Há dois meses, se alguém perguntasse se você conhecia alguém que estava com Covid-19, provavelmente a resposta seria negativa. Nos últimos dias, porém, esse cenário mudou. Certamente você conhece alguém de seu círculo próximo que testou positivo. Você mesmo, que lê essa reportagem, pode ter sido mais um caso da chamada quarta onda da doença.
É o que revela o intenso movimento de testagem nos laboratórios associados à Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed). A reportagem do Hora Campinas confirmou com fontes dessa rede que há claro avanço dos exames positivos. Veja gráfico abaixo com a escalada da Covid-19 entre abril e maio últimos:
Os dados da associação mostram uma alta consistente dos casos positivos. É bom lembrar que trata-se dos exames que chegam ao conhecimento da rede. Muita gente sintomática ou até assintomática não tem realizado o teste. Outros têm recorrido aos autoexames, disponíveis nas farmácias. Cada kit custa, em média, R$ 69,00. Quem compra dois, ganha desconto. A Drogaria São Paulo, por exemplo, tem cobrado R$ 49 de cada kit quando se compra duas unidades. Outras grandes redes fazem o mesmo.
Veja os números da Abramed dos casos positivos no Brasil:
Semana de 10 a 16/04
36.162
Semana de 17 a 23/04
34.937
Semana de 24 a 30/04
44.095
Semana de 1 a 07/05
47.803
Semana de 8 a 14/05
65.156
Semana de 15 a 21/05
62.500
Semana de 22 a 28/05
102.463
Total em seis semanas
393.116
Menos mortes e menos internações
O retrato da quarta onda no Brasil é bem diferente das anteriores. A proteção conferida pela vacina tem garantido passar por esse momento com menos óbitos e menos internações. A maioria dos quadros tem exigido atendimento clínico e nas enfermarias.
Desde o início da pandemia, Campinas notificou 210 mil casos conhecidos da Covid-19, com cerca de 5 mil óbitos.
No Brasil, são 31 milhões de casos, com 667 mil mortes. No estado de São Paulo, a soma dos casos conhecidos chega a 5,5 milhõess, com 169 mil mortes.
Vacinação em Campinas
Em relação à vacinação, Campinas já aplicou 2,8 milhões de doses, conforme dados do boletim até o dia 31 de maio. São 1 milhão de primeiras doses, mais 1 milhão de segundas doses. As doses únicas somaram 34 mil. E as doses de reforço já são 709 mil. A população adulta protegida supera 90%.
A partir desta segunda-feira, 6 de junho, Campinas deve iniciar a aplicação da quarta dose nos profissionais de saúde e na população acima de 50 anos. A Secretaria Municipal de Saúde aguarda a chegada dos lotes do governo paulista para distribuir aos postos e fazer o anúncio oficial à comunidade.
Análise da nova onda
O pesquisador Júlio Croda, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Mato Grosso do Sul e integrante do Observatório Covid-19, participou na última semana do webinar “A pandemia de Covid-19 no Brasil – balanços e desafios”, promovido pelo Observatório Covid-19 em comemoração ao aniversário de 122 anos da Fiocruz.
Julio Croda afirma que o mundo e o Brasil passam, “claramente”, por uma nova onda de Covid-19, que pode ter sido impulsionada pelas flexibilizações nas medidas restritivas e também pelo surgimento de novas variantes do vírus Sars-Cov-2.
“Muito provavelmente a gente já pode ter BA4 e BA5 e viver uma onda similar a que ocorreu na África do Sul, com um aumento de casos, mas com menor impacto em hospitalização e óbito. Então a gente tem que entender que a gente tem uma vacina que protege parcialmente para a doença sintomática, que tem uma duração muito pequena de proteção para doença assintomática”.
Ele defendeu que é preciso levar mais vacinas para o continente africano, região mais atrasada em relação à imunização contra a Covid-19.
O pesquisador ressalta que ainda é preciso melhorar os indicadores epidemiológicos para considerar o fim da pandemia porque, apesar de a letalidade pela doença ter diminuído, os números ainda são muito altos, com cerca de cem óbitos por dia no Brasil, ou 3 mil por mês, número que, segundo ele, equivale aos óbitos por influenza em um ano.
Futuro
Para que a pandemia de Covid-19 possa ser considerada superada, é preciso mais investimento em pesquisa e em vacina, bem como uma distribuição mais igualitária dos imunizantes entre os países, reforça Júlio Croda, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Mato Grosso do Sul e integrante do Observatório Covid-19.
Croda explica que a ciência ainda não conseguiu responder todas as perguntas em relação à vacinação contra a doença, principalmente qual é a duração da imunidade contra a forma mais grave da Covid-19. De acordo com ele, os dados indicam que a segunda dose de reforço, ou quarta dose, acrescenta proporcionalmente menos proteção do que a terceira dose da vacina.
“A terceira dose, sim, gera uma resposta imune muito robusta, gera uma proteção mais duradoura comparado com a segunda. Mas a quarta dose não gera proporcionalmente essa resposta. Então não existe uma recuperação tão intensa comparando a terceira com segunda e a quarta com a terceira. Então, a gente tem que entender qual será a proteção das vacinas no futuro”.
No mundo, o pesquisador informa que já foram cerca de 14 mil mortes por dia por Covid-9 e, atualmente, os dados indicam cerca de 2 mil.
(Com informações da Agência Brasil)