Vivemos um tempo em que o diálogo tem perdido o seu lugar de importância nas relações humanas. As conversas têm sido respondidas automaticamente, emojis e mensagens curtas, que pouco revelam sobre o que realmente sentimos ou pensamos. É como se a profundidade tivesse dado lugar à superficialidade, e o verdadeiro encontro com o outro se tornasse cada vez mais raro.
Que tipo de amor levamos aos outros? Tratamo-nos como irmãos? Ou passamos o nosso tempo julgando uns aos outros?
Neste mundo complicado, começamos muitas vezes uma boa conversa que rapidamente se transforma numa cacofonia de julgamentos. Em vez de destacarmos as coisas boas e positivas, nos tornamos juízes de fofocas, sem o conhecimento correto do assunto.
Com essas redes sociais, que pouco ajudam e muito atrapalham, as conversas encontradas e construtivas deram lugar a debates acalorados, sem razão nem compreensão. Aquele papo filosófico sobre os porquês e o boato que devemos seguir passou a ser usado como combustível para conflitos irracionais — até entre pessoas que se amam ou são amigas desde a infância.
As mentiras estão dominando as verdades e os justos se calam cada vez mais, não por medo ou omissão, mas por desespero de não criar mais polêmica onde a compreensão de posições está morrendo.
Saber ouvir, refletir e julgar deu lugar a contestar a primeira palavra, impedindo o verdadeiro diálogo que procura compreender para, depois, acrescentar algo de valor.
Além disso, temos medo do silêncio. Sentimos necessidade de preencher todos os espaços com palavras, sons ou imagens. Esquecemos que é no silêncio que muitas vezes reside a escuta verdadeira, aquela que acolhe, compreende e não julga. O silêncio compartilhado pode ser mais interessante do que qualquer discurso.
A empatia, essa habilidade rara de se colocar no lugar do outro, parece estar em vias de extinção. Preferimos reagir rapidamente em vez de respirar fundo e tentar entender o que levou alguém a pensar ou agir de determinada maneira. E, assim, vamos afastando as afeições genuínas e mergulhando nas relações superficiais.
Sinto falta do passado no qual os livros eram os temas do bate-papo e não de influenciadores desinteressados ou mentirosos, que quase viraram líderes políticos, sem nenhuma competência.
Tenho ficado mais em casa, sem sair, não por falta de vontade, mas pelo medo de ouvir mais besteiras ou xingamentos sem razão ou com omissão da verdade.
Parece que a tecnologia nos deixou mais conectados apenas para nos colocar mais sozinhos e isolados, num mundo que caminha para guerras, mentiras e falsos julgamentos.
Não me julgo competente para julgar ninguém e muito menos colocar pessoas nos bancos de réus, mas parece que começo a falar mais comigo mesmo do que ter um bom bate-papo com finalidade de aprender mais, ou pelo menos dar boas risadas.
Os espaços de convivência, antes vivos e barulhentos, com vozes reais estão agora silenciosos, enquanto as mensagens de texto se multiplicam. Há um paradoxo em estarmos tão conectados e, ao mesmo tempo, tão desconectados do que realmente importa: o toque, o olhar, a escuta atenta.
Por isso, talvez o maior ato de amor hoje seja reaprender a escutar, a conversar sem pressa, a acolher sem julgar.
Dar tempo ao tempo e às pessoas, permitindo que cada um expresse suas dores, alegrias e dúvidas sem medo de ser ridicularizado.
Onde iremos parar? Parece que a IA – Inteligência Artificial será o nosso novo amigo, ou será o nosso cruel agressor pronto para julgar até nossos pensamentos?
Luis Norberto Pascoal é empresário e presidente da Fundação Educar