O debate entre os candidatos à Prefeitura de Campinas, realizado nesta segunda-feira (16) em São Paulo, foi marcado pelas críticas ao prefeito e candidato à reeleição, Dario Saadi (Republicanos), que não compareceu, e pela troca de farpas entre os participantes – o deputado estadual Rafa Zimbaldi (Cidadania); o deputado federal Pedro Tourinho (PT); e o empresário Wilson Matos (Novo).
“Fujão” foi o termo usado ao longo de todo o debate pelos candidatos para se referirem a Saadi.
O debate foi na sede da ESPM em São Paulo. Foram cinco blocos, totalizando 1 hora e 20 minutos de duração. A moderação foi feita pela jornalista Marcela Rahal, âncora do programa Ponto de Vista (de VEJA). O debate foi o sexto – e último – de uma série promovida pela revista VEJA em parceria com a ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), o instituto Paraná Pesquisas e o escritório Bonini Guedes Advocacia.
A transmissão aconteceu pelo canal de VEJA no YouTube, pelo site da revista (www.veja.com.br) e pela plataforma de streaming VEJA+.
Ausência de Dário
O prefeito de Campinas divulgou, por meio de sua assessoria política, que o motivo da ausência foi a incompatibilidade do horário do debate com a agenda de prefeito. O debate estava previsto para começar às 11h desta segunda, mas por conta do atraso de Matos, começou meia hora depois. “Como prefeito, ele não pode se ausentar de Campinas no horário proposto”, mencionou a assessoria.
“Dário Saadi além de candidato também é prefeito em exercício. Com isso, tem de conciliar as duas agendas. O debate da Revista Veja aconteceu em horário de expediente. E no dia do debate havia um evento da Abras, o ’24 Food Reytail Future”, no mesmo horário. Esse setor é um dos que mais trouxe supermercados e atacadões para a cidade, gerando emprego nos últimos anos. Chegamos a propor o debate em outro horário, mas não foi possível. O prefeito participou do debate da Band e vai estar nos debates da Record e da Globo”, diz nota do candidato à reeleição enviada ao Hora Campinas.
Como foi o encontro
O debate começou com Tourinho perguntando a Zimbaldi sobre o que este fez a respeito das condições climáticas da cidade enquanto foi vereador (ele foi eleito pela primeira vez em 2004 e reeleito até 2018, quando concorreu e foi eleito deputado estadual). Zimbaldi abriu sua resposta também criticando Saadi e disse que pretende plantar 2,3 milhões de árvores – e criminalizar os responsáveis pelas queimadas na região.
Tourinho, no comentário, disse que o adversário nada fez por Campinas na frente ambiental. Na réplica, Zimbaldi disse que Tourinho é comandado por Jonas Donizette (deputado federal pelo PSB, foi prefeito de Campinas até 2020).
Zimbaldi perguntou a Matos se este pretende mesmo levar a Câmara Municipal para o Palácio da Justiça, em vez de instalar no local o Poupatempo da Saúde. Matos abriu a fala desculpando-se pelo atraso, relatando ter sido abordado em um bloqueio da Polícia Militar, e disse que vai transferir o Legislativo municipal para o Palácio da Justiça para que os vereadores possam “sentir como está o Centro”.
Zimbaldi disse que o Poupatempo da Saúde será instalado no Palácio da Justiça em uma eventual gestão sua. Matos, na réplica, disse que a população de Campinas já viu que Zimbaldi não entrega o que promete.
Matos perguntou a Tourinho sobre projetos para a periferia da cidade. Tourinho, abriu a fala chamando o oponente de “boca de aluguel” de Saadi, destacou sua atuação como médico da rede pública e que vive “cotidianamente a realidade das periferias”, com filas e esperas de anos por cirurgias e pela falta de investimento em ônibus.
O petista Tourinho disse que fará parcerias com o governo federal e estadual para implantar a Rede Hora Certa, com seis policlínicas pela cidade.
Matos, no comentário, disse que o adversário “não sabe o que é viver em rua de terra e precisar de posto de saúde”. Na réplica, Tourinho lembrou que Matos já foi candidato pelo PDT (de orientação ideológica à esquerda, diferentemente de seu atual partido), e que “pula de galho em galho”.
2º bloco
No 2º bloco, o editor de VEJA José Benedito perguntou a Zimbaldi sobre medidas para combater o aumento no número de mortes no trânsito devido ao excesso de velocidade. Zimbaldi afirmou que a cidade hoje tem uma “indústria da multa” e que nada do que é arrecadado vai para educação no trânsito – e passou a falar de seus projetos Escola do Futuro e Jovens de Futuro – voltados para educação em geral, incluindo orientações para motoristas, motociclistas e pedestres.
No comentário, Tourinho lembrou que os recursos para as obras do BRT de Campinas estão disponíveis há mais de dez anos e as obras não foram concluídas.
Zimbaldi voltou a dizer que o adversário segue orientações de Jonas Donizette e que em um eventual mandato seu, no 1º mês fará nova licitação para mais ônibus e para concluir o BRT – e que vai adotar isenção de tarifa aos domingos.
A repórter de VEJA Laisa Dall’Agnol perguntou a Matos como reverter as taxas de evasão escolar na cidade – hoje, cerca de 5% dos estudantes no 3º ano do Ensino Médio não concluem o curso. Matos disse que pretende adotar jornada em tempo integral, viabilizar a adoção das escolas cívico-militares e o método Montessori.
Matos também criticou em seguida a atuação do governo federal sobre o meio ambiente e chamou o adversário Rafa Zimbaldi de “frágil” (o que faria ao longo do debate, em outras ocasiões) e “sem noção”.
Zimbaldi respondeu lembrando que Campinas dispõe de R$ 2 bilhões para a área da educação, e que 55% dos alunos não estão alfabetizados. Matos, na réplica, elogiou Pablo Marçal (candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo) por “tirar a máscara” de políticos.
A pergunta que encerrou o bloco foi feita pela mediadora e âncora de VEJA, Marcela Rahal, enviada pelo professor da ESPM Alan Kuhar (Ciências do Consumo), sobre propostas para combater o aumento de crimes como roubos de cargas e homicídios dolosos.
Tourinho disse que haverá concurso para elevar o efetivo da Guarda Civil de Campinas em 700 homens, e que vai implantar “cinturões digitais” e um “observatório das violências” para ter informações em tempo real. Lembrou que, como deputado, pediu a instalação da Casa da Mulher Brasileira na cidade.
Matos, no comentário, disse que o PT (partido de Tourinho) é “a favor de quem rouba só um celularzinho”, e se ele também acha isso normal. Tourinho respondeu que pretende restaurar a iluminação pública da cidade em áreas onde há “bolsões de escuridão”.
3º bloco
No 3º bloco, Matos perguntou a Zimbaldi sobre IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), dizendo que o adversário foi responsável por elevar o imposto (o que teria expulsado empresas) e chamou o adversário de “frágil” (o que repetiria ao longo do debate).
Zimbaldi ironizou: disse que é chamado de frágil, mas também de “principal responsável” por elevar o imposto. “Num momento chama a gente de frágil, depois diz que é o responsável. Então ele está meio perdido”, disse.
Afirmou que vai revisar a planta genérica da cidade – que, por ter um dos impostos mais caros, perdeu empresas como Mercedes-Benz, Amazon, Microsoft e Itaú. Disse que revisará alíquotas e vai dar desconto em ISS (Imposto sobre Serviços)– e, para as empresas que se instalarem no Centro, o desconto será maior.
Matos, no comentário, chamou Zimbaldi de “cara limitado”. Zimbaldi replicou que quer fazer de Campinas o “Vale do Silício” brasileiro, para gerar emprego e atrair empresas.
Zimbaldi fez a pergunta seguinte a Tourinho, indagando como reverter a degradação da região central e reduzir a população de rua, o tráfico de drogas e a dependência química.
O candidato do PT disse que pretende levar para o Centro, em parceria com o governo federal, um campus do Instituto Federal de São Paulo, com capacidade para 5 mil a 6 mil estudantes.
Para a população de rua, haverá um gabinete de crise envolvendo secretarias de Saúde, Assistência Social, Segurança Pública e Educação para reabilitar as pessoas – e que haverá alíquotas diferenciadas para empresas que se instalarem no Centro.
Zimbaldi disse na réplica que vai coordenar secretarias e entidades civis e religiosas e comunidades terapêuticas. Tourinho, na réplica, disse que a Prefeitura vai promover atividades culturais nas praças da cidade: “Vamos articular com a segurança pública para que as pessoas tenham a garantia de que a experiência do centro da cidade vai voltar a ser boa”.
Tourinho, na pergunta seguinte, disse a Matos que o adversário fala pela direita, mas já foi do PDT, e que lhe falta personalidade.
“O que você está fazendo aqui?”, questionou. Matos respondeu que pretendeu trazer o VLT para a cidade e que vai “acabar com o morador de rua”: “Os 15% que precisam do social vão ter o social. O restante terá duas opções: saúde ou cadeia”.
Encerrou a resposta dirigindo-se a Zimbaldi, a quem chamou de “o cara mais fraco” e que tem respeito por Tourinho “pelo seu QI; você não é um cara burro – igual ao outro”.
Tourinho respondeu que é preciso entregar o BRT e concluir obras. Disse que a experiência de Matos no Brasil foi com um clube de futebol “que está mal”, referindo-se ao Mogi Mirim. Matos concluiu falando de sua biografia – que veio da periferia de Campinas, e que o adversário “é herdeiro”.
“Venho da favela. Como errei, se tenho negócios nos EUA? Tenho muito mais dinheiro que vocês dois juntos, consegui gerar dinheiro trabalhando”, disse Matos.
No fim do bloco, Zimbaldi usou seu direito de resposta referindo-se a Matos, dizendo que o adversário “sai atacando a tudo e a todos, não tem preparo”. “Nossa proposta é de mudança, não entrar em ataques de uma pessoa que fica nos EUA e volta a cada quatro anos e se coloca como da periferia.”
4º bloco
No 4º bloco, a repórter de VEJA Isabella Alonso perguntou a Tourinho sobre o que fará para evitar desastres ambientais como o recente incêndio no Pico das Cabras (no distrito de Joaquim Egídio, em Campinas).
Tourinho disse que a atual gestão não tem política de parceria com Bombeiros ou brigadas de voluntários – e “liberou geral” a especulação e o desmatamento. “Vamos interromper esse projeto que visa destruir a nossa zona rural” – e afirmou que o atual prefeito ganhou o apelido de “Dario Motosserra”.
Matos comentou que os projetos do adversário são bons, mas “o problema é o partido”, e que ele não fala da atuação do governo federal. Afirmou que convocaria o Exército para ajudar em situações de desastre ambiental. Tourinho replicou que fortaleceria a coleta seletiva e cooperativas de reciclagem, além de criar parques lineares em torno dos rios que cruzam a cidade.
O repórter de VEJA Ramiro Brites perguntou a Zimbaldi o que ele faria para impedir que o crime organizado avance no sistema de transporte público – e mencionou que o PCC controlaria ao menos três linhas de ônibus.
Zimbaldi disse que pretende elevar o efetivo da GCM de 800 para 2.500 homens em quatro anos e vai adotar a operação delegada (convênio entre Prefeitura e governo do Estado) para que “a própria guarda municipal, Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros tenham oportunidade de cumprir seu bico oficialmente para a Prefeitura”.
Tourinho disse que pretende fortalecer a integração para combater a ação do crime. Disse que Campinas não faz licitação de transporte público há 19 anos, e que vai comprar ônibus elétricos.
Zimbaldi comentou que o orçamento municipal é de R$ 9,34 bilhões e que é possível investir em segurança e educação.
“Vamos desenhar Campinas para os próximos 20, 30 anos”, prometeu Zimbaldi.
O bloco terminou com a pergunta da professora da ESPM Rosilene Marcelino (Ciências do Consumo), sobre o avanço de áreas urbanas em detrimento de espaços verdes – e o que será feito para combater a deterioração climática.
Matos, na resposta, se limitou a falar de sua biografia, de como construiu sua carreira nos EUA, e fez críticas a Zimbaldi. Disse que gerou emprego e renda e que tem seu “lado humano” – e que abriria mão do próprio salário como prefeito. Zimbaldi respondeu que pretende desacelerar empreendimentos imobiliários em áreas de preservação ambiental. Na réplica, Matos voltou a criticar Zimbaldi como frágil, e que a fala dele “irrita”.
Considerações finais
Nas considerações finais, Zimbaldi voltou a defender o Poupatempo da Saúde no Palácio da Justiça, defendeu sua gestão como presidente da Câmara Municipal e reforçou seu projeto Escola do Futuro e o projeto para reduzir a população de rua.
Tourinho criticou Saadi, a quem chamou de “tigrão nas redes sociais”, e voltou a falar do projeto Rede Hora Certa (de policlínicas nas periferias), defendeu a nova licitação de ônibus e falou da instalação do campus do Instituto Federal de São Paulo em Campinas.
Matos encerrou voltando a falar de sua biografia e criticando Zimbaldi pelo aumento de IPTU: “Um cara que aumenta IPTU é parceiro do [ex-prefeito de São Paulo Fernando] Haddad, do PT. Esses gostam de aumentar imposto”. Disse que esteve em 69 países e que aprendeu neles o que aplicar para o contexto de Campinas.