O novo modelo de ensino que prevê alterações no currículo escolar para os alunos do Ensino Médio da rede estadual em São Paulo entrou em vigor a partir deste semestre sob severas críticas da Associação dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp).
De acordo com a nova diretriz, o novo currículo permite que o aluno opte pelas áreas que mais se identifica e possa se aprofundar por meio de itinerários formativos – disciplinas ofertadas que possibilitam aos estudantes aprofundamento de seus conhecimentos em determinas áreas sem ficar na escola por um período maior.
O novo currículo está sendo implementado progressivamente aos alunos da 1ª série do Ensino Médio desde o início das aulas presenciais no dia 8 de fevereiro e prevê que a partir de junho, todos os estudantes do ano letivo devem escolher quais itinerários formativos pretendem cursar no próximo ano. Em 2022, o modelo chegará aos estudantes da 2ª série, até que em 2023 os alunos da 3ª série terão acesso ao currículo.
Para a Apeoesp, o novo modelo vai provocar “piora” na qualidade do ensino oferecido aos jovens. “O que está sendo feito não é um novo currículo, é apenas o enxugamento do currículo anterior. Na verdade, o que prepara o aluno para o mundo é a oportunidade de ter uma formação básica sólida e nem isso ele terá mais”, critica a associação.
“O novo Ensino Médio tem como principal vantagem aproximar os estudantes das transformações da sociedade e do mundo do trabalho, dando mais sentido a este ciclo do ensino que sofre com altas taxas de abandono e evasão escolar”, destaca o secretário de Educação do Estado de São Paulo, Rossieli Soares.
Idealizador do novo currículo do Ensino Médio para as escolas estaduais, Rossieli elogia o novo formato de ensino e vê com bons olhos a mudança.
Como vai funcionar
De acordo com a secretaria, o currículo do Ensino Médio do estado de São Paulo está estruturado em 3.150 horas distribuídas em três anos. Do total da carga horária, 1.800 horas são destinadas à formação básica e o restante, 1.350 horas, é referente aos itinerários formativos.
Diferente do que acontecia no currículo anterior – quando os alunos eram obrigados a cursar todas as matérias oferecidas na grade -, agora os estudantes terão na formação geral básica os componentes curriculares divididos em quatro áreas de conhecimento.
A primeira delas foi chamada de Linguagens e suas tecnologias – que são formadas por disciplinas como língua portuguesa, artes, educação física e língua estrangeira.
Em seguida vem a Matemática. Depois, o grupo chamado de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas: história, geografia, filosofia e sociologia. Por fim, as chamadas Ciências da Natureza e suas Tecnologias: biologia, química e física.
Na carga horária referente aos itinerários formativos, o estudante precisa escolher uma ou duas áreas de conhecimento da formação geral para aprofundar seus estudos, ou ainda, a formação técnica e profissional para buscar se especializar.
Os componentes do programa Inova Educação também vão fazer parte dos itinerários formativos, com as seguintes disciplinas:
Eletivas: educação financeira, teatro, empreendedorismo.
Projeto de vida: aulas que ajudam o estudante na gestão do próprio tempo, na organização pessoal e no compromisso com a comunidade
Tecnologia e inovação: mídias digitais, robótica e programação.
Professores criticam
Em contato com a reportagem do Hora Campinas, a Associação dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) criticou o novo modelo de ensino proposto pelo governo estadual e destacou que disciplinas não podem ser retiradas com a implementação do novo currículo.
“A nossa visão sobre o novo currículo é muito negativa. Uma tendência é que crianças e adolescentes terão uma educação pior a cada dia e vão ficar mais distantes dos estudantes das escolas particulares, que não devem adotar esse novo modelo proposto”, pontua Pedro Alberto Vicente de Oliveira, diretor estadual da Apeoesp.
A associação avalia que o problema do ensino “não é reduzido ao oferecer disciplinas que preparam para o mercado de trabalho” e a preocupação é que ao optarem por disciplinas de determinada área, alguns alunos não tenham acesso a conceitos importantes oferecidos por matérias como sociologia e filosofia.
Além disso, a Apeoesp também defende a importância de a escola ser integral com estrutura para o desenvolvimento do aluno. Segundo a entidade, são necessários maiores investimentos do governo estadual para a realização de concursos públicos para contratação de professores e também para oferecer arte e esporte para o estudante na unidade escolar.
“O que eles (governo estadual) querem é uma mudança para cortar gastos. Não se faz educação sem investimento, precisamos discutir uma escola integral não apenas no horário, mas também no desenvolvimento de habilidades para os alunos em diferentes aspectos”, finaliza Pedro Alberto Vicente de Oliveira.