No ano do centenário do nascimento do fotógrafo campineiro Aristides Pedro da Silva, o famoso V8, ele ganha uma exposição no saguão do Paço Municipal de 16 pranchas com fotografias feitas por ele e outras em que foi o retratado, além de sua biografia. A exposição é uma parceria do Centro de Memória da Unicamp com a Prefeitura de Campinas. V8 eternizou em imagens, como poucos, a transformação de Campinas ao longo das décadas do século passado. A exposição marca seu centenário e faz parte dos eventos do Mês da Consciência Negra.
Aristides Pedro da Silva nasceu em 23 de outubro de 1921, sendo o oitavo filho de Benedicto Pedro da Silva e Presciliana Silveira. Seu pai trabalhava como administrador da Fazenda Atibaia, no Arraial de Sousas, distrito de Campinas, e foi ali que ele chegou ao mundo.
Sua biografia aponta que, pouco depois, a família mudou-se para a Fazenda Cachoeira, em Valinhos, a convite do então prefeito Orosimbo Maia, que lá criou o Hotel Fonte Sônia. Porém, o Hotel foi vendido em 1937 e a família voltou para Campinas e passou a viver na Rua Bernardino de Campos, nº 740. Quando a casa própria ficou pronta, se mudaram para a Rua Júlio Frank, nº 18. A mãe dele abriu uma banca no Mercado Municipal, antes de fundar uma tinturaria.
O expoente da fotografia começou a trabalhar desde cedo e, por isso, não terminou os estudos. Trabalhou na Leitaria Santana, na Fundação Gerin e na tinturaria da mãe. Não se casou, nem teve filhos, e cuidou da mãe Presciliana até o fim da vida dela.
Ganhou o apelido por engano, já que V8 era a alcunha de um de seus irmãos, mas pegou e virou sua marca. Aos 17 anos, o jovem iniciou os estudos de pintura na Escola Pedro Alexandrino, mas não conseguiu se dedicar às aulas. Especula-se que a frustração com a pintura o levou às graças de outra forma de arte: a fotografia.
Sua primeira câmera foi adquirida por volta de 1947. Porém, sua paixão por imagens tinha nascido antes, ao observar os cartões-postais que a mãe recebia de hóspedes do hotel.
A fotografia virou profissão em 1952, ano em que abriu um estúdio na Rua Treze de Maio. V8 era um homem talentoso e na mesma época foi técnico do juvenil do Guarani Futebol Clube, entre 1950 e 1960. E era justamente nos gramados que ele apurava sua sensibilidade, brincando com luz e ângulos.
No estúdio surgiu o gosto por coleção de imagens antigas da cidade. Uma vez expôs uma dessas imagens da vitrine e começou a ganhar imagens antigas da cidade de diversas pessoas, além de outras retiradas do lixo.
Consciente ou não, V8 se tornou um guardião da memória fotográfica de Campinas.
Com essa missão passou a registrar de forma incansável a cidade que ia se desfazendo pela falta de zelo e pelo progresso que não pedia licença e nem respeitava a história. O discurso do progresso pôs abaixo casas, uma igreja, dois teatros, entre tantas outras edificações.
Com seu olhar atento e sensível, V8 captou a vida da cidade como poucos. Ele esteve em momentos diversos da vida campineira, como a visita do médium Chico Xavier, na década de 1970, registrou a demolição da Igreja do Rosário, entre maio de setembro de 1956, do Teatro Municipal, em outubro de 1965, a despedida dos bondes, em outubro de 1968, a retirada dos trilhos em frente à Fepasa, entre 1973 e 1976, a demolição de casas na Rua Abolição, no bairro Ponte Preta, na década de 1970 e 1975, a construção do Estádio Brinco de Ouro da Princesa, em agosto de 1950, o Pelé em jogo entre o Santos e a Associação Atlética ponte Preta, no Estádio Moisés Lucarelli, em 16 de agosto de 1970, entre muitos outros registros. Alguns sortudos tiveram a sorte de ter o casamento eternizado pelas lentes desse fotógrafo genial.
Para a secretária municipal de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos de Campinas, Vandecleya Moro, é uma grande honra para a Prefeitura homenagear o artista com a exposição. “É importante registrarmos uma data significativa como um centenário de um fotógrafo tão importante, homenageando simultaneamente a comunidade negra de nossa cidade”, afirmou.
“Aristides Pedro da Silva foi um artista da imagem de formação bastante heterodoxa. Ele começou registrando partidas de futebol e, com o tempo, passa a colecionar e registrar imagens da história de Campinas, reunindo ao longo da vida um dos conjuntos mais significativos sobre o Município. Sua coleção é tão excepcional quanto o olhar sobre a cidade”, afirmou o professor André Paulilo, diretor do Centro de Memória da Unicamp.
O fotógrafo memorialista morreu em 31 de julho de 2012, aos 91 anos de idade.
A mostra está disponível durante todo o mês de novembro e também pode ser visualizada no site https://bit.ly/Mostrav8.