Fiquei muito impressionado com um artigo publicado no blog da revista PLOS e resolvi, resumir e publicar parte deste conteúdo produzido pela Associação Internacional para Prevenção do Suicídio. Como todos nós sabemos, todas as nações e comunidades podem ser afetadas pelo suicídio. O Relatório de Estratégia Organizacional 2024-2028 da Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio, estima que haja pelo menos 700.000 suicídios em apenas um ano e que quase 77% deles ocorrem em países de baixa e média renda, como o Brasil.
Esse número de 700.000 é, possivelmente, uma subestimação do impacto – não apenas porque nem todos os suicídios serão relatados, mas porque para cada pessoa que morre por suicídio, famílias e comunidades inteiras são profundamente afetadas. Juntos, temos que fazer mais para reduzir o número de suicídios e isso significa criar um mundo no qual as pessoas possam pedir e acessar ajuda quando necessário, todos sejam representados e as pessoas não sejam expostas a circunstâncias que desencadeiem ou exacerbem pensamentos e ações suicidas. Isso é um pedido muito grande, mas não é impossível se todos assumirem a responsabilidade pelo mundo em que vivemos.
Todos têm um papel a desempenhar e uma das coisas que podemos fazer é manter as conversas e disseminar o trabalho sério e constante para que possamos ajudar a aumentar a conscientização, reduzir o estigma e informar as intervenções.
Como mencionado acima, quase 77% dos suicídios relatados ocorrem em países de baixa e média renda. Há muitas razões potenciais para isso e, para progredir, precisamos entendê-las e responder adequadamente, com total comprometimento. São fatoras críticos os altos níveis de estigma social, estresse financeiro, baixos níveis de apoio e uma variedade de desafios socioeconômicos. Enfrentar esses desafios exige uma abordagem abrangente e holística que não apenas aborde a saúde física e mental do indivíduo, mas também os desafios socioeconômicos subjacentes que afetam toda a comunidade.
Cada comunidade terá suas próprias necessidades e exigirá uma combinação única de abordagens. É por isso que, embora resultados generalizáveis tenham grande valor, precisamos absolutamente de estudos que se concentrem nas especificidades das comunidades. As taxas de suicídio são maiores em homens, apesar de as mulheres supostamente realizarem um número maior de tentativas. Isso pode sugerir que a janela de oportunidade para apoiar homens em crise é menor.
Os fatores de risco associados ao suicídio incluem angústia, solidão, aprisionamento, bem como os fatores de proteção que incluem autocompaixão, esperança, resiliência, apoio social e auto eficácia.
Comunicar pensamentos suicidas é extremamente difícil, e muitos que conhecem alguém que morreu tragicamente por suicídio costumam dizer que não faziam ideia de que seu ente querido estava sofrendo. Até mesmo profissionais de saúde mental às vezes não percebem os sinais. Além disso, os pensamentos suicidas são desproporcionalmente altos entre grupos marginalizados, dada a adversidade e a discriminação que enfrentam. É por isso que ser capaz de identificar todos os sinais, em todas as comunidades, não apenas em grupos marginalizados, pode salvar a vida de alguém.
Detectar quaisquer sinais que possam indicar que alguém está em risco, requer uma atenção aguçada. Apoiar pessoas que vivenciam ideação suicida pode ser emocionalmente desgastante e desencadeador, e exige que os profissionais de saúde mental deem o seu melhor. A prevenção do suicídio, portanto, também envolve apoiar aqueles que apoiam os outros – algo que muitas vezes é negligenciado. Não só precisamos garantir que os profissionais de saúde mental, e de fato todos os profissionais de saúde, estejam dando o seu melhor para a segurança dos pacientes, como também precisamos apoiá-los para sua própria segurança.
Assim, não devemos esquecer que a prevenção do suicídio também envolve apoiar aqueles que apoiam os outros — algo que muitas vezes é esquecido quando se consideram abordagens de prevenção ao suicídio. Além de garantir que os profissionais de saúde mental se sintam apoiados o suficiente para darem o seu melhor e apoiarem aqueles que precisam, o desenvolvimento e a evolução de ferramentas também podem ajudar nos esforços de prevenção do suicídio.
Em resumo, a prevenção do suicídio requer uma abordagem multifacetada que inclui a compreensão dos fatores de risco, das necessidades específicas da comunidade, dos determinantes da busca por ajuda, da desestigmatização, da otimização de recursos, do apoio a profissionais de saúde mental e do desenvolvimento de novas ferramentas que prevejam pensamentos suicidas e sirvam como intervenções em saúde mental.
Carmino Antonio De Souza é professor titular da Unicamp. Foi secretário de saúde do estado de São Paulo na década de 1990 (1993-1994) e da cidade de Campinas entre 2013 e 2020. Secretário-executivo da secretaria extraordinária de ciência, pesquisa e desenvolvimento em saúde do governo do estado de São Paulo em 2022 e atual Presidente do Conselho de Curadores da Fundação Butantan. Diretor científico da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH). Pesquisador responsável pelo CEPID-CancerThera apoiado pela FAPESP.







