Sonia Lazinho, 65 anos, acorda por volta das 6 horas da manhã e não demora muito para que o cheiro do café que coa fresquinho invada toda a casa. Logo depois Luiz Lazinho, 71 anos, aparece na cozinha e já coloca para tocar duas músicas que escolheu para declarar diariamente o amor que nutre há 47 anos de casados, e outros dois de namoro, por sua amada.
No repertório atual estão Will Aways Love You, de Witney Houston, e Amor Além da Vida, de César e Paulinho. Mas, como eu gosto de olhar as pessoas por meio das letras das músicas, sempre enxerguei neles, que são meus tios, a canção Como é Grande o Meu Amor por Você de Roberto Carlos.
Acostumados com esse romantismo, seus quatro filhos se divertem com esse e outros tantos rituais românticos do casal. “A gente escuta a mesma música faz tempo e até pergunta se eles não enjoam? Mas, a resposta dos dois é sempre a mesma: não, nunca. Até nisso são cúmplices”, conta Aline, uma das filhas do casal.
Era início da década de 70 quando Luiz conheceu Sonia em uma quermesse na igreja Bom Jesus, em Americana.
Ele lembra que, nesse dia, teve a certeza de ter encontrado o amor da sua vida. Não demorou muito e começaram a namorar, Sonia guarda até hoje os bilhetes diários datilografados que recebia junto com uma rosa, durante os anos de namoro.
Luiz detalha que todos os dias, antes de ir trabalhar, passava por uma floricultura e pegava uma rosa que vinha embrulhada no jornal. “Chegava ao trabalho, escrevia o bilhete e o guarda-mirim, que era meu cúmplice, entregava no trabalho dela, a rosa embrulhada no jornal e o bilhete”, lembra.
Depois de se casarem as rosas continuaram chegando para ela de outras formas. Todo sábado de manhã Luiz buscava rosas para ela, só que dessa vez recorria ao jardim dos amigos. E até hoje ele manda, pelo menos uma vez por mês, um buquê de rosas para ela. “Com a pandemia tenho saído menos, então peço para os filhos trazerem e eu entrego”, conta.
Amor é liberdade e cumplicidade
Mas claro que um relacionamento não sobrevive só de flores, e nesses quase 50 anos juntos Luiz e Sonia passaram por muitos desafios que, segundo eles, colaborou para a construção desse amor real. “Sempre juntos, na alegria e na tristeza”, resume Sonia.
Pergunto para eles qual é o segredo para manter um relacionamento tão bonito e verdadeiro? Os dois contam que sempre respeitaram muito o espaço um do outro.
“Sempre tivemos muita liberdade para fazer o que gostamos e um incentivou o outro a crescer”, conta Luiz. A chegada dos quatro filhos não impediu que Sonia fizesse três faculdades: pedagogia, direito e biologia. Luiz, que é advogado, também se formou em teologia e morou parte da sua vida em Brasília a trabalho. “Nunca deixamos de cuidar um do outro, mesmo estando distantes fisicamente”, conta Sônia.
Agora Luiz tem um escritório de advocacia ao lado da casa da família. Um pouco antes da pandemia, Sonia comprou uma plaquinha anunciando “Volto Já” e deixava em cima da mesa da cozinha toda vez que saia.
“Nos intervalos ele vinha para casa, e percebi que ficava preocupado quando não me encontrava. Para ficar tranquilo, coloco a plaquinha quando saio. O amor mora na simplicidade do dia a dia”, conta. Juntos, os dois transbordam delicadezas e cuidados um com o outro.
Sonia destaca que paciência também é outro ingrediente fundamental para o relacionamento se manter saudável. O casal está sempre construindo planos para o futuro, sem deixar de viver o aqui e agora. Agora os dois enfrentam envelhecer juntos, mas sem perder temperos que sempre estiveram presentes na vida deles: o bom humor e a leveza.
E se depender do romantismo deles, amanhã, Dia dos Namorados, Sonia vai fazer o café, Luiz vai colocar as canções diárias de declarações de amor para ela e vai mandar flores. Assim como a canção de Roberto Carlos que diz: “Eu sou Aquele Amante a Moda Antiga/ Do Tipo que Ainda Manda Flores.”
Um convite: Quer ter sua história contada nessa coluna? Manda para a gente! O e-mail é katiacamargo@horacampinas.com.br
Kátia Camargo é jornalista e quis contar a história dos tios Luiz e Sonia depois que assistiu a série da Netflix, Meu Amor – Seis Histórias de Amor Verdadeiro que traz histórias de seis casais espalhados pelo mundo que estão juntos há mais de 40 anos. A série retrata com muita ternura o valor do companheirismo em qualquer cultura.
