O Dia do Atletismo é comemorado neste sábado (9), em homenagem a uma das práticas esportivas mais antigas do mundo, conhecida como “esporte-base” por usar movimentos primários do ser humano como correr, andar, saltar e arremessar. Na história dos Jogos Olímpicos, o Brasil já conquistou 17 medalhas na modalidade, com cinco ouros, três pratas e nove bronzes. Nas Paralimpíadas, o retrospecto é ainda melhor, com 48 medalhas de ouro, 70 de prata e 52 de bronze.
Neste ano de 2021, o atletismo foi a modalidade que mais garantiu conquistas ao Brasil nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, com um total de 28 medalhas (oito ouros, nove pratas e 11 bronzes). Com 14 anos de história, a Associação Paraolímpica de Campinas (APC) teve quatro atletas convocados para disputar as Paralimpíadas deste ano.
Um deles foi Ricardo Gomes de Mendonça, que conquistou a medalha de bronze nos 200 metros da classe T37 para atletas andantes com paralisia cerebral. Estreante no principal torneio esportivo do mundo, o competidor superou a infecção por Covid-19 dias antes de embarcar para o Japão e fez história aos 31 anos.
“O caso mais emblemático foi o do Ricardo. Uma semana antes de embarcar para Tóquio, ele pegou Covid. Ficou de quarentena, quase assintomático, conseguiu se recuperar, foi para a sua primeira Paralimpíada e buscou uma medalha de bronze. A nossa performance dentro desse cenário foi muito positiva, tendo um atleta novo, na sua primeira convocação, trazendo bronze. Consideramos muito efetivo o número de convocados, dentro do cenário de atletas que temos no nosso projeto, e o fato de um deles ter trazido uma medalha”, valoriza Luiz Marcelo Ribeiro da Luz, gerente de projetos e diretor técnico da APC.
Além disso, a entidade também levou ao Japão os competidores Alan Fonteles, Ketyla Paula Pereira Teodoro e Kesley Josué Pereira Teodoro. Os três não conquistaram medalhas, mas dois deles também superaram barreiras impostas pela pandemia, enquanto o outro enfrentou a mudança no regulamento para realizar o sonho de representar o Brasil em mais uma edição dos Jogos Paralímpicos.
“Eu considero muito positiva a participação dos atletas da APC. Nós tivemos uma situação que dois dos nossos atletas (Ketyla Paula Pereira Teodoro e Kesley Josué Pereira Teodoro), dois meses antes da viagem, tiveram Covid e quase foram impedidos de viajar. Sofreram muito com a questão da doença, interromperam treinamentos e mesmo assim retomaram a condição atlética para fazer um bom papel, terminando a competição entre os 12 melhores do mundo. Foi um sucesso ter vencido a doença e se colocar na condição de competir”, comemora Luiz Marcelo.
“Temos o caso do Alan Fonteles que terminou entre os oito melhores do mundo na prova principal dele. Existia uma questão da adaptação a uma prótese na perna em relação a uma mudança de regulamento. Ele teve que se adaptar a uma prótese nova e isso também gerou algumas situações pois o período de pandemia impediu um treinamento mais extenso e contínuo. Isso acabou atrapalhando um pouquinho o desempenho dele, mas da mesma forma conseguiu a convocação para representar o Brasil”, completa.
Futuro
Após a participação nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, os atletas da APC disputam a última competição da temporada que é o Meeting Loterias Caixa de Atletismo. O torneio é organizado pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), acontece em Campinas, no dia 13 de novembro, com gestão e apoio da APC.
“É importante ressaltar que também já se iniciou o trabalho pensando nos Jogos de Paris. Ano que vem já tem Campeonato Mundial e não há muito tempo de descanso. Os atletas voltaram de Tóquio, fizeram o período de descanso e comemoração com as famílias e agora já estamos focados nessa última competição do ano e toda a preparação para 2022”, explica Luiz Marcelo.
Ciclo curto
Diferente do que ocorreu antes das Paralimpíadas de Tóquio, quando os atletas tiveram cinco anos de preparação por conta da pandemia da Covid-19, os Jogos Paralímpicos de Paris terão ciclo mais curto, de apenas três anos até 2024.
Luiz Marcelo conta o que espera do calendário e da sequência de disputas até a próxima edição da competição esportiva mais importante do mundo.
“Esse ciclo certamente será muito intenso. O período de descanso e os ajustes para as competições que já estão muito próximas precisam ser bem trabalhados. A gente tem que lembrar que a pandemia não acabou, estamos no período pandêmico e apesar da vacina ter tranquilizado um pouco a população, ainda continuamos no período da pandemia, com todas as avaliações e trabalhos médicos. Isso continua gerando uma certa tensão coletiva de se cuidar ainda mais e seguir todos os protocolos de saúde”, finalizou.
Orcampi em Tóquio
Criada em 1997, a Orcampi é a única equipe de atletismo do Brasil que possui um programa que contempla todas as etapas da formação esportiva: captação de talentos, formação, aprimoramento técnico e, por fim, rendimento. Ricardo D’Angelo é um dos fundadores da entidade, ao lado de Vanderlei Cordeiro de Lima, um dos maiores maratonistas da história do atletismo brasileiro, medalha de bronze nas Olimpíadas de Atenas, em 2004, além de campeão dos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg, em 1999, e Santo Domingo, em 2003.
Sediada em Campinas, a entidade também levou o nome da cidade para representar o Brasil em Tóquio nos Jogos Olímpicos deste ano.
Márcio Teles, de 27 anos, disputou a sua segunda Olimpíada na prova dos 400 metros com barreiras. Por outro lado, Tiffani Marinho, de 22 anos, fez a sua estreia em Tóquio nos 400 metros rasos e no revezamento 4×400 metros mistos, prova que foi disputada pela primeira vez no programa olímpico. Por fim, Fernando Ferreira, de 22 anos, também estreou na Olimpíada, na prova do salto em altura.
No resultado final, nenhum dos competidores conquistaram medalhas, mesmo assim a equipe brasileira no revezamento 4×400 metros mistos estabeleceu o recorde brasileiro e sul-americano com a participação de Tiffani.
Nos 400 metros com barreiras, Márcio garantiu sua melhor marca do ano nas Eliminatórias, mas acabou ficando fora da semifinal. No salto em altura, Fernando ficou fora da final em sua primeira participação olímpica.
“No esporte a gente quer sempre um pouco mais. Nós tivemos o Márcio e a Tiffani quase passando das Eliminatórias para a semifinal. O Márcio ficou em 24º, passavam 24, só que o 25º classificou em uma posição melhor que ele em outra série e o Márcio acabou não passando para a semifinal por uma posição. O Márcio fez a melhor marca do ano, então ele acabou tendo um bom desempenho”, destacou Evandro Lázari, treinador da Orcampi que esteve em Tóquio.
“A Tiffani não fez o melhor tempo do ano. Se tivesse repetido a melhor marca do ano, ela teria classificado. Também passavam 24 e ela ficou em 26º. Então, fica esse gostinho de quase. No revezamento, a Tiffani foi a parcial de destaque da equipe que acabou estabelecendo o recorde o sul-americano. Foi uma boa participação no revezamento. Não classificamos para a final, mas conseguimos bater o recorde brasileiro e sul-americano”, valorizou o técnico.
“O Fernando também não fez a melhor marca do ano. Se tivesse feito, também teria passado para a final. Então no geral foram resultados razoáveis, é um evento grande, e nós sempre falamos que no evento grande quem tem o melhor equilíbrio emocional, consegue fazer sua melhor participação e marca”, completou.
Sequência da temporada
De olho na sequência do ano após a disputa dos Jogos Olímpicos, oito representantes da Orcampi foram convocados para integrar a seleção brasileira de atletismo na disputa do Campeonato Sul-Americano Sub-23. A competição será realizada nos dias 16 e 17 de outubro, em Guayaquil, no Equador.
Tiffani Marinho, destaque nos Jogos Olímpicos de Tóquio, vai disputar os 400 metros e o revezamento 4×400 metros feminino em Guayaquil. Outra representante da equipe campineira será Marlene dos Santos, que vai competir na prova dos 400 metros com barreiras.
“As meninas voltaram a treinar faz pouco tempo, estamos finalizando o período de preparação geral delas. Vamos competir como forma de avaliação do início da temporada e preparação para os Jogos Pan-Americanos Júnior Sub-23, previsto para o final de novembro e início de dezembro. Temos a expectativa que a Tiffani e a Marlene sejam convocadas para esse evento, que será disputado pela primeira vez na história” avalia Evandro Lázari.
Atual campeã brasileira sub-23, Larissa Macena será a representante da equipe campineira no heptatlo. “A Larissa tem evoluído muito desde o ano passado, melhorando as suas marcas a cada competição. Esperamos que ela faça o seu personal best (melhor marca da carreira) no Equador e que esteja no pódio, até mesmo no primeiro lugar da competição”, projeta Dino Cintra, treinador da Orcampi.
Isabel de Quadros fecha a lista das representantes femininas da Orcampi no Sul-Americano Sub-23. Nessa temporada, a atleta venceu a prova do salto com vara no Brasileiro Sub-23 e foi vice-campeã no Sul-Americano Adulto.
Na categoria masculina, a Orcampi será representada por Matheus Borges, atual campeão brasileiro dos 1.500 metros, e por Vinicius de Carvalho, medalha de bronze no Sul-Americano Sub-20 nos 3.000 metros com obstáculos. “A expectativa é que os atletas compitam bem lá, melhorem suas respectivas marcas e, com isso, busquem mais medalhas para o Brasil”, avalia o treinador Alex Lopes.”