“Querido João, oi, como vai? Me chamo Lívia e tenho 17 anos. Sou estudante e estou me preparando para entrar na faculdade. Gosto de acordar cedo para ver o sol nascer, com isso tenho a sensação de aproveitar melhor o tempo. Também gosto de estar com meus amigos e a minha família. Sou muito curiosa e estou sempre querendo aprender coisas novas. E você, o que gosta de fazer, João?”
Este texto com o nome do interlocutor alterado é um exemplo das cartas que Livia Campos Silva, 17 anos, escreve mensalmente para idosos, pacientes terminais ou pessoas que trabalham na linha frente da Covid-19. Lívia faz parte do projeto ‘Corrente do Bem: Escreva cartas para um idoso’, que resgata o antigo hábito de escrever cartas à mão para se comunicar com o outro.
No caso, as cartas são escritas para pessoas desconhecidas. Lívia e outros 3 mil voluntários do projeto recebem o nome e a idade da pessoa que vai receber a carta. O projeto foi criado pela associação Keralty Brasil, uma ONG que cuida de pessoas em situação de cuidados paliativos ou com doenças crônicas incuráveis.
Esse não é o primeiro projeto social que a jovem participa, desde que frequentou a Academia Educar, ela descobriu a alegria de se engajar em vários projetos sociais. Do projeto Corrente do Bem, participa desde abril de 2020. “Eu tenho uma caixinha guardada com cartas que minha mãe me escrevia e de amigas da infância. Guardo com maior carinho essas lembranças e sinto que cada carte tem um valor muito importante para quem recebe”, diz.
Ela destaca ainda que escrever as cartas tem sido uma experiência muito bonita. “Eu aprendo muito em cada carta que tenho que escrever. É um momento que tenho que parar e pensar no outro. Temos que prestar bastante atenção nas palavras que usamos e, com isso, tenho revisto como me expressar melhor por meio da escrita. Mas, é também uma forma de praticar a empatia. Eu escrevo para alguém que não conheço e que geralmente está passando por alguma dificuldade ou sente muita solidão. Na carta eu tento falar sobre as coisas boas da vida”, conta Lívia.
Para se ter uma ideia, no auge da pandemia, os voluntários escreveram mais de 14 mil cartas para os idosos.
Quem se interessar em participar do projeto e quiser ser voluntário as informações estão na plataforma www.atados.com.br. As cartas são escritas à mão, fotografadas, enviadas para o e-mail do projeto, impressas e entregues ao remetente, que, geralmente, se emociona bastante.
Kátia Camargo é jornalista e faz tempo que não escreve uma carta à mão. Se você não assistiu ao filme Central do Brasil, com a Fernanda Montenegro, deixo como uma dica preciosa sobre a potência de uma carta na vida do outro. Também destaco um perfil no Instagram: @caro_estranho, para o qual o seguidor escreve e é respondido da melhor forma possível, como se fosse uma troca de correspondência virtual.