Você já esteve diante de alguém que falava e, sem que percebesse, se pegou completamente envolvido pela conversa? Não era apenas o conteúdo. Era a presença. Algo no olhar, na forma de respirar, na pausa entre as palavras, na maneira como aquela pessoa estava ali, com você. Presença é isso: quando o outro está inteiro no momento.
E esse é, talvez, o ingrediente mais poderoso e mais esquecido na comunicação de quem deseja ser ouvido de verdade.
Falo isso porque vivi de perto, mais de uma vez, a transformação que essa presença gera. Recentemente, acompanhei duas apresentações feitas por um CEO que me procurou justamente por medo de falar em público. Um homem admirável: técnico, respeitado, experiente. Mas, como acontece com muitos líderes, travava diante do palco. Tinha medo de esquecer o que dizer, medo de parecer vulnerável, medo de errar. Na primeira apresentação, trabalhamos apenas isso: não evitar o medo, mas estar com ele. Encará-lo. Ele subiu ao palco nervoso, sim, mas inteiro. Entregue. Falou com emoção. Errou tecnicamente? Sim. Virou de costas, acelerou demais em alguns momentos, esqueceu partes do roteiro. Mas nada disso importou. Ele estava lá, de corpo e alma. E isso foi sentido. O público, ao final, levantou para aplaudir. Não a perfeição, mas a verdade.
Dias depois, veio a segunda apresentação. A expectativa era maior. Ele estava mais confiante tecnicamente, mas também mais preocupado. Queria fazer tudo certo. Evitar qualquer desvio do script. E aí aconteceu o que muitas vezes acontece: ao tentar controlar demais, ele se desconectou. Em um dado momento, travou. Parou, sorriu sem jeito e disse: “Esqueci o que ia dizer.” A plateia riu, com carinho, mas algo já havia se perdido. Ele retomou, seguiu em frente, mas o brilho daquele primeiro momento não voltou. Porque, no fundo, o que sustenta a comunicação não é o controle. É a presença. Quando ela se vai, a ponte entre você e o outro enfraquece.
É importante dizer: estar presente não é o mesmo que estar no palco. Estar presente é estar no agora. Sua mente, sua atenção, sua escuta, sua intenção. Todas voltadas para o momento da fala. A presença acontece quando você deixa de tentar parecer e começa a simplesmente ser.
Muitos líderes se perdem tentando lembrar cada vírgula do roteiro, corrigindo cada gesto, antecipando reações. E nesse esforço de perfeição, deixam de estar. A mente se projeta para o futuro — será que estou indo bem? — ou se agarra ao passado — na última vez, eu errei. Enquanto isso, a audiência sente. Sente quando você sai de cena, mesmo que ainda esteja ali fisicamente. A comunicação exige presença. É nela que a conexão nasce.
Existe um segredo pouco falado, mas essencial: quando você está focado e presente, sua comunicação flui com mais naturalidade. O cérebro trabalha a seu favor, organiza as ideias, encontra palavras. A emoção dá cor ao conteúdo, a pausa ganha propósito, o olhar encontra o outro com verdade. Foi isso que aconteceu com aquele CEO na sua primeira apresentação. Ele não estava tecnicamente impecável, mas estava verdadeiro. E o público reconhece essa verdade. O que nos toca não é a oratória perfeita. É a fala viva. A fala que vibra porque tem alguém ali, sentindo o que diz. Na segunda vez, mesmo com todos os cuidados, o excesso de controle roubou esse brilho. A técnica tomou o lugar da entrega. E a fala perdeu força.
Mas aqui vem a boa notícia, e ela é boa mesmo: presença se treina. Como quem aprende a tocar um instrumento ou a fortalecer um músculo. Comece pequeno. Respire. Preste atenção em como você está agora. Perceba seu corpo, sua atenção. E, sempre que a mente fugir, porque ela vai, traga-a de volta. Isso já é um treino. Um gesto simples que, feito com constância, muda a sua relação com a fala, com o outro, com você. Quando você treina a presença, sua voz muda. Ganha peso, leveza e verdade. E as palavras, mesmo as mais simples, chegam mais longe.
No fim das contas, é a presença que transforma a técnica em impacto. É ela que dá vida à fala, que desperta empatia, que torna sua comunicação inesquecível. Falar com presença é mais do que usar técnicas de oratória. É alinhar intenção, emoção e atenção em uma mesma frequência. É ser inteiro no agora. E esse, meu caro leitor, é um passo essencial na jornada de quem deseja ser escutado com o coração.
Agora te deixo um convite simples e potente: nas suas conversas mais importantes, nas falas que realmente contam… você tem estado presente?
Cecília Lima é fonoaudióloga, especialista em Oratória e Comunicação para Líderes. Há 20 anos, dedica-se a guiar líderes a colocarem suas ideias com confiança, clareza e assertividade, conquistando a influência que precisam para crescerem na carreira e na vida. Conheça:@cecilialimaoratoria











