O Banco Mundial lançou um relatório examinando os impactos prejudiciais das alterações climáticas sobre o ambiente escolar com estratégias para o aproveitamento do ensino no fomento da ação climática. O documento “Escolhendo o Nosso Futuro: Ensino para a Ação Climática” revela que o encerramento temporário das instituições de ensino aconteceu em pelo menos 75% dos eventos climáticos extremos nos últimos 20 anos.
Entre janeiro de 2022 e junho de 2024, 81 países recorreram à suspensão de atividades letivas, devido a adversidades do clima, causando perturbações para cerca de 404 milhões de alunos e a perda de 28 dias de instrução.
O relatório aponta que os mais afetados pelas mudanças climáticas são os centros de ensino nos países de rendimento médio e baixo. Em média 18 dias letivos foram perdidos por ano, superando a média de 2,4 dias sem aulas nos Estados prósperos.
Em alguns casos, as interrupções no ensino por motivos climáticos acontecem também na ausência de cataclismos, em circunstâncias relativamente normais. No Brasil, por exemplo, os alunos dos 50% de municípios mais pobres perdem até metade do ano letivo devido ao calor excessivo.
Embora se evite suspender as aulas, os pequenos impactos do aumento lento da temperatura ambiental, segundo uma análise citada no relatório, podem causar perturbações significativas por acumulação nos planos de rendimento e produtividade.
As estatísticas usadas no relatório calculam que, em 2024, a tendência prevalente para o aquecimento global de 3º C antes do final do século sugere que um caso aleatório de criança de 10 anos.
Nesse modelo, ela encara a probabilidade de sofrer, ao longo de vida, do dobro de incêndios florestais e ciclones tropicais, três vezes mais inundações de rio, cinco vezes mais de secas, e 36 vezes mais ondas de calor, comparado com a experiência de crianças da mesma idade em 1970.
Falta de fundos para o ensino sobre clima
Além das manifestações naturais de mudanças climáticas, o relatório afirma que as ameaças ao ensino provêm ainda das insuficiências no financiamento à educação sobre o clima.
Os autores constataram que a educação para a ação climática continua amplamente desaproveitada. Segundo algumas análises citadas, apenas 1,5% dos fundos para a ação climática são canalizados à agenda educativa.
O montante é insuficiente para abordar o baixo nível de competências fundamentais, a falta de professores, e os currículos sobrecarregados, sem espaço para a educação climática.
No entanto, conforme assegura o diretor global para a Educação, do Banco Mundial, Luís Benveniste, o fator animador é o baixo custo de várias medidas que os governos podem adotar para aproveitar o poder do ensino na ação climática, enquanto os sistemas educacionais adaptam-se a interrupções devido às mudanças no ambiente.
Empregos de indústrias criativas
O relatório estima que um investimento de US$ 18,51 por criança, permitiria aos estabelecimentos de ensino proteger a aprendizagem e os sistemas educativos dos efeitos das alterações climáticas.
O valor permitiria reforçar a gestão de ensino para a resiliência, a infraestrutura escolar para a resiliência, a garantia de continuidade do ensino face aos choques climáticos, e o aproveitamento de estudantes e professores como agentes de transição.
Os inquéritos integrados no relatório revelam ainda uma lacuna de conhecimento e competências que limita a atividade de jovens nos países de rendimento baixo e médio em relação a causas climáticas.
Para a vice-presidente para as Populações do Banco Mundial, Mamta Murthi, as demografias jovens, diretamente afetadas pelas alterações climáticas, estão ansiosas de atuar. No entanto, em muitos sistemas escolares, “a oferta educativa não proporciona a informação nem as oportunidades que o mundo afetado pelo clima exige”.
Deste modo, Murthi disse que é notável um desaproveitamento do potencial do ensino para facilitar a adaptação e a mitigação de mudanças climáticas.
O relatório cita um inquérito sobre o clima e a educação conduzido nos jovens entre 17-35 anos em oito países de rendimento baixo e médio, incluindo Angola.
Cerca de 60% dos participantes consideram que não aprenderam o suficiente sobre a alteração climática na escola. Já os 65% dos inquiridos afirmaram que o futuro deles está em perigo se eles não desenvolverem “competências verdes”.
Com base numa análise da linguagem em ofertas de emprego publicadas online, no Brasil, que avaliou 1,12 milhão de anúncios entre setembro de 2022 e agosto de 2023, os autores do relatório salientam que os sectores com a maior proporção de ofertas de emprego que requerem “competências verdes” são eletricidade, construção, gás e ar-condicionado.
Efetivamente, aponta o estudo, as competências que mais se exigem ao lado de “competências verdes” são específicas ao sector da construção, tanto no caso de postos de trabalho à mão, como nos postos de gestão.
Entre outros dados, o inquérito revelou que, no Brasil, em média 25% das competências exigidas para empregos nas indústrias de serviços de alimentos e bebidas são consideradas ecológicas. Já os empregos de indústrias criativas exigem 17% das competências desse tipo.
Os autores do relatório defendem que a educação é a chave para preencher as lacunas de conhecimento, e para promover a ação climática global ao adaptar mentalidades e comportamentos.
Perante a procura pelas “competências verdes”, o relatório defende que o grupo de habilidades é relevante para todos os países independentemente do nível de rendimento. Estas aptidões são úteis para cidadãos de todos os níveis de ensino, áreas de estudo e setores de atividade e aplicáveis em vários campos.
(ONU News)