Vocês costumam frequentar feiras livres? Aquelas de rua com barracas de frutas, verduras, legumes, peixes e, claro, o pastel (Ah, o pastel!). Confesso que adoro andar com calma na feira. Com o passar dos anos, a feira perto de casa foi perdendo força e sobraram apenas duas ou três barracas de produtos hortifrutigranjeiros e a do pastel.
Sempre que tenho oportunidade visito também a feira de produtos orgânicos que ocorre aos domingos no Parque Ecológico Monsenhor Emílio José Salim e na quarta-feira no Bosque dos Jequitibás. Acredito que é uma boa oportunidade de olhar com mais carinho para alguns espaços públicos da cidade.
Aliás, para quem tem criança visitar uma feira é uma experiência bem divertida e conecta as crianças com uma alimentação mais colorida, saudável. Vale até como aprendizado para os pequenos, de descascar mais e desembrulhar menos.
Antes da pandemia estava encantada com a chegada das feiras noturnas, que se espalharam pelos bairros da cidade. Quem trabalha o dia todo pode abastecer a casa e ainda encontrar os vizinhos e amigos para uma boa conversa tão necessária em qualquer época da vida. Sei que algumas feiras noturnas já voltaram a funcionar, mas eu ainda não as revisitei.
Sou filha de verdureiro, então olhar o colorido da feira, sentir o cheiro das frutas sempre traz de volta boas lembranças da infância. Mas foi visitando a feira de produtos orgânicos que me dei conta da minha limitação de conhecimento de hortaliças. Catalonia? Bertalha? Couve Tingesai? Nirá? Couve japonesa Komarsuna? Nunca sequer ouvi falar.
Foi o jovem Axell Kou Minowa, 26 anos, que nasceu e cresceu na Vila Vila Yamaguishi, famosa por comercializar os “ovos de galinhas felizes”, que pacientemente foi me explicando durante algumas idas minhas à feira.
Axell é um dos filhos do casal Isack e Marceline Minowa, que se conheceu no Japão (ele brasileiro descendente de japoneses e ela suíça). Após passar um tempo no Japão aprendendo com o agricultor japonês Miyozo Yamaguishi (1901-1961), que acreditava que a transformação do mundo se dá por meio da harmonia entra a ação humana e a natureza, o casal se estabeleceu no Brasil e fundou, com um grupo de amigos, a Vila Yamaguishi, em Jaguariúna.
Até hoje as “galinhas felizes” são o carro-chefe da produção local. São aproximadamente 10 mil aves, que produzem cerca de 9 mil ovos por dia. As galinhas receberam o título de felizes por serem criadas soltas, só consomem alimentação orgânica e todo o aviário ter sido construído respeitando o bem-estar animal.
O jovem Axell acorda por volta das quatro horas da manhã, pois o dia de feira começa cedo. Formado em biologia na Unicamp e com doutorado em ecologia, ele se prepara também para seguir a carreira acadêmica. Mas claro que toda essa convivência harmônica com a natureza desde a infância trouxe para ele um olhar mais atento para a natureza e para a vida.
Nossa conversa foi além dos tipos de verdura que eu não conhecia. Ele me contou como desde pequeno aprendeu na prática sobre a importância de consumir alimentos orgânicos, da permacultura e da agroflorestal, tudo de forma natural, no dia a dia.
Para ele, conviver com a natureza mostra como somos parte de uma rede muito maior do que o círculo de pessoas com quem convivemos, além de que temos influência e somos influenciados por fenômenos que nem mesmo temos percepção.
Axell talvez nem saiba, mas toda vez que paro na barraca para comprar, ou simplesmente olhar os produtos e sentir o cheiro das frutas, estou tendo a oportunidade de uma aula de vida! Ao visitar a feira a gente vai aprendendo a evitar o desperdício, acompanhando a sazonalidade dos alimentos e se sentindo parte de uma grande comunidade.
Kátia Camargo é jornalista e adora visitar uma feira, de preferência sem pressa.