Com três participações nos Jogos Olímpicos, medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos e recorde sul-americano vigente durante 25 anos, todos no heptatlo, a campineira Conceição Geremias vive aquele que pode ser o maior de seus desafios. Complicações em cirurgias que realizou resultaram na amputação de um dos pés. Amigos e familiares de Conceição, exemplo também em competições masters disputadas até o início deste ano, lançaram canais de doações para levantar os recursos que garantirão a continuidade de seu tratamento em casa, após quase cinco meses de internação.
Em 1983, Conceição conquistou a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Caracas, na Venezuela, feito até então inédito para o heptatlo feminino brasileiro. Também estabeleceu o recorde sul-americano que perdurou durante 25 anos. Esteve presente em três Olimpíadas consecutivas: Moscou/80, Los Angeles/84 e Seul/88, e acumulou tantas outras vitórias nas Américas e no Brasil.
Conceição, de 67 anos, nunca deixou o esporte. Como máster, competia em provas de salto em altura, lançamento de dardo e de peso e de vôlei de quadra e areia. Até que, no início deste ano, uma neuropatia detectada na planta dos pés a levou a realizar cirurgias que, a princípio, seriam simples e rápidas.
“Os problemas começaram nove dias depois da cirurgia, quando ela foi retirar os pontos. Eles não cicatrizaram e daí pra frente tudo piorou. No dia 9 de fevereiro ela internou no Hospital em Hortolândia e tudo se complicou”, detalha Rita Geremias, também ex-atleta e irmã de Conceição.
A infecção severa trouxe Conceição para um hospital de Campinas e determinou a necessidade de amputação do pé esquerdo, oito centímetros abaixo do joelho. A infecção se espalhou pelo corpo, conta Rita, e Conceição passou sete dias em coma. O pé direito também tem feridas ainda não cicatrizadas e merece muita atenção.
“A Conceição está num quarto agora, mas sente muita dor. Conseguimos apenas para julho a realização de um procedimento que pode ajudar a bloquear a dor. Ela ainda precisa de muitos cuidados, não sai da cama. Há o medo de que se continuar no hospital, o risco de novas infecções aumente, mas se ela for para casa precisará de cuidados muito específicos e caros”, descreve Rita.
Ajuda
Dois canais foram abertos por amigos de Conceição para ajudar a custear os cuidados de que precisará quando for para casa. Uma vaquinha virtual foi aberta por outra ex-atleta de Campinas com o objetivo de arrecadar R$ 50 mil, o empurrão necessário para os cuidados essenciais em casa. As contribuições podem ser feitas por meio deste link.
Quem preferir, também pode ajudar por meio de PIX, com qualquer valor. A chave, que pertence à Conceição Geremias, é 19981713164.
Uma parte da recuperação de Conceição, conta Rita, está assegurada. Amigos e admiradores da campeã do heptatlo ofereceram diferentes formas de ajuda, como fisioterapia e prótese para o pé amputado, contribuições futuras fundamentais ao restabelecimento da campineira.
Trajetória
A trajetória de Conceição Geremias no esporte ilustra a força que ela emprega para se reestabelecer. Nascida em 23 de julho de 1956, o esporte surgiu para ela quando ainda trabalhava na roça da Fazenda Santa Elisa, zona rural de Campinas. O atletismo foi a alternativa de vida à qual se agarrou em busca de ampliar o futuro.
E os anos seguintes superaram tudo o que ela sequer sabia que poderia conseguir. É a única mulher nascida em Campinas a disputar três olimpíadas e também a segunda mulher brasileira a ganhar ouro no atletismo dos Jogos Pan-Americanos. O recorde sul-americano do heptatlo conquistado em Caracas/1983, de 6.017 pontos, foi superado apenas nos Jogos Olímpicos de Seul/2008, por Lucimara Silvestre da Silva, que alcançou 6.076.
“Falar de Olimpíada é uma emoção que a gente quase não consegue encontrar palavras e uma grandeza que não dá para explicar direito. Nós, atletas, sempre colocamos metas para atingir e, no meu caso, queria participar de uma Olimpíada, mesmo que fosse como reserva. Desse objetivo que tracei, recebi em triplo”, afirmou Conceição em entrevista ao repórter Gustavo Magnusson, do Hora Campinas, em julho de 2021.
A meta da campineira agora é voltar para casa e retomar o rumo da vida, com a ajuda dos amigos e admiradores.