Após a repercussão negativa do caso do prefeito de Monte Mor, que decidiu expulsar moradores de rua para outras cidades, o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e as Defensorias Públicasdo Estado e da União entraram na história. Alegando que não quer ver a cidade “virar um lixo”, o prefeito Edivaldo Brischi (PTB) mandou sua equipe colocar moradores de rua em carros da Prefeitura e mandá-los de volta, supostamente, para as cidades de origem.
Em vídeo que viralizou nas redes socias e que geraram bastante polêmica, o prefeito justificou a sua atitude. “Preciso cuidar da minha cidade. Pessoas do bem me ajudem. Me apoiem. Tem muita gente metendo o lôco (sic) no Edivaldo. O lôco no prefeito. Só que eu não aguento mais essa situação. Eu não posso ver minha cidade virar um lixo”, disse o prefeito.
“Eu vou mostrar como se governa uma cidade. Fiquem bravo comigo. Podem ficar, mas agora tem prefeito nessa cidade”, disse ele.
“Quando você quiser fazer uma ação, procura a Assistência Social. Levem o que querem doar, que a Assistência vai var o destino correto. E não fica (sic) fomentando coisas erradas na cidade”, disse.
Esclarecimentos
Diante da repercussão e da atitude, os órgãos enviaram à Prefeitura ofícios em que pedem esclarecimentos do caso. No texto, MP e as Defensorias apontam que “as políticas de expulsão de pessoas em situação de rua ofende o direito constitucional à liberdade”. Os promotores reiteram que essa decisão deve ser cessada e que não haja mais transferência compulsória para outros municípios. Na cidade, o caso dividiu os moradores. Houve quem condenasse e quem apoiassse Edivaldo Brischi.
Justificaticas do prefeito
No vídeo (veja abaixo), o prefeito de Monte Mor continua. “Eu tenho uma grande preocupação. A gente fez um trabalho com eles, levou eles pra morar em alguns lugares. Teve gente que foi ser caseiro e o que aconteceu? Eles voltaram pra rua. E por que voltaram? Porque eles já têm o benefício deles. Todos eles têm benefício, e a maioria da população fica sustentando eles com marmita”, afirmou o prefeito.
“Quem vai querer trabalhar se tem a pinga deles? A marmita deles? Se vocês quiserem ajudar alguém, que ajude um pai de família que acorda às cinco da manhã, quatro hora da manhã”, exorta.
Segundo o prefeito, moradores de rua provocam vandalismo – garante que quebraram os banheiros públicos próximos à Rodoviária – e que seriam responsáveis por atos obscenos praticados em lugar público.
Ele diz que ontem (15) mandou fazer seis viagens para as cidades de Rio das Pedras, Bauru, Campinas, São Paulo e Orquídeas. E que hoje haveria mais duas – para Itararé e para São Rafael.
Apesar de dizer que o destino dos sem-teto seria a cidade de origem, há ao menos um caso em que oito moradores foram levados, contra a vontade deles, para a cidade de Boituva, a 85 km de Monte Mor – cidade em que nenhum diz ter nascido. O grupo – seis homens e duas mulheres – registrou queixa na Delegacia de Polícia de Boituva.
“Eles disseram que foram colocados numa van e trazido para cá, sem o consentimento deles. Na verdade, eles disseram que nem sabiam para onde estavam sendo levados”, contou o delegado da Polícia Civil de Boituva, Emerson Martins.
Nota oficial
A Prefeitura de Monte Mor se pronunciou por meio de nota, nesta sexta-feira.
“Até o momento, a Prefeitura Municipal de Monte Mor não foi contatada oficialmente pela Prefeitura Municipal de Boituva e nem pelo Ministério Público sobre a situação em questão (transferência para Boituva). É importante destacar que, os moradores em situação de rua que ficavam próximo do Terminal Rodoviário de Monte Mor, estavam sendo acompanhados pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Social, desde o início do ano, com todo o trabalho específico de praxe, incluindo triagem e abordagem social.
Os moradores em situação de rua estavam referenciados no CREA (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) de Monte Mor e um deles, inclusive, recebe bolsa emprego e outros benefícios.
Sobre a transferência em questão, vale ressaltar que só ocorreu após ser oferecida aos moradores em situação de rua a possibilidade de retornarem para suas cidades de origem, já que a maioria não é de Monte Mor. Sendo assim, a transferência somente ocorreu para aqueles moradores que concordaram”, finaliza a nota.