Imagine esbarrar com o lendário cineasta norte-americano Francis Ford Coppola comprando DVDs nas Lojas Americanas do shopping de sua cidade? Acredite se quiser, mas foi exatamente isso que aconteceu com a pesquisadora de cinema Andressa Gordya, mestra e doutoranda em Multimeios pelo Instituto de Artes da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Em 2010, seis anos antes de mudar para Campinas por motivos acadêmicos, ela teve o privilégio de conhecer de perto e dialogar com o famoso e consagrado diretor de grandes clássicos do cinema, como “O Poderoso Chefão” (1972), “A Conversação” (1974), “Apocalypse Now” (1979) e “Drácula de Bram Stoker” (1992).
O inusitado encontro da então estudante de cinema com o figurão de Hollywood aconteceu dentro da unidade das Lojas Americanas no Park Shopping Barigui, em Curitiba, terra natal de Andressa Gordya, conhecida no meio artístico como Andy Jankowski.
Terra natal da pesquisadora de cinema da Unicamp, a capital paranaense foi uma das cidades que serviram de inspiração para “Megalópolis”, o mais novo lançamento de Coppola, um projeto ousado que vinha sendo preparado por ele há décadas e agora finalmente saiu do forno.
O filme estreou nos cinemas brasileiros na última quinta-feira (31), cinco meses após concorrer à Palma de Ouro do Festival de Cannes, em maio deste ano. O elenco reúne grande nomes como Adam Driver, Giancarlo Esposito, Nathalie Emmanuel, Shia LaBeouf, Aubrey Plaza, Jon Voight, Laurence Fishburne, Dustin Hoffman e Talia Shire, irmã do diretor.
“Encontrar o Coppola mexendo no saldão de DVDs das Lojas Americanas do Shopping Barigui foi uma das coisas mais aleatórias da minha vida. Ele devia ter parado para almoçar no shopping, viu o cestão de filmes clássicos por R$ 6,99 e ficou doido, pois estava mexendo com muito afinco e tinha separado um monte de coisa”, relata Andressa Gordya.
Como o Park Shopping Barigui fica bem perto, a menos de três quilômetros, da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), Andressa imaginou que Coppola tivesse algum compromisso na instituição, assim como havia acontecido em 2003, na primeira passagem do cineasta por Curitiba, quando ele ministrou uma aula magna para estudantes de cinema, a convite da professora Denize Araújo. Porém, em contato com a reportagem do Hora Campinas, a docente informou que “Coppola não esteve na UTP em 2010, só em 2003”.
“Eu estava no curso técnico em produção audiovisual – entrei na faculdade de cinema no ano seguinte – e ele [Coppola] ficou chocado de saber que tinha um curso de cinema numa universidade pública, porque anteriormente ele tinha sido chamado para uma palestra na Tuiuti, que é particular. Disse que se tivesse sido convidado pela universidade pública, ele teria ido gratuitamente”, revela Andressa Gordya, que é técnica em produção audiovisual e em arte dramática, e graduada em Cinema e Vídeo pela Universidade Estadual do Paraná (Unespar). Ela também é roteirista, cronista, contista e crítica cinematográfica, mas não atuante no momento devido à dedicação exclusiva à escrita acadêmica.
“Com meu inglês vagabundíssimo de 15 anos atrás, falei que era estudante de cinema e acho que ele [Coppola] foi mais aberto comigo por isso. Sempre tive uma postura de não puxar saco de gente famosa, até porque trabalhando em set de filmagem, você tem que lidar com atores e o ego deles, então sua perspectiva muda. Talvez por isso ele tenha gostado de mim, pois o tratei como uma pessoa fazendo aquilo que eu sempre fazia, ou seja, fuçar no cestão de DVDs da Americanas, procurando clássicos que tenho comigo até hoje”, acredita.
“Ele [Coppola] perguntou qual era meu filme favorito e deu um gritinho engraçado quando respondi que era ‘Amor à Flor da Pele’ (2000), do Wong Kar-Wai. Ele falou que amava esse filme também. Depois disse que foi um prazer conversar comigo e voltou para o trabalho de escavação dele. Quando cheguei em casa, falei para minha mãe e ela enlouqueceu”, lembra Andressa.
Ela lembra que o inesperado encontro com Francis Ford Coppola ocorreu na mesma semana da famosa e controversa entrevista concedida pelo cineasta ao apresentador Jô Soares, que foi ao ar no dia 1º de dezembro de 2010, no antigo “Programa do Jô”, da TV Globo. “Foi uns dois ou três dias antes. Lembro de ter visto o anúncio e ter assistido com minha mãe a entrevista”, conta Andressa.
Mais sobre “Megalópolis”
Aos 85 anos de idade, o lendário cineasta Francis Ford Coppola passou novamente pelo Brasil durante a última semana, como parte da turnê de divulgação de “Megalópolis”. Primeiro, o diretor esteve em São Paulo, onde participou da pré-estreia de seu novo filme, realizou uma masterclass sobre cinema, atendeu grandes veículos de imprensa e foi homenageado na cerimônia de encerramento da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, recebendo o Prêmio Leon Cakoff, antes de mais uma exibição de seu novo filme, escolhido para encerrar o festival.
“Soube que Coppola estava em São Paulo e enviei um convite para que ele visse à Curitiba. Ele veio e conversou com mais de 1.000 participantes no Teatro Guaíra. Entreguei a ele o título de Honorary Lecturer e depois disso ele foi convidado pela Secretaria de Cultura para um almoço e uma homenagem no Palácio Iguaçu. Mais tarde, fomos ao Instituto Lerner para mais uma reunião com Coppola e finalmente ele foi fazer a abertura de seu filme nas salas do Cine Passeio. Tudo em um único dia, 31 de outubro! Foi maravilhoso”, relata a professora Denize Araújo, da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP).
Depois de cumprir seus compromissos em São Paulo, Coppola também visitou Curitiba, repetindo o roteiro de suas duas passagens anteriores pelo Brasil, em 2003 e 2010, à época como parte de sua pesquisa para a produção de “Megalópolis”. Agora, enfim, chegou a hora de exibi-lo na capital paranaense!
“Visitei todos os lugares do mundo que pensei que poderiam ser exemplo de uma sociedade que faz sua população feliz e resolve problemas complicados de forma inteligente, sem apenas gastar dinheiro. Eu descobri um homem chamado Jaime Lerner e percebi que a cidade de Curitiba era o protótipo do que eu estava fazendo”, explicou o diretor de “Megalópolis”, fazendo referência ao arquiteto e urbanista Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná, que revolucionou o sistema de transporte da capital paranaense, com vias exclusivas para ônibus e estações-tubo.
“Jaime Lerner é o personagem de ‘Megalopolis’. Ele é o gênio que percebe que nós podemos ser felizes, realizados e sentir alegria sem precisar pagar um preço terrível por isso. Então, esse é meu muito obrigado a Jaime Lerner, que não está mais conosco”, agradeceu Coppola, em seu discurso durante masterclass de cinema realizada na última segunda-feira (28), em São Paulo. Jaime Lerner morreu em 2021.
Confira abaixo a sinopse do filme “Megalópolis”:
A cidade de Nova Roma precisa mudar, o que desperta um conflito entre César Catilina (Adam Driver), um artista brilhante que tenta construir um futuro utópico e idealista, e o prefeito Franklyn Cícero (Giancarlo Esposito), um homem comprometido com um status quo retrógrado que perpetua a ganância, os interesses particulares e a divisão na sociedade.
Entre eles, está a socialite Julia Cícero (Nathalie Emmanuel), filha do prefeito, cujo amor por Cesar dividiu sua lealdade, forçando-a a descobrir o que ela realmente acredita que a humanidade merece. Um épico romano ambientado em uma versão imaginada da América moderna.