O surgimento mais frequente de casos de esporotricose chama a atenção das autoridades em saúde. Nove estados já incluíram a esporotricose humana em suas listas estaduais de notificação compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública. São eles Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, Paraná, Paraíba, Rio de Janeiro e Rondônia, segundo o Ministério da Saúde.
Em Campinas, a Secretaria de Saúde preparou um material com dez perguntas e respostas para as dúvidas mais comuns sobre a enfermidade. Os dados compilados tratam sobre a transmissão, tratamento e o cenário na cidade diante da alta de registros, com análise da coordenadora da Unidade de Vigilância em Zoonoses (UVZ), Marcela do Prado Coelho.
Conforme a especialista, a esporotricose é uma micose subcutânea que surge quando o fungo do gênero Sporothrix entra no organismo. Ele costuma estar presente na natureza, no solo, espinhos de arbustos, árvores e vegetação em decomposição.
É uma doença em que felinos são considerados “protagonistas”, informa o Ministério da Saúde, mas que também pode ocorrer em cães.
“O acesso ao corpo humano pode ocorrer por meio de uma ferida, incidente como eventual contato com espinhos de plantas, ou quando há arranhadura/mordida ou contato de uma lesão do corpo com um gato ou cachorro que esteja com o fungo”, destaca Marcela. Casos graves da doença podem ocorrer caso haja disseminação para outros locais do organismo.
Em pessoas, os principais sintomas são inchaço avermelhado no local, ou próximo, do arranhão ou mordida do gato. Pode se formar uma ferida de difícil cicatrização, às vezes acompanhada de outras lesões enfileiradas e ínguas (aumento de gânglios).
Nos gatos contaminados aparecem feridas de pele que não cicatrizam, principalmente na cabeça e patas, que podem progredir para o resto do corpo. Também podem aparecer aumento de volume na região do nariz e sintomas respiratórios.
No caso do tutor notar sinais de esporotricose em seu animal de estimação a orientação é para procurar por atendimento veterinário público ou particular o mais rápido possível. Se houver sinais da doença em humanos, a Unidade de Vigilância em Zoonoses destaca que o atendimento está disponível em todos os centros de saúde de Campinas.
Confira abaixo algumas informações sobre o que é verdadeiro – ou falso – sobre a doença:
Os casos de esporotricose felina e humana aumentaram em Campinas e outras cidades brasileiras?
Verdadeiro. Tivemos um maior número de notificações da doença.
A situação da esporotricose está descontrolada em Campinas?
Falso. As áreas onde os animais foram diagnosticados estão sendo monitoradas. A população e os profissionais estão mais atentos aos sinais da doença através das ações realizadas, e consequentemente diagnosticando mais. O cenário é parecido com o de cidades em diferentes regiões do país e o Ministério da Saúde diz que dados sobre dispensa de medicamentos para tratamentos de pessoas sugerem alta de registros, uma vez que a enfermidade não exige notificação compulsória.
A esporotricose felina é difícil de ser identificada?
Falso. De modo geral, as lesões nos felinos são bastante características e a presença do fungo na lesão pode ser detectada facilmente por exames laboratoriais.
Gato contaminado precisa ser isolado?
Verdadeiro. O isolamento do animal é fundamental para que ele não transmita para outros animais e outras pessoas.
Gato ou cachorro contaminado precisa ser sacrificado?
Falso. Esporotricose tem tratamento. E quanto mais cedo começar, maiores as chances de cura do animal.
Os cachorros e gatos são “culpados” pelo surgimento da esporotricose?
Falso. Eles também são vítimas da doença, sendo contaminados pelo ambiente, por exemplo.
Para tratar esporotricose humana basta procurar apoio de um CS em Campinas?
Verdadeiro. Ao notar sinais como inchaço avermelhado no local ou próximo do arranhão ou mordida do gato, ferida de difícil cicatrização, às vezes acompanhada de outras lesões enfileiradas e ínguas (aumento de gânglios), procure o centro de saúde mais próximo.
Os sintomas da esporotricose podem ser confundidos com outra micose e o ideal é procurar um médico?
Verdadeiro. Os sinais clínicos da esporotricose são parecidos com de outras doenças de pele. Por isso, o correto é procurar um médico para ele realizar os exames corretos.
Um gato que já pegou esporotricose pode se contaminar novamente?
Verdadeiro. Por isso, a importância do gato não ter acesso à rua mesmo após ter tido alta do tratamento pelo veterinário.
Gato ou cachorro com esporotricose só transmite a doença caso morda ou arranhe um humano saudável?
Falso. O ser humano pode se contaminar através do contato direto com a ferida ou secreções do animal.
VEJA DADOS SOBRE A ESPOROTRICOSE EM CAMPINAS
Casos em gatos em Campinas – 2019 a 2023
• 2023 (janeiro a outubro) – 58
• 2022 – 6
• 2021 e 2020 – sem registro
• 2019 – 1
Mortes de gatos por esporotricose em Campinas
• 2023 (janeiro e outubro) – 10
• 2022 – 4
• 2021 e 2020 – sem registro
• 2019 – 1
Casos em cães em Campinas
• 2019 a 2023 – sem registro
Casos em humanos em Campinas (transmissões por gatos com o fungo)
• 2023 – 6
• 2022 – 2
• 2019 a 2021 – sem registro
• A UVZ não dispõe de dados onde a esporotricose ocorre de outras formas
Mortes de humanos por esporotricose em Campinas
• 2019 a 2023 – sem registro
MEDIDAS PARA CONTENÇÃO E PREVENÇÃO DA DOENÇA
Com o aumento de casos, neste ano a UVZ e as vigilâncias em saúde (Visas) de Campinas promoveram ações associadas à esporotricose. Entre elas:
• Capacitação sobre esporotricose para profissionais no CS Santos Dumont
• Casa-a-casa na área do CS Santos Dumont
• Capacitação sobre esporotricose no CS Costa e Silva
• Casa-a-casa na área do CS Costa e Silva
• Capacitação sobre esporotricose no CS San Diego
• Ação educativa na área do Abaeté 2
Segundo o órgão municipal, outras medidas estão em discussão e planejamento para serem implementadas na cidade.