Você já tentou falar com alguém que estava olhando para o celular? Ou fazer uma apresentação importante enquanto percebia que parte do público respondia mensagens, organizava tarefas mentais ou apenas fingia atenção? Essa é a realidade que enfrentamos. Vivemos em um tempo onde quase tudo concorre com a nossa voz. Vibrações no bolso, alertas de e-mail, redes sociais chamativas, prazos apertados, reuniões em sequência. O espaço para escuta verdadeira se tornou um artigo raro. E justamente por isso, para quem lidera, conquistar a atenção do outro se transformou em algo precioso.
A verdade é que, hoje, não basta falar bem. É preciso conquistar e sustentar a atenção de quem ouve. E isso exige mais do que técnica: exige intenção. Tornar sua mensagem memorável, útil e relevante não é mais um diferencial. É um requisito para ser escutado de verdade. Esse é o terceiro pilar de uma oratória bem-sucedida. E, ainda assim, é um dos mais negligenciados por muitos líderes. Porque falar o que sabe é fácil. Difícil é dizer o que o outro precisa ouvir — da forma como ele consegue absorver.
Um erro comum é começar com a informação, mas sem conexão. Vejo isso acontecer com frequência: líderes que dominam o conteúdo, têm segurança técnica, mas falam de maneira excessivamente impessoal. Querem informar, mas não envolvem. Querem apresentar resultados, mas esquecem de contextualizar, de criar pontes com a realidade de quem escuta.
Imagine, por exemplo, um gerente apresentando os resultados do trimestre e dizendo: “Concluímos 86% dos projetos dentro do prazo, com um índice de retrabalho de 4,2%. Além disso, tivemos um aumento de cinco pontos na satisfação dos nossos clientes internos.” A frase é correta. Mas soa distante, mecânica. Agora, veja o impacto quando essa mesma informação vem acompanhada de intenção: “Nos últimos três meses, nosso time enfrentou prazos curtos, mudanças inesperadas e entregas simultâneas. Ainda assim, conseguimos concluir 86% dos projetos no prazo, e isso só foi possível pelo comprometimento real da equipe. Reduzimos o retrabalho para 4,2%, o menor índice dos últimos dois anos. E os clientes internos? Deram o retorno que mais importa: subimos cinco pontos no índice de satisfação. Isso nos mostra que estamos construindo resultados — com consistência e com propósito.” A mesma mensagem, mas agora com calor, com enredo, com emoção.
Para capturar a atenção, sua fala precisa ter três qualidades fundamentais: ela precisa conectar, tocar e servir. Em outras palavras, precisa envolver o outro emocionalmente, fazer sentido na prática e ser útil para quem ouve.
E para isso, há recursos simples e eficazes que podem transformar o impacto da sua comunicação. Contar histórias, por exemplo, é um dos mais poderosos. Histórias criam imagens mentais, despertam empatia e ajudam o outro a se ver naquilo que está sendo dito. Elas transformam dados frios em experiências vívidas. Outro recurso é o uso de metáforas e analogias. Quando você compara algo complexo com algo familiar, a compreensão se torna mais leve, mais visual, mais próxima. Também vale usar números, pesquisas, estatísticas — mas com moderação.
Dados, sozinhos, não convencem. Eles ganham força quando alinhados com contexto e emoção. E, acima de tudo, mostre claramente o benefício daquilo que está sendo dito. Por que essa mensagem importa? O que o outro leva consigo depois de te ouvir? Além disso, mantenha sua curiosidade viva. Busque referências fora da sua bolha. Quanto mais diverso for o seu repertório, mais criativa será sua fala.
No mundo corporativo, as pessoas não estão saturadas de informação. Estão saturadas de discursos que não as tocam. E um líder que deseja realmente impactar precisa ir além da entrega técnica. Precisa despertar atenção.
Um exemplo simples: um líder de área técnica vai apresentar uma mudança de sistema para o board executivo. Ele poderia começar dizendo: “Estamos migrando o sistema legado para uma nova arquitetura em cloud com ganhos em escalabilidade e segurança.” Claro, direto. Mas pouco envolvente. Agora veja como essa mesma mensagem pode gerar mais atenção: “Nosso objetivo, com essa transição tecnológica, é que a empresa ganhe agilidade, proteção e inteligência de dados para tomar decisões mais estratégicas em menos tempo. Essa transformação que parece apenas técnica, na prática, vai nos livrar de processos lentos e garantir mais velocidade para o negócio em 2024.” O foco muda da explicação para o impacto. E é aí que a atenção nasce. O segredo está em saber traduzir o conteúdo técnico para a linguagem do valor. Quando você mostra como sua mensagem melhora a vida de quem escuta, ela ganha força.
Capturar a atenção é um gesto de empatia. É você sair do centro do discurso e colocar o outro no foco. É falar com generosidade intelectual.
A pergunta que deve te guiar não é: “O que eu quero dizer?” Mas sim: “O que o outro precisa ouvir?” E isso exige escuta, sensibilidade e intenção. Exige que você transforme conhecimento em significado.
E você, tem dito o que o outro precisa ouvir, ou apenas o que quer falar?
Cecília Lima é fonoaudióloga, especialista em Oratória e Comunicação para Líderes. Há 20 anos, dedica-se a guiar líderes a colocarem suas ideias com confiança, clareza e assertividade, conquistando a influência que precisam para crescerem na carreira e na vida. Conheça:@cecilialimaoratoria











