O Hospital São Luiz, da Rede D’Or, com previsão de inauguração para o primeiro semestre de 2023, representa o início de uma possível requalificação do cenário urbano da região central de Campinas. A obra, em estado adiantado, já mudou o cenário do entorno do novo hospital, na Avenida Andrade Neves. O vazio urbano deixado com a saída da antiga rodoviária do local passa a ser preenchido.
A região, desde junho de 2008, quando a rodoviária deixou de operar ali, passou por um forte processo de degradação, que já vinha de anos, com vários comércios ilegais e construções antigas, sem manutenção.
O vazio deixado só piorou a situação, atraindo tráfico de drogas, furtos e pessoas em situação de rua. Vários comércios fecharam as portas no entorno por conta do deslocamento do fluxo de passageiros da rodoviária.
Para contornar a situação, dois anos depois, em março de 2010, a Prefeitura efetuou a implosão da antiga estrutura. Porém, há 12 anos, a degradação da área vinha gerando reclamações de diversos segmentos.
A expectativa é que o investimento no novo hospital vai direcionar um grande fluxo de pacientes, médicos e demais funcionários para a região, além da abertura de novos consultórios e outros serviços de saúde no entorno.
A pedra fundamental foi lançada em 6 de fevereiro de 2020.
O hospital é um dos principais projetos contemplados no plano de expansão da Rede D’Or São Luiz. Terá capacidade para 325 leitos e investimento de aproximadamente R$ 350 milhões, segundo a assessoria.
“Durante a construção do empreendimento, está prevista a geração de 3 mil empregos diretos e indiretos, enquanto após a inauguração há uma estimativa de abertura de 2 mil postos de trabalho diretos. O São Luiz Campinas está previsto para ser inaugurado no primeiro semestre de 2023. No momento, a construção está na fase de execução de instalações, aplicação dos acabamentos internos da edificação e de revestimentos nas fachadas”, completou a assessoria.
Cadastro
Em abril, a direção do hospital realizou reuniões na Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC) para apresentar a unidade e abriu pré-cadastro para os médicos interessados em atuar no local. Quase 800 inscrições forma feitas. De acordo com a médica Fátima Bastos, presidente da SMCC, desde o começo houve interesse muito grande.
“Foram cinco reuniões e em cada uma delas mais de 100 participantes. Eles podiam já fazer o pré-cadastro via QRCcode, e muitos levaram para os pais, filhos e outros familiares fazerem a inscrição, por isso esse número que superou as expectativas da direção do hospital. Eles nos procuraram e abrimos as portas para eles conversarem com os médicos”, explicou.
Segundo a presidente, o novo hospital vai ajudar a elevar ainda mais a saúde na cidade.
“Ele vem com um novo conceito, tem uma rede bem definida, de alto nível. Vai aumentar a competição e os outros hospitais vão investir para melhorar cada vez mais para competir na área de saúde. Vai ser um bom impacto na saúde de Campinas de forma geral, e vão surgir novos consultórios em volta”, afirmou.
Chapéus Cury
Outra obra de impacto que vai mudar a paisagem é a construção de um empreendimento de uso misto na área que era ocupada pela antiga fábrica Chapéus Cury, no bairro Guanabara. A fábrica fechou as portas em 2012 e desde então, passou a apresentar sinais da passagem do tempo, com tijolos e telhados desmoronando, além de muito lixo na parte interna, o que gerava temores na vizinhança e pedestres.
No começo de agosto, foram postas no chão todas as construções que serviram de abrigo para as diferentes seções da fábrica. Foram preservadas a chaminé e fachada que são tombados pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc) desde 2008.
A área foi vendida para uma construtora, que vai erguer duas torres residenciais, além de uma espécie de shopping na parte de baixo, com salas comerciais e cinema. O projeto está em tramitação na Prefeitura. A empresa não fornece detalhes do projeto, que não consta mais em seu site, mas até o ano passado, a informação divulgada era que seriam construídas duas torres. A Torre A com três dormitórios, sendo uma suíte. Na Torre B seriam três suítes.
Poder público e iniciativa privada de olho
Essas duas novidades devem dar fôlego para um novo programa de reabilitação de edificações proposto pela Prefeitura e apresentado no último dia 24, na Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic).
Segundo a minuta do projeto de lei, o objetivo é levar proprietários e empresários a reformar imóveis com a utilização de incentivos urbanísticos, que flexibilizam modelos de uso e ocupação dos imóveis, e também fiscais, com isenção e redução de alguns impostos e taxas, para estimular sua ocupação com moradias e comércios.
O prefeito Dário Saadi (Republicanos) disse que a proposta é ousada.
“Nosso esforço para tornar a área central mais próspera para o comércio e para moradia é muito grande. Cabe ao Poder Municipal fazer o papel dele. Temos olhado para o Centro e para as dificuldades de quem está na região, resistindo, empreendendo aqui. A proposta que apresentamos permite que aqueles que já estão no Centro sejam beneficiados, e não apenas aqueles que queiram vir investir”, declarou, dizendo que espera adesão da iniciativa privada, de proprietários e da construção civil, para a revitalização da área central de Campinas.
A nova legislação, proposta pelas Secretarias de Finanças e de Planejamento e Urbanismo, com apoio da Secretaria de Justiça, será discutida com a sociedade e deve ser enviada à Câmara até o final do próximo mês. No dia 23 de setembro haverá audiência pública para discutir sugestões sobre a minuta do projeto de lei complementar.
A ação faz parte do Plano de Requalificação da Área Central (PRAC) de Campinas, o “Nosso Centro”, que reúne iniciativas como o projeto Viva Campos Sales de reforma da avenida; instalação de mobiliário urbano e decoração no Calçadão da 13 de Maio; recuperação e ocupação do Pátio Ferroviário e reforma do Centro de Convivência.
A secretária de Planejamento e Urbanismo, Carolina Baracat Lazinho, afirmou que a requalificação dos imóveis visa “frear o esvaziamento da região central, que foi intensificada pela pandemia, e atrair investimentos e pessoas para trabalhar e morar no Centro, com oferta de habitação e instalação de mais e novos negócios”. Ela informou que uma comissão da Pasta fará uma análise prioritária dos projetos para a reabilitação de edificações no Centro.
Benefícios
O PLC define incentivos urbanísticos e fiscais, de acordo com as três categorias de reabilitação de imóveis: integral, parcial e mínima. “É uma cesta de incentivos para todos que forem fazer algum investimento nos imóveis. A Prefeitura se dispõe a dividir o risco com o empreendedor, ou reduzir esse risco, de acordo com a possibilidade legal”, explicou o secretário de Finanças, Aurílio Caiado.
A área objeto do PLC soma 95 hectares e compreende setores mais degradados do Centro, em um polígono formado pelas ruas Marechal Deodoro; Avenida Anchieta/Rua Irmã Serafina; Avenida Moraes Sales; Praça Floriano Peixoto e Rua Dr. Ricardo.
Nesta área ficam cerca de 1.900 lotes – 429 imóveis verticais e 1.400 horizontais – e 90% deles podem ser beneficiados (edificações aprovadas antes de 1988). Neste total estão 71 imóveis tombados e 91 em estudo de tombamento, sendo 15 construções verticais.
Entre os incentivos urbanísticos propostos destacam-se: uso misto (comercial e residencial); usos não-residenciais no térreo; conversão de vagas em comércios/residências; construção de um pavimento acima do último; divisão de pé-direito duplo; unidades para habitação de interesse social; permissão para anexação de lotes nos projetos.
Já os incentivos fiscais, de acordo com as categorias de reabilitação dos imóveis, poderão ter: isenção do IPTU durante a obra e alíquota progressiva posterior; redução para 2% do ISSQN para serviços de construção civil; isenção de ITBI para obra e transferências iniciais; e isenção das taxas de licenciamento urbanístico.
Em casos em que houver demolição parcial do imóvel, esta não poderá exceder 20% da área edificada, mas será possível também anexar lotes para a obra. O prazo de adesão para as reformas deverá ser de dois anos inicialmente, com possível prorrogação por mais dois anos, de acordo com resultados.