Internada no Hospital Mário Gatti com fortes dores de cabeça, Marilene de Lima Caetano Pereira vivia em meio ao caos. O marido, doente, mal podia trabalhar. E sustentar a casa e os filhos pequenos era um desafio que estava além de suas possibilidades naquele momento. Ao lembrar deste período de sua vida, Mary, uma goiana de Anápolis que construiu família em Campinas, não esconde as lágrimas. Neste 8 de março, sua história expõe um drama familiar que não resistiu ao amor e fé de uma mulher.
Mary hoje trabalha com terapia integrativa, um conjunto de práticas ligadas ao cuidado com a saúde, e atende uma média de 20 clientes por semana. A atividade garante a renda da casa, mas só foi entrar na vida dela em função do sofrimento do marido. “Via ele com muitas dores e dizia para mim mesma que precisava fazer algo para acabar com aquilo”, conta a mulher, cuja batalha começou em 1999, quando completou três anos de casada.
William, o marido, foi diagnosticado com hepatite C e, a partir de então, os problemas de saúde não deram trégua por, aproximadamente, 20 anos.
“Ele ficava muito tempo na cama”, lembra Mary. Além de hepatite C, William teve fibromialgia, doença crônica cujo principal sintoma é dor constante por todo o corpo, tuberculose, anemia e depressão. Em tratamento no Hospital de Clínicas da Unicamp e impossibilitado de trabalhar, o marido via a esposa se desdobrar em casa para cuidar dos filhos e assegurar o sustento diário. “Eu colocava manta térmica sobre o corpo dele para tentar aliviar as dores”, relata Mary, que conta como era a sua rotina nessa época.
“Levantava todos os dias as 4 horas da manhã para fazer salgado. Depois, lavava a louça, entregava as mercadorias e voltava para fazer trufas, pão de mel e cones com chocolate para vender. Trabalhava em casa, pois queria estar perto dos meus filhos também. Mas me sobrecarreguei e fui parar no Mário Gatti com fortes dores de cabeça. Fiquei 15 dias internada.”
Preocupado, o marido pediu para a esposa parar de trabalhar por um tempo. “Nesse período, meu irmão me ajudou muito”, relembra a mulher, que vivia na tentativa de vencer o medo de perder o esposo. “Minha mãe teve cirrose mesmo sem nunca ter consumido álcool, e acabou morrendo. Não queria que o mesmo acontecesse com ele e chorava muito ao pensar nessa possibilidade.”
Willian conseguiu um emprego numa concessionária de veículos, só que os problemas estavam longe de acabar. “Ele foi afastado do trabalho”, conta a esposa, na época ainda vitimada com os problemas de saúde que causaram sua internação no Mário Gatti. “Eu ficava zonza com tantos remédios, não conseguia caminhar na rua. Até que resolvi parar com a medicação e fazer algo pelo meu marido.”
Mary investiu em cursos gratuitos de cabeleireira e manicure e passou a trabalhar, atendendo nas residências e depois improvisando um salão na garagem da casa. Mas foi um outro investimento que determinou a mudança de vida. Ela descobriu a auriculoterapia, técnica derivada da acupuntura, como forma de eliminar as dores do marido e mergulhou de cabeça nesse universo.
“Comecei a aplicar as técnicas e, além do meu marido, toda a família foi beneficiada.” Hoje, por meio do trabalho que exerce há quatro anos em uma área reservada onde mora, no Jardim Novo Campos Elíseos, Mary vê a cura entrar na vida das pessoas e dentro da própria casa.
Trabalhando como técnico de obras de piso industrial, William segue em tratamento da hepatite C, mas o alívio de suas dores vem quando a esposa entra em ação. Já os filhos são o orgulho da mãe. Jhudare Rayane, de 18 anos, entrou na Unicamp, e Jhonnys Guilherme, de 16, faz curso de logística e dá aulas de bateria. “Eles são maravilhosos”, define Mary, de 47 anos.
Neste 8 de março, a mulher que chegou a ter uma renda média de R$ 15 por dia e hoje consegue ganhar em torno de R$ 100 em uma hora, celebra seu dia. “A persistência e a fé são sinônimos de grandes conquistas e a principal razão do meu esforço foi lutar pela minha família”, resume.