A lista de pessoas famosas, artistas de todas as idades e de diferentes campos de atuação que morreram por complicações causadas pela Covid-19, não para de aumentar. A vítima mais recente foi o ator Tarcísio Meira, de 85 anos, que morreu no último dia 12 e comoveu o País, dada a sua impressionante identificação com o público conquistada ao longo de 64 anos de carreira. A perda de ídolos para a pandemia do novo coronavírus causa luto coletivo e sentimento de desesperança em dias melhores.
Os artistas, de uma forma geral, fazem parte do cotidiano dos fãs, estão dentro de suas casas, de suas vidas, quase que diariamente.
De acordo com Rita Khater, doutora em psicologia e docente da disciplina na PUC-Campinas, a morte na pandemia de coronavírus tem impacto diferente nas pessoas. “A gente sempre vê na imprensa o número de mortos, quase 600 mil no Brasil. Mas quando não acontece na família da pessoa ou com alguém próximo, os números têm significado de números e não de pessoas”, diz.
Portanto, segundo a professora, isso afeta a forma como as pessoas sentem ou percebem a morte dos ídolos. “De modo geral, quem não perdeu ninguém próximo na pandemia ou naturalizou as perdas, quando perde um ídolo tende a ter uma reflexão maior sobre a pandemia, sobre os seus atos individuais, tende a ter um pesar que não tinha quando via a marca de quase 600 mil mortos. É como se perdesse alguém próximo”, explica.
“Nesses casos, quando morre o famoso isso faz ressignificar perdas. Tem um peso maior. Pode colocar para refletir sobre as políticas públicas, por exemplo, e entender que a doença pode chegar mais perto”, avalia.
Já para as pessoas que tiveram perdas próximas, a partida de um ídolo tende a revelar mais compaixão. “A perda do famoso não vai doer como a do familiar, do amigo, mas vai receber essa perda de forma mais empática, com compaixão pela família, por exemplo”, diz.
“É mais difícil chorar coletivamente por esses quase 600 mil mortos porque não conhecemos pessoalmente, tem o pesar, mas a intensidade é maior quando é um conhecido, um famoso, porque o famoso é meu conhecido. Existe um sentimento coletivo por esse famoso. A cada famoso que perdemos é bem provável que a população tenha um exercício de consciência crítica com relação a esse número de mortes no País, com relação às políticas públicas que deveriam se responsabilizar por esses números, existe uma consciência crítica por parte do coletivo”, explica Rita.
Outro ponto levantado por ela é a sensação de impotência. “A morte de famosos traz impotência e impacta na desesperança. A pessoa pensa, todo mundo está morrendo. O Tarcísio Meira, por exemplo, estava vacinado e internado no Albert Einstein, super amparado e não resistiu. Imagina a maioria da população, que às vezes não consegue vaga, nem respirador”, explica.
Arte faz a pessoa respirar
Para Jonas Lemos, ator e diretor de teatro, nome importante do cenário artístico de Campinas e região, a perda de ídolos traz desesperança. “O artista, o ídolo está todo dia dentro da casa das pessoas. No caso dos atores, quando faz o vilão, a pessoa briga com ele, torce na novela quando faz o mocinho. É visto como alguém da família, está na mídia, está em casa. Quando essas pessoas morrem nos deixam desesperançosos porque os ídolos são para a gente uma espécie de indicação do caminho, uma certa orientação, a gente acredita neles. A arte faz a pessoa respirar. Quando o artista morre há uma desesperança em todo mundo”, avalia o diretor.
Segundo ele, vivemos tempos sombrios. “O impacto da perda de nomes como Tarcísio Meira, Paulo Gustavo, Nicette Bruno, entre muitos outros, é de um desperdício enorme, principalmente porque é uma tragédia anunciada, por falta de responsabilidade de governantes negacionistas e que queriam lucrar com vacinas. Isso deixa a gente revoltado”, admite.
“Todo dia é um luto, os estudantes longe da escola. Aula on-line para algumas faixas é impossível, ficam frustrados e esse atraso na educação vai repercutir depois de maneira desastrosa. É um luto diário em vários setores. O número de mortos é de vários boeings caindo todos os dias”, lamenta.
VEJA ALGUNS DOS ARTISTAS MORTOS PELA COVID
Tarcísio Meira
12 de agosto de 2021
Nelson Sargento
27 de maio 2021
Paulo Gustavo
4 de maio de 2021
Agnaldo Timóteo
3 de abril de 2021
João Acaiabe (Sítio do Picapau Amarelo)
31 de março de 2021
Genival Lacerda
7 de janeiro de 2021
Nicette Bruno
20 de dezembro de 2020
Paulo César Santos, o Paulinho do Roupa Nova
14 de dezembro de 2020
Ubirany Félix do Nascimento, do Fundo de Quintal
11 de dezembro de 2020
Edson Montenegro
21 de março de 2021
Daisy Lúcidi
7 de maio de 2020
Abraham Palatnik
9 de maio de 2020
Carlos José
9 de maio de 2020
Sérgio Sant’Anna
10 de maio de 2020
Nino Voz
24 de maio de 2020
David Correa
10 de maio 2020
Antônio Bivar
5 de julho de 2020
Rodrigo Rodrigues
28 de julho de 2020
Eduardo Galvão
7 de dezembro de 2020
Aldir Blanc
4 de maio de 2020
Gésio Amadeu
5 de agosto de 2020