Enquanto a Covid-19 está no centro das atenções, doenças consideradas erradicadas no Brasil correm o risco de voltar – ou já voltaram. O alerta é da comunidade médica, preocupada com a queda no índice de vacinação verificada a partir de 2015.
Para que os números possam começar a retornar à normalidade, o Ministério da Saúde lançou nesta semana a Campanha Nacional de Vacinação contra a poliomielite (paralisia infantil) e de multivacinação.
Em Campinas, as doses já estão disponíveis em 66 Centros de Saúde (apenas o CS Boa Esperança não aplica a vacina). Os pais precisam apresentar a carteira de vacinação e documento com foto da criança ou adolescente. Não há necessidade de intervalo após a vacinação contra a Covid-19.
Segundo dados do Programa Nacional de Imunizações, Campinas chegou a índices preocupantes na cobertura vacinal, principalmente em relação à aplicação da BCG e da segunda dose da Tetra viral SCR. A BCG, considerada importante para prevenir, por exemplo, formas graves de tuberculose e aplicada em crianças de 0 a 5 anos de idade, teve uma taxa de imunização de apenas 72,8% em 2021 (a meta seria a partir dos 95%).
Já a segunda dose da Tetra viral SCR, que previne doenças como caxumba, sarampo, rubéola e varicela, alcançou apenas 67,7% do público-alvo. Os números são ainda mais alarmantes quando a análise leva em conta o quadro geral do país.
Em todo o estado de São Paulo, o balanço também é preocupante. Confira:
“É inadmissível uma criança morrer ou ficar com sequelas de patologias que podem ser prevenidas com vacinas”, diz Luís Alberto Verri, pediatra do Vera Cruz Hospital e especialista em vacinas. “Não há sentido que voltem a poliomielite, tétano, coqueluche, febre amarela, sarampo, rubéola, caxumba, entre outras doenças que podem ser combatidas com vacinas.”
A queda no índice de vacinação tem vários fatores e foi reforçada com o cenário de pandemia do coronavírus, no qual a Covid-19 atraiu o foco das atenções . “Um dos problemas é a falta de informação”, alerta Verri.
“As famílias muitas vezes temem as reações que a vacina pode gerar ou ficam preocupadas que o alto número de doses sobrecarregue o sistema imunológico. Isso é falso. A pessoa pode tomar várias vacinas no mesmo dia, sem nenhum problema”, orienta.
O médico lembra ainda de outras causas para o baixo nível de imunizações. “Existe também a falsa sensação de segurança. Como algumas doenças são difíceis de serem verificadas hoje, muitos pensam que as vacinas não existem mais. É preciso reforçar que essas doenças voltam se as crianças não ficarem protegidas.”
Campanhas
A vacina contra a pólio é voltada para as crianças de 1 a 4 anos, mesmo as que já receberam as doses. Já a multivacinação pretende atualizar as carteiras vacinais de crianças e adolescentes menores de 15 anos. No caso da poliomielite, a meta em Campinas é vacinar 95% do público-alvo de 58.813 crianças. A campanha se estende até 9 de setembro.
Para ilustrar a situação preocupante de vacinação, o sarampo havia sido erradicado no Brasil em 2016, quando o país foi nomeado “zona livre do vírus do sarampo” pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Porém, com a diminuição da cobertura vacinal, houve uma explosão de casos em 2018, e em 2019 o país perdeu o título.