A cada 15 dias visito a horta do seu Pedro, isso porque as verduras dele costumam durar bastante na geladeira. Colhidas fresquinhas logo nas primeiras horas do dia, Pedro Dorival Vidotti, 78 anos, começa a trabalhar por volta das cinco da manhã, e foi do pai que herdou o dom de semear, adubar, plantar e cultivar alface, chicória, couve, espinafre, rúcula, almeirão, cheiro-verde e outras folhagens e ervas.
Fico chateada quando vou até a horta e vejo escrito na lousa: ‘Não temos verduras’, pois aprendi, no decorrer dos anos, que o tempo ou algum fenômeno da natureza (excesso de chuva, temperatura muito seca, vendaval ou algo imprevisível) pode comprometer a plantação. Na verdade, admiro quem escolhe viver dos frutos da terra pois é sempre uma caixinha de surpresas e tem que aprender a lidar com o imprevisível, com as boas colheitas ou as que nem são tanto. Perdas e ganhos entram sempre nesse pacote. Algo bem parecido com a vida da gente, não é?
Tenho muito orgulho de dizer que sou filha de um verdureiro. A sala da minha casa era repleta de caixotes de madeira de frutas, verduras e legumes. Na infância costumava visitar hortas com meu pai, em sua Kombi azul, e depois a amarela. Sinto que essas idas até a horta do seu Pedro, que não é tão perto de casa, são verdadeiras conexões com a minha essência e com quem eu sou.
Além disso, serve como um respiro poder caminhar sentindo o cheiro do manjericão, da salsinha e da terra molhada. Um privilégio ter essa horta urbana em meio ao distanciamento social que estamos vivendo por conta da pandemia do coronavírus. Acho tão significativo olhar para os grandes canteiros da horta do seu Pedro vivendo harmoniosamente ao lado dos arranha-céus.
Logo na entrada da horta existe uma pequena lousa contando quais são as colheitas do dia. E, por experiência própria, nem adianta eu ficar perguntado do cheiro-verde, da rúcula, da couve (quando não estão na lousa), pois ainda não estarão prontos para a colheita. Seu Pedro nem sabe, mas nas nossas rápidas conversas e nos momentos que peço licença para entrar e olhar a plantação, vou aprendendo sobre respeitar o ritmo da natureza, o ciclo da vida, o tempo das coisas, a paciência e que tudo tem seu tempo. A cada dia enxergo algo novo, nem que seja um dos espantalhos diferentes, guardiões da horta. Confesso que alguns me dão medo.
Nem pense em ir à horta do seu Pedro para comprar somente um pé de alface. Por lá as verduras são vendidas em generosas sacolas. Dependendo de quantidade de pessoas que moram na sua casa, vale a pena partilhar com parentes ou vizinhos.
Logo que comecei a frequentar o local perguntei se a verdura tinha agrotóxico. Ele respondeu que não, e completou que procura respeitar até as formigas que habitam o local. Achei tão bonito isso que sempre que caminho em meio aos canteiros fico procurando as filas de formigas e redobro o cuidado para não pisar. Acredito que são nessas minúsculas observações que vamos aprendendo a cuidar da gente e do outro com mais respeito e harmonia.
Outra coisa que observo e admiro é a vitalidade que ‘seu Pedro exibe aos 78 anos. Sempre pergunto: “Seu Pedro qual o segredo para ter essa disposição toda para o trabalho? É por conta do consumo dessas verduras daqui?” A resposta era sempre sim, e um sorrisão.
Agora com o uso da máscara a resposta vem dos olhinhos azuis apertados que escondem o sorriso de quem pensa: “De novo essa pergunta?” No fundo eu torço mesmo para que a resposta esteja nesta e em outras hortas espalhadas por aí!
Quem tiver interesse em conhecer a horta o endereço é:
Rua Dr. José Ferreira Camargo, 1221 – Jardim Planalto, Campinas
Horário de funcionamento das 7h às 14h, de segunda a sábado
Conto com as sugestões de vocês para conhecer novas histórias! Meu email é o [email protected]
Kátia Camargo é jornalista