A primeira onda do SuperAção SP, programa do Governo do Estado de São Paulo executado pela Secretaria de Desenvolvimento Social que busca contribuir para romper o ciclo da pobreza em território paulista, começa a ser implementada nesta segunda-feira (29) na Região Metropolitana de Campinas. Nesta fase inicial, Campinas e Paulínia serão as primeiras cidades a receber a iniciativa.
Na metrópole sede da RMC, 50 agentes acompanharão 4.355 famílias em situação de vulnerabilidade social; em Paulínia, três agentes atenderão 300 famílias. Além do acompanhamento, o programa prevê auxílios mensais e incentivos financeiros para estimular a participação das famílias e o cumprimento das metas.
Em entrevista exclusiva ao Hora Campinas, a secretária estadual de Desenvolvimento Social, Andrezza Rosalém, explica que a escolha da região considerou o perfil socioeconômico. Segundo ela, metade dos beneficiários do Bolsa Família no estado está concentrada em cerca de 50 cidades com PIB elevado e mercado de trabalho robusto.
“São municípios ricos, mas desiguais, que têm capacidade de absorção dessas famílias no mercado de trabalho. Campinas se enquadra exatamente nesse perfil”, afirma.
O SuperAção tem investimento inicial de R$ 500 milhões para sua operacionalização e cofinanciamento de R$ 110 milhões aos 48 municípios da primeira onda. Campinas receberá R$ 4,9 milhões e Paulínia, R$ 2,3 milhões.
Rosalém explica que o cofinanciamento foi ampliado em 50% para reforçar CRAS, CREAS e centros de convivência, permitindo que os municípios estruturem suas redes de atendimento. Além dos dois municípios da região, Barueri, Cabreúva, Embu das Artes, Itaquaquecetuba, São Roque e São Vicente também recebem a iniciativa.
Segundo a secretária, o SuperAção se conecta a programas já existentes, como o Bolsa Família e o recém-lançado Próximo Passo, da Prefeitura de Campinas. “Não há sobreposição, há soma de esforços. Se o município já tem programas de geração de renda, vamos potencializar. A lógica é partir das necessidades da família e buscar no ‘cardápio’ de programas aquilo que melhor a atenda”, afirma.
De acordo com a Secretaria Municipal de Assistência Social, Campinas reduziu em 18% o número de famílias em situação de pobreza nos últimos dois anos, caindo de 66,5 mil em 2023 para 54,4 mil em 2025.
O programa municipal Renda Campinas atendeu 42,6 mil famílias, com mais de 27 mil desligadas após superarem a vulnerabilidade. Dados do Ministério do Desenvolvimento Social apontam que, até agosto, 52.946 famílias ainda recebem o Bolsa Família na cidade.
Rosalém explica que o atendimento nesta fase será destinado a cerca de 10% das famílias elegíveis, com novas inclusões à medida que as primeiras concluam etapas da trilha. “Essas famílias vão percorrendo a jornada, e outras vão entrando. É um processo contínuo, desenhado para ser implementado em ondas”, explica.

Como funciona o programa
O SuperAção SP combina proteção social, qualificação e inclusão produtiva em uma jornada de até dois anos, seguida de monitoramento por mais seis meses. Podem participar famílias inscritas no Cadastro Único (CadÚnico), com registro atualizado nos últimos 24 meses e renda per capita inferior a meio salário mínimo (R$ 759 em 2025), sem considerar outros auxílios sociais.
A busca ativa será feita pelos agentes do programa, para que as famílias não precisem se deslocar até as unidades de assistência.
O programa é dividido em duas trilhas. A Trilha de Proteção Social é voltada a famílias em situação de maior vulnerabilidade, como aquelas sem adultos em idade ativa, dependentes de cuidados ou em situação de rua. Elas são atendidas por meio dos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) do município e serviços como o Paif (Proteção e Atendimento Integral à Família) e o SCFV (Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos). Essas famílias podem receber o Auxílio de Proteção Social, pago mensalmente por até 24 meses, no valor de R$ 150,33 por pessoa.
Já a Trilha de Superação da Pobreza é voltada a famílias com potencial de inclusão no mercado de trabalho.
O atendimento começa com duas visitas domiciliares para diagnóstico das vulnerabilidades e potencialidades de cada núcleo familiar. A partir desse levantamento, é elaborado o Plano de Desenvolvimento Familiar (PDF), que estabelece metas de curto, médio e longo prazo voltadas à capacitação, formação e inclusão no mundo do trabalho. Cada agente acompanhará até 20 famílias, com visitas semanais nos dois primeiros meses e, depois, quinzenais ou mensais, conforme a evolução de cada caso.
A modalidade também inclui incentivos financeiros para cada etapa cumprida: R$ 200 ao fim do primeiro mês de atendimento, R$ 1.200 em duas parcelas para viabilizar a participação em cursos presenciais, R$ 600 para membros da família que completarem um curso previsto no seu plano de desenvolvimento e um bônus final de até um salário mínimo paulista para quem concluir os três módulos — Proteger, Desenvolver e Incluir – proposto pelo programa como solução para as famílias alcançarem a autonomia.
Formação e parcerias
O módulo de desenvolvimento inclui trilhas de formação técnica e apoio ao empreendedorismo. Os cursos serão definidos a partir do perfil de cada família para garantir aderência às demandas do mercado de trabalho. “Se a família quiser atuar na área de mecânica ou gastronomia, haverá cursos técnicos voltados a essas áreas. Também vamos preparar para o emprego formal, ajudando na elaboração de currículo, intermediação de mão de obra e conexão com vagas. Para quem optar pelo empreendedorismo, haverá apoio para desenvolver plano de negócios, precificação e captação de recursos”, diz Rosalém.
O programa já tem parcerias com Sebrae, Fiesp, a plataforma Trampolim — que reúne vagas de emprego e cursos — e secretarias estaduais de Cultura e Desenvolvimento Econômico.
Está prevista ainda articulação com o empresariado local, associações comerciais e cooperativas para criar pontes entre a formação das famílias e as vagas disponíveis. “Se a gente quer ter inclusão produtiva, a gente precisa dialogar com quem gera emprego”, reforça a secretária.
Origem do programa
Rosalém explicou que o SuperAção SP foi construído a partir de estudos sobre programas nacionais e internacionais, como o Puente–Chile Solidário e o Bolsa Família, do Governo Federal. Ela ressaltou que o projeto também se baseia nos conceitos do economista Ricardo Paes de Barros — um dos idealizadores do Bolsa Família no primeiro governo Lula, que também participou de iniciativas nas gestões Michel Temer e Jair Bolsonaro — e que defende, no estudo Diretrizes para o desenho de uma política para a superação da pobreza (citado pela secretária como uma das inspirações do programa), que a superação da pobreza só é efetiva quando acompanhada de geração de renda autônoma.
“Não que a transferência de renda não seja importante e necessária, mas temos que dar um passo para além dela e olhar essas famílias de uma forma mais integral”, ponderou.
Para Rosalém, o que diferencia o SuperAção de outras iniciativas é justamente essa abordagem integrada. “Antes de promover a inclusão produtiva, precisamos garantir proteção social. A família precisa ter acesso a benefícios, educação, saúde, habitação e outros direitos básicos. Só assim ela estará pronta para avançar para capacitação e geração de renda.”
Segundo a secretária, esse foi o ponto de partida para a criação do programa paulista. Ela diz que a equipe analisou mais de 29 experiências no Brasil e no Exterior, trouxe especialistas do Chile e dialogou com o J-PAL, uma das principais instituições de avaliação de impacto do mundo, para construir uma política pública conectada à economia paulista.











