como “uma desistência” e “um falhanço” na luta contra o vírus. A estratégia chinesa é fonte de intenso orgulho para o Partido Comunista.
(Agência Lusa)