O Dia do Ferroviário é comemorado nesta sexta-feira (30), em referência à data de inauguração da primeira linha ferroviária do Brasil, pertencente à Estrada de Ferro Petrópolis, concebida pelo Barão de Mauá, no Rio de Janeiro. No dia 30 de abril de 1854, a pioneira locomotiva Baroneza partiu viagem levando a bordo autoridades ilustres como o Imperador Dom Pedro II e a Imperatriz Tereza Cristina.
Além de importante propulsora do desenvolvimento econômico do Brasil, a ferrovia também teve papel fundamental no fomento do futebol no país. De acordo com registros oficiais, a primeira partida disputada em solo nacional ocorreu em 1895, quando funcionários da São Paulo Railway – primeira ferrovia do estado de São Paulo – venceram os da Companhia de Gás por 4 a 2. Considerado o “pai” do futebol no Brasil, Charles Miller defendia o time ferroviário vencedor.
“A estrada de ferro foi a grande motora do desenvolvimento do futebol do interior porque os ingleses avançavam com os trilhos e onde paravam faziam um campo de futebol, que era o esporte mais barato de se praticar. Como eles já usavam botinas, levavam apenas uma bola e faziam duas traves com pedaços de árvore. Ali, ficava o embrião que faria surgir uma série de clubes”, explica o autor do livro “Quando o Futebol Andava de Trem” (2002), o jornalista e escritor Ernani Buchmann.
A obra conta a história de dezenas de clubes de futebol de origem ferroviária, entre eles o extinto Esporte Clube Mogiana, fundado em 1933, em Campinas. “Os ferroviários da Mogiana resolveram aglutinar todos os seus departamentos e montar um time que representasse a companhia como um todo. Com a ideia de que o clube fosse importante, a companhia logo cedeu um terreno onde seria construído o futuro estádio do Mogiana”, conta o historiador e escritor Celso Franco de Oliveira Filho, autor do livro “Fora dos Trilhos: A História do EC Mogiana” (2008).
Desta forma, em 1940, o Mogiana inaugurou o moderno estádio Doutor Horácio Antônio da Costa, existente até hoje no bairro Botafogo, em Campinas, com estrutura de ferro de restos da ferrovia, além de uma quadra de esportes anexa com demarcações de trilho de trem.
“A história do estádio é muito interessante porque Horácio da Costa era o inspetor geral da companhia, que na época significava o cargo de auditor, ou seja, ele examinava e fazia o controle das contas da companhia. Mesmo assim, entendeu que o futebol era uma causa que merecia atenção. Os times ferroviários dependeram muito desse tipo de boa vontade e visão voltadas ao desenvolvimento do futebol e lazer dos trabalhadores”, ressalta Ernani Buchmann.
Entre idas e vindas no futebol profissional, o Esporte Clube Mogiana viveu o auge nos anos 40, enfrentou crise financeira nos anos 50 e retirou-se nos anos 60, quando as ferrovias entraram em derrocada no Brasil. A partir de então, o estádio passou a ser administrado pelo Governo do Estado de São Paulo.
“Os times ferroviários não poderiam ter acabado como terminaram. Ainda existem equipes que sobrevivem, como a Ferroviária, de Araraquara, mas muito com o auxílio da Prefeitura, que reformou o estádio Adhemar de Barros e transformou em uma joia. A grande maioria dos clubes ferroviários desapareceu porque nós cometemos um absurdo de acabar com as nossas ferrovias, algumas delas foram até transformadas em estradas de rodagem. É uma pena termos jogado fora esse patrimônio que nós tínhamos. Eu lamento profundamente que o perfil do desenvolvimento econômico seguido pelo Brasil não tenha sido o mesmo da Europa, dos Estados Unidos, da Índia e da China, que foram modelos de desenvolvimento baseado nas ferrovias”, critica Buchmann.
Sobre a Companhia Mogiana
Surgida em Campinas, em meio à expansão da cultura do café, a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro nasceu em 1872, mas teve o seu primeiro trecho inaugurado em 1875, ligando Campinas a Jaguariúna. Nas primeiras décadas do século XX, os trilhos se estenderam até Minas Gerais, totalizando quase 2 mil quilômetros de linha férrea.
Às vésperas de completar 100 anos de fundação, a Companhia Mogiana encerrou suas atividades em 1971, após ser encampada pela Fepasa. Em 1979, a Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF) obteve em comodato a linha tronco de 24 quilômetros entre as estações de Anhumas e Jaguariúna. Com isso, em 1984, a ABPF começou a operar a chamada Maria Fumaça, trem turístico-cultural com locomotiva a vapor.
O passeio transformou-se em uma das principais atrações turísticas da região de Campinas, permanecendo ativo até hoje. Com restrições de capacidade por conta da pandemia de Covid-19, a Maria Fumaça voltou a abrir para o público no fim de semana passado e prossegue neste sábado (1) e domingo (2).
Dona de um dos maiores pátios ferroviários da América, a cidade de Campinas também abrigou outras duas grandes ferrovias: a Companhia Paulista e a Sorocabana. Grande marco da cidade, a Estação Cultura foi construída em 1872, com padrão arquitetônico inglês do século XIX. Desativada em 2001 para transporte de passageiros, a estação se tornou um importante centro cultural, com programação variada ao longo do ano, incluindo eventos de música, dança, teatro, feiras literárias, gastronômicas, entre outros.