O isolamento provocado pela pandemia nos roubou muitos momentos bons. O café com as amigas, os abraços com os mais queridos, as gargalhadas (sem máscara) e até as crises casuais de espirros que, antes desse vírus cruel aparecer, não inspiravam maiores preocupações.
Há pouco tempo trabalhávamos em redações com ilhas grudadas, repórteres e editores lado a lado, telefones divididos, sem álcool gel por perto, que saudade! Provavelmente nunca mais será do jeito que era, olha eu aqui escrevendo solitariamente em home office. De tão sozinha me pego falando com as paredes, ainda bem que o zap alivia a falta que o contato humano faz.
Para não pirar mantenho a telinha como companheira, uma voz em meio ao silêncio. Observo o visual de Astrid Fontenelle, apresentadora do programa Saia Justa, do GNT, nessa fase despida da tão cobrada vaidade ao assumir os cabelos grisalhos. Muito legal perceber que ao cuidar de si e do próximo, a necessidade tola de refazer a raíz a cada quinze dias cai por terra.
Sem colar, anel, brinco e outros acessórios corriqueiros na rotina feminina, o rosto coberto por máscara deixou até o batom esquecido na gaveta. Apenas os olhos das repórteres revelam indignação e tristeza nos telejornais repletos de informações pesadas. Admiro essas profissionais compenetradas que se emocionam quando informam os danos causados pela pandemia.
Aplauso também para a postura otimista e ao mesmo tempo realista de Maria Beltrão em seu Estúdio I. Há alguns dias ela apareceu em outro programa da Globonews mostrando os santos preferidos, entre eles Santa Clara. Mulher de fé, segue em frente sem perder a esperança.
Sinto vontade de ver uma programação nova na TV, sem reprises, a não ser no Viva, se bem que essa fase me deu a chance de rever a maravilhosa Nicette Bruno na novela global A Vida da Gente.
No papel de Iná, a atriz dá mais um banho de interpretação na pele de uma avó que todos gostariam de ter. Nicette foi uma das vítimas da Covid-19, e revê-la na telinha é um bálsamo. Dá um nó na garganta saber que esse vírus infeliz a levou em dezembro, dias antes do Natal.
Não me conformo com as notícias das celebridades que postam fotos de viagens luxuosas nesse período de perdas tão drásticas. Que me importa saber do tour no México da estrela global ou do feriadão prolongado do sertanejo da moda? Tem que ter um pouco de sensibilidade nesses meses sem fim que escancaram as diferenças de uma forma brutal, como não se dar conta disso?
Admiro as mulheres que limpam corredores e banheiros de hospitais, enfermeiras e médicas que cuidam dos doentes e recepcionistas de tantos estabelecimentos médicos, inclusive consultórios, com duas máscaras de proteção que escondem fisionomias exaustas. Por trás desse aparato há seres de luz, íntegros e generosos.
Nos momentos de insônia recorro ao antigo e sempre atual livro Mulheres que correm com os lobos, de Clarissa Pinkola Estés. Continuo rabiscando os parágrafos para me manter inteira e disposta a seguir em frente. Assim seja!
Janete Trevisani é jornalista – [email protected]