O Julho Amarelo é dedicado à conscientização sobre a importância da prevenção e tratamento das hepatites virais, que são infecções que atingem o fígado e podem causar alterações leves, moderadas ou graves. Na maioria das vezes, são infecções silenciosas e não apresentam sintomas. A melhor maneira de prevenir e combater as doenças é a vacinação, testes para detectar a presença da hepatite e, se for o caso, tratamentos que são eficientes e estão disponíveis no SUS.
Em Campinas, os centros de saúde oferecem vacinas, exames e tratamentos eficientes para prevenir e combater as infecções, que podem evoluir para quadros graves, como cirrose e câncer no fígado.
As hepatites A, B e C são as infecções virais mais comuns e são diferentes em suas causas, formas de transmissão e evolução.
A hepatite A geralmente é aguda, na maioria das vezes não apresenta sintomas graves e costuma ser uma infecção com recuperação completa em algumas semanas. No entanto, em casos raros, especialmente em adultos e idosos, pode evoluir para formas mais graves.
A hepatite B pode se tornar crônica e levar a complicações graves, como cirrose e câncer de fígado.
A hepatite C também pode se tornar crônica e aumentar o risco de doenças hepáticas graves.
Casos em Campinas
Em Campinas, em 2022 foram confirmados 28 casos, enquanto que em 2023 foram 117. Em 2024 foram registrados 119 casos e este ano (até 30 de junho), 45.
Já os casos de hepatite B somaram 47 em 2022. Em 2023 foram 38 casos. Em 2024, 62 e em 2025, até o dia 30 de junho, 28 casos.
Os casos de hepatite C vêm sofrendo uma queda gradual, com 171 em 2022 e 162 em 2023. Em 2024 caíram para 105 e no primeiro semestre de 2025 somaram 66.
Os dados são do Departamento de HIV/AIDS, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (DATHI) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), ambos do Ministério da Saúde.
Hepatite A
A transmissão da hepatite A é fecal-oral e acontece com a ingestão de água ou alimentos contaminados, porque o indivíduo elimina o vírus da doença nas fezes.
Segundo Aline Vigani, infectologista do Hospital Mário Gatti, este tipo de doença era muito comum em crianças na década de 60 e 70 por conta das más condições sanitárias.
Muitos casos são assintomáticos. Quando presentes, os sintomas incluem febre, cansaço, dores abdominais, náuseas, vômitos, urina escura, fezes claras e icterícia (pele e olhos amarelados). Geralmente é uma doença aguda, com recuperação completa em algumas semanas ou meses. Raramente se torna crônica.
Com o passar dos anos houve uma melhora significativa na área de saneamento básico no país, somado à introdução da vacina contra a hepatite A no Calendário Nacional de Vacinação do SUS em 2014. Por isso, houve uma queda drástica no número de casos em crianças. A vacina é direcionada para pessoas de 12 a 23 meses em dose única e está disponível nos 69 centros de saúde de Campinas.
“Hoje, a transmissão da hepatite A está se deslocando para a faixa etária de adultos jovens em diante. A doença potencialmente pode ser mais grave quando acomete as faixas etárias mais avançadas, como os idosos. É raro, uma probabilidade de menos de 5%, mas o tipo A pode evoluir para uma hepatite fulminante, com falência completa do fígado, com risco de óbito elevado e indicação de transplante”, explicou a infectologista.
Atualmente, os principais casos de hepatite A são pela ingestão de alimentos ou água infectados, além de transmissão por relação sexual. “Não é um vírus que a via dele seja a relação sexual, mas possivelmente, quando há contato com fezes, temos surtos de transmissão de hepatite A em HSH (Homens que fazem sexo com homens)”, explicou.
A vacina contra a hepatite A está disponível para homens que fazem sexo com homens nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e no Centro de Referência em IST, HIV/Aids e Hepatites Virais – “Dra. Silvia Brandão Bertazolli Bellucci”.
São duas doses que podem ser tomadas sem necessidade de agendamento prévio ou validação especializada, apenas com a apresentação da receita de PrEP como comprovante. Para os demais cidadãos, a vacina da hepatite A só está disponível na rede particular.
Hepatite B
Já a hepatite B é transmitida por meio do contato com sangue ou fluidos corporais infectados, como relações sexuais desprotegidas, compartilhamento de seringas e de mãe para filho durante o parto. “A grande via de transmissão desse vírus é sexual. Transmite também da gestante pro recém nascido, e nesse caso, é feita a profilaxia com a vacina imunoglobulina. Além disso, é obrigatório para toda gestante fazer sorologia de hepatite B”, afirmou a especialista.
Quando a transmissão é da mãe para o bebê, a grande maioria (90% a 95%) se torna doente crônico, porque o recém nascido não tem o sistema imunológico formado, diferente da faixa etária da adolescência em diante.
Muitos casos são assintomáticos. Os sintomas mais comuns incluem fadiga, perda de apetite, náuseas, vômitos, dores abdominais, febre baixa e icterícia. Caso a hepatite B se torne crônica, a longo prazo ela pode levar a quadros graves de cirrose e câncer de fígado. Por isso, realizar testes e exames que estão disponíveis nos centros de saúde são fundamentais para detectar a doença e iniciar o tratamento, antes que evolua para quadros mais graves.
Os tratamentos são eficazes e essenciais para controlar a replicação viral e reduzir o risco de complicações como cirrose e câncer de fígado, e estão disponíveis no SUS – no Centro de Referência em IST, HIV/Aids e Hepatites Virais – “Dra. Silvia Brandão Bertazolli Bellucci”, que oferece, além do teste rápido (de 15 a 30 minutos), tratamento e acompanhamento ambulatorial com médicos especialistas.
Outros locais que tratam pelo SUS a hepatite B em Campinas são a Unicamp e o hospital da PUC. A prevenção, por meio da vacinação, é fundamental para evitar a infecção e é disponibilizada nos centros de saúde para todas as faixas etárias. Uso de preservativo também faz parte das ações preventivas.
“A hepatite B não tem cura, mas existe o tratamento que impede a progressão da doença para uma cirrose. Por isso é importante que seja feito o exame para detectar a infecção e consequentemente o tratamento, que é oferecido pelo SUS e é um dos melhores do mundo”, explicou Aline Vigani.
Hepatite C
A transmissão da hepatite C acontece por meio do contato com sangue contaminado, principalmente por meio do compartilhamento de seringas e materiais cortantes não esterilizados. A maioria dos casos é assintomático, mas, quando existem, os sintomas podem ser semelhantes aos da hepatite B, como fadiga, dores musculares e articulares, náuseas e desconforto no lado direito do abdômen. A hepatite C tende a se tornar crônica, com risco de cirrose e câncer de fígado.
Segundo a infectologista, o vírus foi identificado em 1989. Os bancos de sangue começaram a fazer triagem para esse vírus para checar se a bolsa estava contaminada a partir de 1992. “Então tivemos muitos casos de gente que adquiriu esse vírus por transfusão antes dessa data. Além disso, era comum o uso de agulha reutilizada nas décadas de 70, 80 e 90. Então, 80% das pessoas que têm hepatite C no Brasil nasceram entre 1945 e 1975”, disse a médica. De 80% a 85% dos casos de hepatite C evoluem para se tornarem crônicos.
“A grande maioria dos casos de hepatite C cronificam e ficam durante anos totalmente assintomáticos. Na hora que os sintomas começam a aparecer, o quadro de saúde já é grave. Portanto, é importantíssimo fazer a sorologia, o teste rápido para investigar a presença da infecção”, ressaltou a especialista.
A boa notícia é que, se tratada, a hepatite C tem uma taxa de cura de 90% a 95% dos casos. O tratamento, eficiente e disponibilizado pelo SUS, dura três meses com a ingestão de um a dois comprimidos por dia. A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem como meta a eliminação da hepatite C até 2030.
Centro de Referência
Além dos centros de saúde, o Centro de Referência em IST, HIV/Aids e Hepatites Virais – “Dra. Silvia Brandão Bertazolli Bellucci”, oferece o teste rápido e outros exames, além de tratamento e acompanhamento ambulatorial com médicos especialistas para as hepatites B e C.
Outros locais que tratam pelo SUS a hepatite B e C crônica em Campinas são a Unicamp e o hospital da PUC. As hepatites podem ser diagnosticadas por meio de testes nas UBS ou em hospitais.











