Imagine uma situação hipotética: você está numa roda de amigos e o papo corre leve e solto quando, de repente, alguém solta uma fofoca sobre um coleguinha que não está presente.
O que você faz? Evita falar sobre o assunto ou mergulha na discussão apresentando, inclusive, outros fatos pitorescos que deixam o fuxico ainda mais interessante?
Sem dúvida, muita gente já passou por uma situação como esta. E, na verdade, o ato de falar dos outros é uma das nossas principais características. Por isso, é tão difícil fugir das fofocas, tampouco não participar destes falatórios.
Segundo Yuval Harari, autor do livro “Sapiens – uma breve história da humanidade”, existe uma teoria que defende a evolução da nossa linguagem graças à necessidade que sempre tivemos de compartilhar informações sobre o mundo. Mas as informações mais importantes que precisavam ser comunicadas eram sobre os próprios seres humanos e não sobre a natureza e seus aspectos.
Complicou? Não.
Por sermos animais sociais, nunca foi suficiente saber apenas sobre os contextos gerais de determinado assunto – seja no âmbito particular ou profissional. É muito mais importante saber sobre as outras pessoas que fazem parte da situação.
Voltando ao exemplo do coleguinha no início do texto. Para nós, mesmo que de forma inconsciente, é mais relevante sabermos sobre a pessoa. Afinal, é a partir destes dados que “definimos” se o indivíduo é confiável ou não, se ele merece passar pelo que está passando ou não, se ele é honesto ou charlatão.
O interesse pela vida alheia faz parte do jeito como nos relacionamos, mas não é algo exclusivo. Diversos animais, como os macacos, possuem este ávido interesse pelas informações de seus colegas de bando. Porém, de forma prática, eles têm dificuldades para fofocar de fato.
A bem da verdade, o ato de fazer fuxico, habilidade tão difamada, foi [e ainda é] um sistema essencial para que possamos cooperar em uma sociedade. Devido à essa troca intensa de informações é que conseguimos sentir algo por outra pessoa.
Expandidos os horizontes, a cooperação entre países, por exemplo, também se dá pela prática da fofoca.
Ao longo de milhares de anos, a evolução da nossa linguagem, que inclui a habilidade de fofocar, ajudou a desenvolver a cooperação em larga escala – o que fez a humanidade chegar até aqui.
Parece piada, mas não é!
Nos dias de hoje, a maior parte da comunicação humana, seja ela qual for: troca de e-mails, noticiário de TV, matérias na internet. Enfim, tudo se dá por meio do “disse me disse”.
Como citado, a capacidade de trocar informações sobre outro membro do grupo não é exclusividade dos seres humanos. O que torna a nossa linguagem única é a capacidade que temos de transmitir informações sobre as coisas que não existem. Aí sim é fofoca desnecessária!
Nós. Somente nós temos o poder de falar sobre as coisas que nunca vimos, tocamos, provamos ou cheiramos. Chegamos neste patamar imaginativo tão poderoso graças ao milenar ato de falar sobre os outros – sem ele, talvez ainda estivéssemos perambulando pelo mundo e travando guerras diárias para conseguir comida.
Dê chance para a fofoca. Mas use com moderação.
Flávio Benetti é professor, palestrante, publicitário e especialista em Comunicação interna e endomarketing. Considera-se um cara apaixonado pela vida, curioso por natureza, fã de tecnologia, design e fotografia