Este título provocativo visa fortalecer a ideia muito ampliada da importância da pesquisa para o desenvolvimento da saúde pública e no desenvolvimento do bem-estar de nossa população. As pesquisas, em geral, são muito cifradas e difícil de ser entendidas ou acessadas pela população geral e pelos meios de comunicação. Traduzir a ciência é um enorme desafio para todos nós que trabalhamos na academia e produzimos e/ou difundimos conhecimento aos pacientes e à sociedade.
O fato é que os gestores públicos e aqueles responsáveis pelas políticas públicas saibam que jamais a ciência e políticas públicas são antagônicas ou incompatíveis. Decidir baseado em ciência será sempre mais correto e com menores riscos de erros. Um fato extremamente importante é que os ministros da saúde, principalmente dos países em desenvolvimento como o Brasil, se esforçassem para fortalecer a pesquisa em saúde em seus países. Como as prioridades de pesquisa devem ser definidas? Quais capacidades humanas e institucionais são necessárias? Como garantir um comportamento ético e bom? Como promover transparência e responsabilidade?
Como o conhecimento deve ser traduzido em ação? Qual é a melhor maneira de coordenar a pesquisa entre os muitos que a realizam, e quando tantos desafios de saúde envolvem setores além da saúde? Embora o tema central permaneça solidamente relevante e importante, duas áreas adicionais são altamente relevantes.
Primeiro, há uma percepção de que o público-alvo deve se ampliar. No final das contas, há menos de 200 ministros da saúde no mundo todo e talvez devam ter como alvo um grupo mais amplo de formuladores de políticas nacionais de saúde (e pesquisa em saúde). Em muitos países em desenvolvimento, onde os ministros da saúde são frequentemente nomeados políticos de curta duração, direcionar este tema a formuladores de políticas e tomadores de decisão em cargos executivos, operacionais, de liderança e gerenciais parece ser uma abordagem sensata.
É importante ressaltar que esse alcance mais amplo deve ir além dos ministérios da saúde, pois o financiamento da pesquisa é frequentemente controlado por outros ministérios, como ciência e tecnologia, finanças e educação. Em segundo lugar, e enquanto continuamos a defender a importância da pesquisa no diagnóstico do problema, decidindo sobre intervenções apropriadas e estratégias de expansão relevantes, sentimos que também precisávamos transmitir algum entusiasmo sobre ciência e pesquisa.
Portanto, devemos mostrar como a pesquisa pode contribuir com novos insights, incluindo alguns exemplos de questões de pesquisa emergentes com impactos potenciais na saúde, incluindo tecnologias inovadoras (por exemplo, avanços em genômica, medicina personalizada, terapia com células-tronco, etc.), doenças zoonóticas, mudanças climáticas, agricultura e saúde.
Essas duas dimensões adicionais ressaltam a mudança sutil, mas importante, de que “Não há saúde sem pesquisa” para “Pesquisa para a saúde”, reconhecendo assim que a saúde e o papel da pesquisa se tornaram muito multidimensionais e intersetoriais por natureza e, portanto, uma abordagem mais ampla e inclusiva é necessária.
Em relação aos temas expandidos e delineados acima, produção de trabalhos científicos relacionadas e que descrevem experiências com os tomadores de decisão e formuladores de políticas dentro de ministérios e secretarias de saúde e desenvolvimento de políticas intersetoriais são especialmente bem-vindas e necessárias.
Além disso, pesquisas sobre as implicações de novas tecnologias, afetam a prestação de cuidados de saúde e outros aspectos intersetoriais com impactos potenciais na saúde como por exemplo, mudanças climáticas, agricultura, comércio, segurança alimentar, etc. também são sempre necessários. Desse modo, é fundamental dizer que a pesquisa é e será sempre necessária para que sigamos os melhores caminhos da saúde.
Carmino Antônio De Souza é professor titular da Unicamp. Foi secretário de saúde do estado de São Paulo na década de 1990 (1993-1994) e da cidade de Campinas entre 2013 e 2020. Secretário-executivo da secretaria extraordinária de ciência, pesquisa e desenvolvimento em saúde do governo do estado de São Paulo em 2022 e atual Presidente do Conselho de Curadores da Fundação Butantan. Diretor científico da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH) e Pesquisador Responsável pelo CEPID-CancerThera-Fapesp.