A Unicamp planeja para o início do próximo ano, durante a Calourada, a exposição dos objetos encontrados na primeira e na segunda etapas das escavações realizadas no antigo prédio do DOI-Codi, em São Paulo. Entre os itens encontrados estão uma prótese dentária, um frasco de colírio com o conta-gotas, um conjunto de botões e uma moeda com o rosto de Getúlio Vargas.
São memórias da repressão descobertas no Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna, que funcionava na Rua Tutóia, 921, atual sede da 36ª Delegacia de Polícia Civil da capital paulista. O local se tornou, entre os anos de 1969 e 1983, um dos principais centros de tortura e repressão do regime militar.
Escavações foram realizadas por equipes de arqueologia da Unicamp, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A primeira etapa das escavações ocorreu em 2023 e a outra, entre os dias 27 de outubro e 8 de novembro deste ano.
“São materiais do cotidiano, como louças, cinzeiros, peças médicas, mas são itens emblemáticos, que virão para o Laboratório de Arqueologia da Unicamp. Nosso objetivo é construir um acervo arqueológico para um futuro espaço de memória voltado às discussões sobre estado de direito e da própria democracia”, conta a professora Aline Carvalho, coordenadora do Laboratório de Arqueologia Pública “Paulo Duarte” (LAP), vinculado ao Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) da Unicamp.
Estes materiais são oriundos da escavação no espaço chamado de trincheira, na entrada do edifício, onde ocorriam grande parte dos interrogatórios e torturas e onde foi feita a foto que simula o suicídio de Vladimir Herzog, até o momento única imagem interna do edifício durante o funcionamento do DOI-Codi, onde quase 7 mil pessoas foram interrogadas e torturadas.
A exposição que o LAP está organizando na Unicamp será montada na Biblioteca de Obras Raras “Fausto Castilho” (Bora). “A Unicamp tem sido uma defensora muito aguerrida dos trabalhos relacionados ao tema. Tanto a equipe de pesquisadores como a equipe administrativa da Universidade entendem que os saberes se constroem de forma dialogada, ativa com a sociedade, e a Unicamp tem mostrado capacidade de estar presente”, define Carvalho.
História e memória
Em um “conjunto de ações de valorização do tema”, a pesquisadora destaca que a mostra da Calourada 2026 também terá documentações inéditas, provenientes dos arquivos da Faculdade de Medicina (FCM) e do Arquivo Edgard Leuenroth (AEL). “A ideia é pensar no papel que a Unicamp exerceu durante a ditadura, na figura dúbia do Zeferino Vaz [primeiro reitor da Unicamp], que, por um lado, negociava com os militares, mas, por outro lado, protegia a Universidade da repressão e ajudou professores e estudantes perseguidos”, conta.
“Nesta relação entre passado, presente e futuro, nosso objetivo é não deixar a memória se perder. O passado é o que aconteceu, no presente temos as ações, que servem de exemplo para aqueles que veem algo de positivo na ditadura, que dizem que não houve violência. E, na relação com o futuro, que é muito delicada, está o desejo de tempos melhores”, ressalta a pesquisadora.
Novas escavações no local estão planejadas para até agosto de 2026. “Em um mundo ideal, precisaríamos de três a seis meses para levantar todas as áreas, mas esse projeto é custoso, então, por isso, estamos fazendo em etapas mais curtas, como se fossem degraus”, explica. (Com informações da Unicamp)











