É amplamente conhecido o impacto que a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) exerceu no universo do esporte, desde o cancelamento de duas edições de Jogos Olímpicos (1940 e 1944) e Copas do Mundo (1942 e 1946) até a introdução das Paralimpíadas, que começaram a ser disputadas oficialmente em 1960, em Roma, mas tiveram origem em 1948, na Inglaterra, com a criação do primeiro evento esportivo para pessoas com deficiência visando à reabilitação de soldados veteranos feridos e amputados.
No futebol brasileiro, o caso mais notório ligado à 2ª Guerra Mundial diz respeito à necessidade da mudança de nome de dois dos times mais importantes do país: Palmeiras e Cruzeiro. Fundados como Palestra Itália, em 1914 e 1921, respectivamente, ambos precisaram trocar de nome em 1942, abandonando o antigo e adotando seus atuais, em função da pressão do governo brasileiro, já que os italianos eram inimigos no conflito.
O Brasil vivia a ditadura de Getúlio Vargas e entrou de forma tardia na Segunda Guerra Mundial, unindo-se às nações aliadas, leia-se Reino Unido, França, União Soviética e Estados Unidos, em oposição às forças do Eixo, lideradas por Alemanha, Itália e Japão.
Foi no início do mês de setembro que ocorreram os dois eventos mais importantes da Segunda Guerra Mundial, que durou entre 1939 e 1945. O conflito bélico mais sangrento da história da humanidade, com mais de 70 milhões de mortos, começou no dia 1º de setembro de 1939, com a invasão da Polônia pela Alemanha, e terminou no dia 2º de setembro de 1945, com a rendição do Japão após o lançamento de bombas atômicas sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki, em ataque realizado pelos Estados Unidos.
No futebol campineiro, a Ponte Preta guarda duas conexões com a Segunda Guerra Mundial. A primeira delas remete à história do ex-atacante campineiro Damião, que defendeu a Macaca entre o fim dos anos 40 e o início dos 50.
Nascido em Campinas, no dia 7 de agosto de 1920, José Pinto Damião tinha 20 anos de idade quando foi convocado para servir o Exército Brasileiro na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial. Ele era operário de uma importadora de São Paulo e, ainda garoto, já carregava tonéis de vinho pelas ruas da capital.
Em novembro de 1943, em meio à Segunda Guerra Mundial, foi criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB), com soldados de diferentes partes do país convocados para formar um corpo de aproximadamente 25 mil militares. Os “pracinhas”, como ficaram conhecidos, foram integrados ao exército americano e atuaram em combates no norte da Itália. Ao todo, foram 454 soldados brasileiros mortos no conflito.
De volta ao Brasil após o fim da Segunda Guerra Mundial, o campineiro Damião se tornou jogador de futebol e, após passagens por times de São Paulo, retornou a sua terra natal para vestir a camisa do seu time de coração: a Ponte Preta.
O atacante chegou para disputar o Campeonato Paulista do Interior de 1947. Em 1948, foi artilheiro depois de marcar quatro gols contra o Batatais, dois contra o Marília, dois contra o Velo Clube e dois contra o Palmeiras de Franca.
Em sua passagem pela Ponte Preta, Damião foi treinado por mestres como José Agnelli, Brandão e José Procópio. O presidente que mais marcou sua passagem foi Olympio Dias Porto.
Certa vez, em duelo disputado no dia 8 de janeiro de 1950, no estádio Moisés Lucarelli, em Campinas, Damião marcou dois gols sobre o Corinthians, mas a Ponte Preta perdeu por 3 a 2.
Curiosamente, Damião encerrou a carreira de jogador de futebol sem nunca ter sido expulso ou advertido em campo. Aposentado nos campos, seguiu a vida trabalhando como vidraceiro.
A outra relação da Ponte com a 2ª Guerra diz respeito ao imponente zagueiro Stalingrado, que defendeu a Macaca na mesma época de Damião e levava esse curioso apelido em alusão à maior e mais sangrenta batalha da Segunda Guerra Mundial, ocorrida entre 1942 e 1943, que mudou os rumos do histórico conflito a favor dos Aliados.
Com cerca de dois milhões de mortos, a Batalha de Stalingrado terminou com vitória dos soviéticos sobre os alemães, impedindo que os nazistas continuassem avançando e conquistando territórios.
José Braulio Júnior, o Stalingrado, levava esse apelido pela força e altura (1,82), mas também pela brutalidade dentro de campo. Certa vez, depois de um jogo contra o Batatais, ele saiu preso do estádio após “desferir um violento pontapé” em um jogador do time adversário.
“Quando o ponta esquerda Dema invadiu o arco de Serafim para retirar a bola nos fundos da rede, estabeleceu-se um desentendimento entre o porteiro e o arqueiro, sem maiores consequências. E quando tudo fazia crer que estava serenado o incidente, surge Stalingrado e desfere violento pontapé no avante do Batatais, prostrando-o por terra, para, mais tarde, ser internado em um hospital daquela cidade. Após o término do encontro, Stalingrado foi preso, conduzido à delegacia, onde permaneceu detido até às 20 horas”, relatou o antigo jornal Correio Paulistano, de São Paulo.
Naqueles tempos, a Ponte Preta também contava com o lendário goleiro Ciasca e o grande atacante Sabará, revelado no Majestoso, que depois jogaria no Vasco e chegaria à Seleção Brasileira.
O zagueiro Stalingrado é um dos personagens do livro de crônicas “Defensores: Os Grandes Zagueiros da História da Associação Atlética Ponte Preta“, lançado pelo jornalista Israel Moreira, em junho deste ano.
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