Acredito que ainda não estamos entre a vida e a morte, mas as mudanças climáticas têm aumentado em 35 vezes a probabilidade de ondas de calor. Este ano foi o mais quente já registrado, e grandes áreas do mundo já passaram por temperaturas escaldantes antes do início do verão no hemisfério Norte.
Você tem sentido a diferença de temperatura onde mora? O tempo está mais seco? Menos frio? Muita chuva? Inverno que começa com “veranico”, como ocorreu no Brasil, pode não ser um bom sinal. Precisamos estar atentos ao que já ocorre no Hemisfério Norte.
A probabilidade de que o calor extremo que afetou todos estes países em maio e junho volte a acontecer ainda este ano é quatro vezes maior do que há 25 anos, segundo o estudo da associação de climatologistas World Weather Attribuition.
É uma catástrofe que nos espera. Por exemplo, o México teve 125 mortes por calor registradas desde março, uma situação que pode piorar ainda em curto prazo. Devido ao uso de combustíveis fósseis, que provocam gases do efeito estufa, milhões de pessoas sofrerão as consequências das ondas de calor. É uma crise que afeta o mundo inteiro.
Nos Estados Unidos, os incêndios florestais no Novo México são graves e já deixaram mortos, enquanto na Grécia, ao menos dez turistas morreram por conta do calor. Só neste ano, mais de mil pessoas faleceram durante a peregrinação anual do Hajj, a maioria devido ao calor implacável: as temperaturas em Meca atingiram 51,8ºC em meados de junho.
Ursos polares podem morrer por falta de neve e ecossistemas inteiros serão destruídos. Enquanto nas cidades cada vez mais será comum a presença de refugiados climáticos, se não nos tornarmos um deles.
As temperaturas máximas registradas na América do Norte e Central representam a diferença entre a vida e a morte para muitas pessoas. No verão e, em breve, no inverno, as estações ficarão mais extremas. Veremos a vida cada vez mais fragilizada.
Além de reduzir as emissões, os governos e as cidades precisam tomar medidas para serem mais resistentes às mudanças climáticas, plantando triliões de novas árvores, se preparando para enchentes, disponibilizando moradias verdes, reduzindo a circulação de carros, incentivando bicicletas e transporte público limpo.
De todos os fenômenos meteorológicos, o calor é o mais preocupante e o de mais alto risco para o planeta, dizem os especialistas.
Crianças, idosos e trabalhadores ao ar livre estão particularmente vulneráveis ao calor extremo, que também ameaça a estabilidade do fornecimento de energia elétrica, crucial para o funcionamento das unidades de saúde, desencadeando uma série de problemas e desastres que se tornarão inevitáveis se nada for feito.
Espaços verdes destruídos resultam em muitas mortes por calor, tempestades e inundações. A tragédia recente do Rio Grande do Sul é um exemplo doloroso dessas consequências.
Outro exemplo é no Pantanal, os incêndios florestais já destruíram 661 mil hectares do bioma este ano e existe também a probabilidade de a área queimada do Pantanal ultrapassar 2 milhões de hectares até o final de 2024. Se observarmos com uma lupa maior, todas essas tragédias nunca mais deveriam se repetir.
Desde 1970, nos preocupamos com plantios de muitas árvores e, agora, com um projeto inovador, queremos resgatar o cerrado com plantio arbóreo. O projeto se chama Tree_llion, e propõe que o mundo plante um trilhão de árvores por ano.
É um começo, mesmo assim será difícil frear os riscos de ondas de calor mortais.
Luis Norberto Pascoal é empresário e presidente da Fundação Educar