Há quase três anos, após ter encerrado oito anos à frente da Secretaria Municipal de Saúde de Campinas e de retomar plena e exclusivamente minhas atividades acadêmicas na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), recebi um honroso e desafiante convite da editoria do Hora Campinas para escrever uma coluna semanal, fundamentalmente sobre as mais diversas experiências que vivi como médico, professor de medicina, pesquisador e gestor de saúde.
Denominei esta coluna como “Letra de Médico” pois entendi que o mais importante seria transmitir meus conhecimentos, experiências e opiniões, principalmente, dentro do campo da saúde pública ou especializada.
Novamente quero dizer que não é fácil escrever todas as semanas com argumentos que possam interessar à opinião pública e trazer algum conhecimento válido à população neste campo de extremo interesse que é a área da saúde.
Além disto, não pude deixar de lado o contexto desafiador do enfrentamento da pandemia do novo coronavírus (SarsCov2) e da doença associada que foi denominada pela OMS como Covid-19 bem como todos os aspectos diretos e indiretos ligados a esta grave crise sanitária.
Como professor universitário, as experiências anteriores como “escritor” estavam ligadas, em sua grande maioria, aos artigos científicos, portanto, com a formatação e apresentação exigida pela comunidade científica. Tentei abordar assuntos pelos quais percorri em minha carreira de modo a transferir ao leitor um pouco do que vivi ao longo desta minha longa jornada como profissional de saúde e acadêmico de medicina.
Busquei ainda temas universais no campo da saúde, da educação e da pesquisa, mesclando assim temas e públicos. Procurei ainda, além de temas primordialmente assistenciais, incluir temas de interesse educacional e mesmo científico tentando contextualizar tudo isto nas “ciências da vida”, talvez a maior e mais complexa área do conhecimento deste século 21.
Sempre acreditei e estamos realmente vivendo o século da biologia e do meio ambiente. Os desafios aos mais de sete bilhões de seres humanos que hoje habitam nosso planeta são crescentes. Como faremos para prover todos os meios de subsistência a todos os seres humanos? Teremos água para todos? Teremos alimentos para todos? Teremos trabalho para todos? Viveremos de epidemias em epidemias? Como vamos enfrentar as crises climáticas e suas consequências?
No ano de 2021, escrevi ainda meu primeiro livro não técnico e não científico onde pude relatar um pouco destas minhas experiências nos enfrentamentos das epidemias. No ano de 2023 publiquei um livro que celebra a extraordinária cooperação entre o Brasil e Itália, em três línguas (português, italiano e inglês). Preparamos ainda, nosso próximo livro sobre a importância histórica do SUS que será publicado brevemente pela editora da Unicamp.
Esta tem sido uma experiência prazerosa e estimulante. Escrevendo o primeiro livro, pude recuperar muitos dados históricos de meus antepassados e rever caríssimos amigos de infância, colegas das escolas públicas primária e secundária que frequentei e colegas e grandes amigos de profissão que há muito não encontrava bem como aqueles com quem ainda convivo diuturnamente ou frequentemente. No segundo livro, compartilhar com colegas brasileiros e italianos experiências pessoais e profissionais fantásticas.
Alguns dos nossos textos do Hora Campinas têm sido replicados em outros órgãos de divulgação e serviram como textos para debates, reflexões e informação sobre vários temas na saúde.
Novamente, devo dizer, que nunca tive ou terei a presunção de ser o “dono da verdade” ou “detentor das soluções”, mas sim tentar contribuir para o bom debate, honesto, propositivo e institucional, e promoção de nosso compromisso com a sociedade do aperfeiçoamento de nosso trabalho e do bem-estar de nossos concidadãos.
Procurei ainda, sempre que possível, dar um caráter geral às discussões de modo que, apesar de interessar sempre a nossa cidade e/ou região, os relatos pudessem ser estendidos a outros níveis como o estadual e nacional, e mesmo internacional.
Creio que é nossa obrigação enquanto professores de medicina, particularmente, quando chegamos a professor titular, é levar à sociedade informações e projetos que possam modificar e melhorar as nossas vidas projetando um futuro de uma sociedade mais justa e saudável. Certamente, é o que a sociedade espera de nós. Espero estar atendendo, ainda que parcialmente, as expectativas da editoria do jornal, mas, principalmente, dos leitores para quem escrevemos e tentamos levar a boa e necessária informação.
A comunicação se transformou em um enorme desafio de nossos tempos. Como enfrentar as notícias falsas e maliciosas que podem comprometer o bom entendimento dos vários temas e problemas da sociedade bem como das possíveis soluções?
É nossa obrigação e sempre, se confrontar à má informação e trazer, sempre que necessário, o justo, o correto, o técnico, o ético e, principalmente em nossos tempos, o que tem suporte científico. Devemos lembrar, sempre, que o conhecimento evolui e está sempre em constante modificação.
Existem estimativas de que, pelo menos, 20% dos conceitos são, de algum modo, modificados ou substituídos a cada ano. Devemos estar abertos às evoluções e às mudanças que o conhecimento nos oferece.
Não seria inteligente se não fosse assim. Vamos tentar manter no futuro estas contribuições com absoluta honestidade e isenção.
Vou continuar compartilhando alguns textos com colegas que tenham conhecimento específico maior do que o meu e que possam agregar dados e informações relevantes.
E, a todos vocês leitores, grato pela leitura e as eventuais sugestões para colocarmos nesta coluna de “Letra de Médico”.
Carmino Antônio De Souza é professor titular da Unicamp. Foi secretário de saúde do estado de São Paulo na década de 1990 (1993-1994) e da cidade de Campinas entre 2013 e 2020. Secretário-executivo da secretaria extraordinária de ciência, pesquisa e desenvolvimento em saúde do governo do estado de São Paulo em 2022 e atual Presidente do Conselho de Curadores da Fundação Butantan. Diretor científico da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH).