Você já soltou pipa? E maranhão ou papagaio? Dependendo da região do Brasil recebe nomes bem variados como pandorga, raia, curica e tantos outros que eu nunca havia ouvido falar. Conheci a história do Carlos Roberto Gozzi Minotti, 42 anos, proprietário da loja Fenix, na Vila Mimosa, em Campinas que comanda uma loja especializada em pipas das mais diferentes cores, tamanhos e modelos. Para quem é fã, vai se sentir no paraíso das pipas.
Eu, muito recentemente, resolvi me aventurar nesse universo com meu filho Marcos de 11 anos, que começou a se interessar por esse mundo.
Descobri até o nome que se dá para quem confecciona ou solta pipas. Chama-se eolista. Quem sabe um dia eu aprenda, por enquanto não consegui colocar a pipa no ar. Mas, sempre acho que é falta de vento.
Carlos contou que desde os sete anos começou a fazer pipas e nunca mais parou.
“Digo que solto pipas desde que nasci. Meu pai sempre me levou para participar de festivais de pipas. Cresci olhando para o céu que fica todo colorido com as pipas, acompanhando a força do vento, a sensação de liberdade e união que a brincadeira traz. Acredito que soltar pipa pode ser uma oportunidade de conexão com a família. Aos 13 anos comecei a fabricar pipas para vender e nunca mais parei. Encontrei nas pipas minha forma de viver, de trabalhar, de sustentar minha família, de fazer amigos e me socializar. Pipa para mim é um modo de vida, não me imagino fazendo outra coisa, sou apaixonado por esse ofício”, conta.
Ele destaca que, nestes anos, a rede de amigos que fez no universo da pipa serviu para desenvolver outros projetos, como por exemplo, distribuir cestas básicas para quem precisa e fazer marmitas para quem tem fome. “Só na pandemia já conseguimos distribuir 3600 cestas básicas. Também ensino crianças das regiões mais carentes a fazer suas pipas”, conta.
Carlos contou que só na região de Campinas o mercado de pipas gera cerca de 6 mil empregos diretos e indiretos.
E, no Brasil, são mais de 40 mil famílias que sobrevivem da pipa, originando mais de 100 mil empregos diretos e indiretos. Muitos presídios fazem trabalho de socialização com os presos, construindo pipas, rabiolas e outros acessórios que compõe a vida de um ‘pipeiro’.
Em Campinas costumam ocorrem festivais de pipas no Parque Ecológico e no cartódromo, existem também eventos noturnos onde as pipas ficam iluminadas até por leds.
“Há dois anos conseguimos legalizar três áreas de Campinas que são batizadas de ‘pipódromos’, para que todos possam soltar pipas com segurança. Elas ficam no Parque Ecológico, no Parque Oziel e no Carajás, no Dic. E na pandemia virou uma brincadeira mais segura, pois ocorre ao ar livre e é preciso ter um distanciamento de cinco a seis metros. Em especial nas férias escolares de julho os coloridos das pipas costumam invadir o céu azulado e sem nuvens”, conta Carlos.
Dentre os benefícios de soltar pipa ele faz questão de ressaltar que a pipa ajuda no raciocínio, melhora os cálculos matemáticos e no desenvolvimento social. Carlos enxerga nas pipas muitos mais que uma forma de sustento. “Minha missão é ajudar a preservar essa arte, essa tradição e que sem dúvida deixa o mundo mais bonito e colorido”, diz.
Kátia Camargo é jornalista e após conhecer o livro Brinquedos do chão: A Natureza, O Imaginário e o Brincar, de Gandhy Piorski que explora a imaginação do brincar a partir dos quatro elementos da natureza (terra, fogo, água e ar) ficou animada com os benefícios que fazer e soltar pipa pode oferecer para as crianças e adultos.