Hoje é dia 11 de agosto, data que dá nome a uma importante rua no Centro de Campinas. Mas por que o trecho entre a Praça Heitor Penteado, no cruzamento com a avenida Campos Salles, e a Rua Saldanha Marinho tem essa denominação? “Boa pergunta, não sei”, é a resposta da maioria dos comerciantes do local entrevistados pelo Hora Campinas.
Dia do Advogado, do Garçom, do Estudante, da Televisão e do aniversário da Ponte Preta. A data reserva várias homenagens que poderiam justificar o nome da rua, situada poucos metros abaixo da Estação Cultura. Mas a 11 de Agosto assim é chamada por um motivo bem menos conhecido: em 1872 foi inaugurado o serviço ferroviário da cidade e, na data, circulou pela primeira vez o trem ligando Campinas a Jundiaí. Coube ao vereador Alves Cruz sugerir o nome da rua, importante trecho do tráfego ferroviário na época e que exatamente hoje completa 150 anos.
“Sei que tem a ver com algo ligado à ferrovia”, diz o comerciante Adilson Cuciolli, de 67 anos, único dos entrevistados que soube responder o porquê do nome da rua.
Cuciolli é proprietário do Comércio de Guarda-Chuvas, situado na esquina com a Rua Bernardino de Campos em um prédio que existe desde 1959. “Aqui era do meu pai e nunca mexemos na arquitetura. Até essa estante é da época”, diz, apontando para uma vitrine onde ficam expostos alguns guarda-chuvas. “Só mudamos mesmo os balcões que eram de madeira e agora são de aço.”
Na rua, prédios de arquitetura moderna, como o do L´Hirondelle Flat, se misturam com construções mais antigas, a exemplo do local onde funciona o Brechó Espelho Mágico, quase em frente ao hotel. O acesso ao seu interior é por meio de um lance de escadas em um apertado corredor.
“Esse prédio tem 70 anos, era uma pensão”, conta Daniel Lima, proprietário da loja. Dona Bene, que possui uma barraca de salgados e refrigerantes na Luís de Camões, praça tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas – Condepacc – em 2008, é uma das testemunhas das transformações recentes pelas quais a rua passou.
“Estou aqui há 44 anos e quando comecei ainda havia muitas casas e famílias morando nelas. Hoje, tudo virou comércio”, lembra.
Ao lado da barraca, funciona o Café Camões, que até pouco tempo atrás era uma banca de jornais. “Minha sogra adquiriu esse espaço há 60 anos e estava querendo se desfazer. Sugeri transformar o local e deu resultado”, afirma Isabel Aparecida.
Em frente à Praça, o Hospital Beneficência Portuguesa oferece um charme à rua em função do seu estilo arquitetônico do século 19. Fundado um ano depois da rua, em 1873, o hospital nasceu para prestar assistência médica aos portugueses que moravam em Campinas. Em 2006, o local foi tombado como bem de interesse histórico, arquitetônico e urbanístico da cidade. O Vera Cruz, fundado em 1943, é outro importante hospital situado na 11 de Agosto. Diferentemente do Beneficência Portuguesa, sua arquitetura é moderna.
História
Antes de passar a se chamar 11 de Agosto, a rua era denominada “Rua do Campo”. “Era uma região de chácaras e no local aconteciam corridas de charrete”, conta a historiadora Dayse Ribeiro. “A partir do surgimento da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, hoje Estação Cultura, a rua passou a ter uma forte contribuição para o desenvolvimento de Campinas.”
A historiadora conta que a 11 de Agosto era uma referência das linhas de bonde que circulavam na cidade.
“Uma linha vinha da região do Cambuí, passava pelo Centro e terminava onde é hoje a Estação Cultura. A outra, que transportava principalmente trabalhadores da fábrica Chapéus Cury, saía da região do Taquaral e desembocava na área próxima a antiga rodoviária. Por ser uma via próxima ao terminal dessas linhas, a 11 de Agosto se tornou uma rua importante.”
Hoje, nas quadras da rua entre as avenidas Campos Salles e Benjamin Constant, sete comércios estão com as portas fechadas, alguns com placas de “aluga-se” em suas fachadas – triste resultado da pandemia do coronavírus. Mas a 11 de Agosto sobrevive graças à persistência de pessoas que, com trabalho e paixão, mantêm a modernidade e a história vivas em um mesmo lugar.