Morreu, no último sábado (5), aos 101 anos, em Campinas, Henrique de Oliveira Junior, cineasta de relevância nacional e um dos fundadores do Museu da Imagem e do Som (MIS) de Campinas. Henrique era viúvo de Zenith Iorio de Oliveira e deixou as filhas Cristina, Ana e Mariangela. O sepultamento ocorreu no domingo (6), às 10h30, no Cemitério de Sousas.
A causa da morte não foi divulgada. Em uma rede social, a filha Mariangela Oliveira se despediu dele.
“E ele partiu, terminando essa jornada. 101 anos de muita luta, perseverança e muito trabalho, como sempre gostava de dizer. Pai tivemos um privilégio enorme de tê-lo em nossas vidas por tanto tempo. Te amamos muito. Descanse em paz. E dê um beijo bem gostoso na mamãe por nós”, escreveu.
Henrique de Oliveira Junior, que nasceu em Valinhos, no dia 13 de setembro de 1920, era cineasta desde tenra idade. Aos cinco anos se mudou com a família para a Cidade das Andorinhas, apelido antigo de Campinas.
Por aqui começou a frequentar o Cine Coliseu, que ficava no Largo Carlos Gomes. Ali nasceu seu encanto pela sétima arte. Sempre encantado com os projetores, com a parte técnica. Aos 14 anos conseguiu uma vaga no cinema para prender a trabalhar na cabine de projeção.
Em Sousas, em 1939, ele já exibia filmes, a pedido de um padre, que tinha um projetor. E formou Cine Santo Antônio, onde hoje é a Sociedade Italiana Lavoro e Progresso.
A vida foi de muito trabalho e diversos projetos. Realizou mais de 80 filmes em toda a carreira. No Brasil e no exterior recebeu dezenas de prêmios. Foi parte importantíssima dos ciclos de cinema das décadas de 1950 à 1970.
Era também servidor da Prefeitura de Campinas, na Secretaria de Educação e Cultura, como fotógrafo, outra paixão da infância. Filmou a derrubada das casas da Avenida Moraes Sales para o Grupo de Desapropriação. Foi graças à sua expertise, que a Prefeitura comprou o Cine Casablanca e o transformou no Teatro Castro Mendes.
Na década de 1950, foi o responsável recuperar o filme João da Mata, de Amilar Alves, de 1923. Fez um trabalho excepcional. O filme foi exibido no Teatro Municipal para mais de 2 mil pessoas e incorporado ao acervo da cinemateca.
Realizou por 10 anos o Festival Nacional de Filme Super 8, junto a um grupo de entusiastas, no Centro de Ciências Letras e Artes (CCLA). Foram aproximadamente de 280 a 300 filmes por ano. A última edição aconteceu em 1983.
De tão rica, sua biografia se tornou um documentário em 2010, com o nome Memórias em Celuloide, com direção, produção e roteiro de Marcos Craveiro. O documentário passeia pela história desse centenário, com entrevistas, depoimentos e fotografias dos filmes. O documentário pode ser acessado no link www.youtube.com/watch?v=KlOxSi9u9MQ. Ele termina dizendo: “Minha paixão sempre foi, é e será sempre o cinema”.
MIS
O MIS é um dos legados de Henrique de Oliveira Junior, que foi idealizado a partir de um grupo de fotógrafos, cineastas e cineclubistas da região, liderados por ele e Dayz Peixoto Fonseca.
Foi criado pela Lei Municipal 4.576/1975 de 30 de dezembro de 1975, que dentre outras iniciativas criou a Secretaria Municipal de Cultura.
O MIS nasceu com a missão de preservar e reunir, sistematicamente, a memória audiovisual de Campinas e região, cujas peças vinham sendo guardadas de maneira isolada, em outros museus da cidade, e em outras instituições públicas municipais ou mesmo integrando coleções particulares.
Atualmente, o MIS funciona no Palácio dos Azulejos, patrimônio tombado por órgãos nacional, estadual e municipal. Henrique de Oliveira Junior foi o primeiro presidente, de 1975 a 1979.