Decorridos quase 15 meses desde o início da quarentena, o sistema de trabalho home office já está enraizado na rotina de muitas pessoas e representa uma tendência que deve permanecer mesmo após o fim da pandemia de Covid-19, seja de forma absoluta ou híbrida. De acordo com uma pesquisa realizada pela Hibou, empresa de monitoramento de mercado e consumo, 57,7% dos brasileiros trabalham em casa e 64,8% deles pretendem manter esse mesmo regime no futuro. O estudo, que revela como serão os hábitos e comportamentos depois da vacinação e do fim do isolamento, engloba cerca de 3 mil pessoas de todas as faixas etárias, com níveis de renda ABCD.
A continuidade do home office é um desejo que deve virar realidade na agência de comunicação interna BoasNovas, em Campinas. A empresa, que já experimentava o sistema de trabalho remoto antes do advento da pandemia do novo coronavírus, planeja intensificá-lo mesmo diante de um futuro cenário com o vírus controlado, baseado na experiência positiva acumulada desde março do ano passado.
“Sempre trabalhamos de forma mais flexível, menos hierárquica e com times multidisciplinares que, mesmo fora do contexto da Covid-19, já desenvolviam algumas atividades de forma remota. Com a pandemia, o processo foi acelerado e migramos de vez para o home office. Há mais de um ano neste esquema, percebemos que é possível desempenhar nosso trabalho com a mesma agilidade e qualidade, apesar dos desafios das interações virtuais. Ao que tudo indica, o home office veio para ficar na BoasNovas”, aponta o CCO da empresa, Flávio Benetti.
Para Benetti, os benefícios do home office ficarão muito mais claros com a volta da normalidade.
“Hoje, vivemos no house office, já que de alguma forma fomos forçados a trabalhar dentro de casa, com todos os desafios de gerir uma rotina familiar. Não estamos vivenciando a melhor forma do home office neste caos. Grande parte das empresas foi obrigada a transformar o trabalho de suas equipes para algo remoto da noite para o dia. O mesmo aconteceu com as pessoas, que tiveram que receber o trabalho em casa de supetão”, afirma.
“Com a esperança de novos tempos, em breve, acredito que o home office vai assumir um papel muito mais gratificante na vida dos profissionais, já que vai permitir algo que está fazendo muita falta: a liberdade. Desta perspectiva, o ato de trabalhar de forma remota assume uma outra dimensão, muito mais interessante. Diante disso, sem dúvidas, o trabalho em modo híbrido vai ser uma realidade”, projeta Benetti.
Desafios
Flávio Benetti pondera, no entanto, que as relações no trabalho são o grande desafio para a manutenção do home office pós-pandemia. “Por ser algo novo no Brasil, ainda existem muitas questões jurídicas que estão sendo discutidas. Quando pensamos do ponto de vista da relação entre empregador e empregado, vejo uma boa perspectiva em diversos quesitos, como engajamento dos profissionais, humanização das relações, integração de equipes e diversidade na sua forma mais ampla. Por outro lado, nós, trabalhadores, precisaremos reforçar algumas competências, como a comunicação, empatia, trabalho em equipe, autonomia e, com destaque, a autogestão”, destaca Benetti.
O profissional, especialista em Comunicação Interna e Endomarketing, também discorre sobre o cotidiano de esforço e aprendizado com o trabalho home office. “Dificuldades e desafios sempre surgem, desde uma internet que falha até a falta de sociabilização entre as pessoas. Para nós, que trabalhamos com criatividade, manter as ideias ativas e atualizadas é algo bem complexo sem interação presencial, colaboração e desenvolvimento conjunto, mas reunimos toda a equipe de forma on-line pelo menos uma vez por semana. Neste encontro, falamos um pouco sobre as entregas da semana anterior e discutimos as pautas da semana vigente. Depois, ao longo da semana, temos algumas conversas individuais para dar andamento aos trabalhos de forma mais personalizada e aprofundada”, detalha Benetti.
“Todos os dias aprendemos algo novo. Quando falamos em vantagens, sem dúvidas, a principal, neste momento, é a segurança de todos nós. Junto com isso, temos outros benefícios, como a flexibilidade de horários, comodidade, qualidade de vida e, claro, a economia em diversos aspectos”, avalia o executivo
Sistema híbrido
Colaboradora da agência BoasNovas, a jornalista Claudia Carnevalli considera o sistema híbrido de trabalho, com a união entre o home office e o presencial, como uma iniciativa benéfica para o futuro. “Com o home office, eu não gasto tempo com deslocamento, fico mais produtiva e gerencio melhor o tempo, mas também acredito que é importante ter o contato humano e trocar ideias com os colegas. Sinto falta de voltar para o trabalho de forma presencial e de encontrar as pessoas. Por mais que a gente tenha o contato on-line, não é a mesma coisa”, opina Carnevalli, que também trabalha de forma 100% remota em uma assessoria de imprensa e no projeto de uma ONG.
Segundo ela, não seria possível conciliar tantas funções em condições normais, somente no esquema de home office. “É um trabalho que exige muita organização e rotina, ainda mais porque estou em três lugares. No começo, eu ficava muito ansiosa, queria responder todos os e-mails e mensagens ao mesmo tempo”, conta a jornalista.
“Com o tempo comecei a me organizar e estabelecer horários para cada um dos meus trabalhos, além de colocar uma rotina de acordar mais cedo para cuidar mais de mim, ter momentos com a minha filha e tomar conta da casa. Todo dia, às sete horas da manhã, tenho aula on-line de ginástica com algumas amigas, o que faz toda a diferença. É necessário ter esses momentos de pausa, senão você começa a emendar uma coisa na outra e vira uma confusão, uma loucura”, descreve Carnevalli.
Evolução
Empresa global de bens de consumo, com atuação em Campinas, a Mars definiu prosseguir com o sistema de trabalho home office para parte de seus funcionários até o fim deste ano, sem prejuízo de seu negócio. “Desde o início da pandemia de Covid-19, temos acompanhado de perto a evolução do cenário e os impactos nos negócios da Mars, mas sempre tratando a saúde e o bem-estar de nossos associados e suas famílias como prioridade. Definimos que toda a equipe do administrativo cuja atividade fosse passível de ser exercida de casa adotaria o modelo de home office. Assim, conseguimos manter o negócio funcionando e reduzir o número de pessoas em nossas unidades, colaborando para a proteção de quem está em casa e na operação”, informou a empresa por meio de sua assessoria de comunicação.
“Como o modelo vem funcionando bem, apesar de sentirmos falta do convívio social, considerando a proteção das pessoas e atual situação da pandemia, ainda não temos planos de retornar em 2021, pois essa decisão depende de vários fatores. Nossas fábricas seguem funcionando com rígidos protocolos de higiene e segurança para reduzir o risco de propagação do vírus”, explicou a Mars.
Com atividade voltada para quatro segmentos (Petcare, Confeitos, Alimentos e Pesquisa), a Mars possui cerca de 130 mil colaboradores em mais de 80 países. A empresa é dona de marcas como Royal Canin, Pedigree, Whiskas, M&M’s, Twix, Snickers e Skittles.