Nesse artigo convido você a refletir comigo, minha querida leitora, meu caro leitor, a respeito dessa expressão bem popular, muito utilizada no viés da autoajuda, que é a seguinte: “Tempos difíceis, criam pessoas fortes”, você aceita me acompanhar nessa reflexão?
Você há de convir comigo que não controlamos 100% do que acontece conosco, muitas das vezes precisamos desenvolver e aplicar a habilidade da reação mediante aos acasos, as contingências da vida que nos pegam de surpresa. É justamente aqui que podemos encaixar parte dessa frase, tempos difíceis, aos quais somos como que submetidos pelas adversidades em nosso cotidiano, seja em relacionamentos afetivos, profissionais que acabam por acometer nossa saúde física e mental, como bem expressa a psicanálise, área na qual atuo profissionalmente e que foca em explorar a psique, que na tradução do latim, pode ser interpretada como a alma.
A psicanálise é conhecida como o processo terapêutico da “cura pela fala”, é através da fala do analisando que o analista consegue auxiliar seu paciente a ressignificar traumas armazenados no seu inconsciente, traumas esses que podem ter sua origem justamente em momentos difíceis sob os quais fomos submetidos e não tivemos a melhor forma de reação emocional naquele dado momento.
Tempos difíceis são necessários para amadurecermos? Eles nos tornam naturalmente mais fortes como uma consequência linear e necessária ou são apenas oportunidades de desenvolver essa força emocional, essa inteligência para administrar e contornar os problemas e obstáculos que estiverem em nosso caminho?
Penso que se estivermos na chamada zona de conforte, em uma rotina que não requer de nós desafios para superação, é bem provável que não venhamos a crescer enquanto ser humano; ouso aqui dizer que vez ou outra uma adversidade faz bem para nos testarmos, seria tal como uma prova na escola (falo isso com propriedade, pois também sou professor de Filosofia), em uma sala de aula você pode passar um, dois meses de conteúdo, padronizados, textos na lousa, mas é necessário uma avaliação, uma prova para fechar as notas dos alunos e assim verificar o nível de compreensão e de aprendizado de cada aluno. Para aqueles alunos que não foram bem, há ainda a possibilidade de um período de recuperação e uma nova prova…
Talvez possamos também interpretar dessa maneira as provas em nossa vida, são individuais, tal como em sala de aula, não sendo permitido consultar nada nem ninguém, proibido olhar para a mesa de trás para copiar a resposta do colega, minha professora do primário já dizia de maneira muito sábia: “Olhe para frente, a prova é individual!”.
Exercícios físicos podem ser um bom exemplo de como a disciplina e a motivação para colher novos e melhores resultados são um combustível fundamental na hora de passar pelo processo da dor física nos treinos.
Nada cai do céu, “… se você quer, tem que pegar!”, belíssima citação do filme Falcão, o campeão dos campeões protagonizado pelo ator Sylvester Stallone. A partir dessa nossa reflexão que vai à contramão da proposta de filosofia Hedonista da Antiga Grécia, que visava o prazer momentâneo sem se preocupar com o futuro, como você interpreta então essa expressão popular: “tempos difíceis, criam pessoas fortes!”?
Vivemos na era digital, que vem criando pessoas “mal acostumadas” em obter respostas prontas a um clique no celular ou notebook, eu sou da época que era necessário ir a bibliotecas para se obter a informação que eu precisava, atualmente não é preciso sequer sair da cama tendo o celular e a internet a seu alcance, na palma da mão e terá não uma, mas várias respostas através de vários links que nos serão apresentados na tela. Essa facilidade da era digital vem criando pessoas mais frágeis, inclusive com o lado emocional mais vulnerável? O sociólogo polonês Bauman já expressava defendendo sua teoria de que vivemos em uma era líquida, uma era em que nada foi feito para durar, escorregadia, frágil, delicada, não sendo mais aquela geração raiz, que sabia lidar com as “pancadas que a vida nos dava”, estaria Bauman certo em sua teoria? Vivemos na era do mi-mi-mi, da chamada “geração Nutella”?
É importante se manter equilibrado e não se desesperar quando a adversidade “bater a sua porta”, não lhe deixando ansioso, muito menos lhe tirando o sono, sugiro calma, respire fundo, enxergue possíveis soluções, e não se apresse em reagir, há tempo para tudo, inclusive para se planejar e calcular quais serão as tomadas de decisão nessa reação, já pensando nos mais diversos resultados que cada escolha a ser feita lhe acarretará. Use os tempos difíceis para se tornar uma pessoa forte!
E termino lhe perguntando a sua definição para o chamado “tempo difícil”, seria ele relativo sendo difícil para um e natural para outro ou haveria uma universalidade, uma padronização do mesmo? Fica a reflexão e a oportunidade de empatia se colocando no lugar do outro que hoje sofre com dores no corpo e na alma, perdidos mediante os problemas advindos dos tempos difíceis… Que tal estender a mão sempre que lhe parecer possível ajudar, burlando assim as regras da prova que até então era individual?! Reflita.
Thiago Pontes Thiago Pontes é Filósofo, Psicanalista e Neurolinguísta (PNL) – Instagram @institutopontes_oficial